Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
eremita
na Diocese de Amparo, BA
‘Ascese
é um termo grego (áskesis) que significa exercício. Especialmente o
treinamento do atleta para competir nas Olimpíadas ou do soldado convocado para
a guerra.
Ora,
os cristãos adotaram essa palavra para designar os exercícios ou práticas de
autodomínio a fim de estarem ‘em forma’ nas horas de combate contra as
provações que nos atacam cotidianamente. Essa ascese pode ser ativa (subdividida
em negativa e positiva) ou passiva,
conforme veremos neste artigo.
É ativa quando
o cristão faz, por vontade própria, seu exercício movido pela graça de Deus.
Será positiva sempre que o fiel se dedicar a um trabalho
complexo como visitar doentes incuráveis ou portadores de moléstias
contagiosas, atender a menores infratores, visitar presídios etc. Será negativa sempre
que a pessoa ascética deixa de fazer algo que muito lhe agrada tal como seria
para alguns tomar um delicioso sorvete, assistir a um filme, fazer uma viagem
etc.
É passiva quando
a pessoa não procura a penitência ou a cruz, mas esta vem até ela pelas
circunstâncias diversas da vida e é aceita com resignação, sem, no entanto,
deixar, se for o caso, de buscar os meios legítimos para se livrar do revés
(doença, questões judiciais, perseguições no emprego etc.).
Como
enunciamos, contudo, a ascese ativa se subdivide em negativa e positiva.
A negativa leva o fiel a se esforçar para remover todos os
obstáculos que o impeçam de rumar à perfeição e ao crescimento do amor a Deus e
ao próximo. Com esses exercícios levados a sério, a pessoa é capaz de dizer ‘sim’
ou ‘não’ de modo livre e decidido quando as circunstâncias o exigirem,
independentemente do que a maioria acha. Aqui entram o jejum de alimentos que
deem prazer, a aceitação voluntária da perseguição sofrida, a humilhação
injusta dos superiores ou encarregados etc.
Já
a ascese positiva consiste em exercer atividades que levem ao
crescimento do amor a Deus e ao próximo e à prática das demais virtudes dando
especial atenção àquela virtude que a pessoa mais precisa (se é grosseira ou
ríspida, pedirá a mansidão; se orgulhosa, suplicará a humildade; se negligente,
rezará para obter a diligência etc.). Mesmo o esforço por rezar continuamente e
sem distrações pode ser um grande exercício de ascese a quem tem dificuldade
com algo metódico que leve ao conhecimento de Deus como é a Missa, o terço, a
via-sacra, por exemplo.
Óbvio
é que a ascese positiva complementa a negativa,
visto que a vida cristã não é feita apenas do ‘não’, ainda que este seja
necessário, mas do ‘sim’ dado a Deus rumo à santidade. Daí a abstinência (de
carne, de programas de TV, de leituras etc.) não ter a última palavra na vida
cristã. Ela deve ser, antes de tudo, a preparação para se libertar das amarras
deste mundo a fim de se obter maior intimidade com o Pai do céu.
Em
outras palavras : na medida em que nos penitenciamos, vamos fazendo morrer em
nós o velho homem, Adão, a fim de que possa viver o novo homem, Cristo, cuja
plena estatura somos chamados a atingir (cf. Ef 4,13).
Por
fim, resta entender uma importante verdade : se é lícito (e é) batalhar pela
conquista de troféus nas competições deste mundo, muito mais importante é a
batalha pelos bens eternos, conforme nos assegura o grande Apóstolo São Paulo :
‘Os atletas abstêm-se de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós,
porém, para ganhar uma coroa imperecível’ (1Cor 9,25).
Possam
as reflexões acima levar-nos ao reforço da prática da ascese na vida do dia a dia, com a graça de Deus.
Para
aprofundamento : E. Bettencourt. Curso de Espiritualidade. Rio de
Janeiro: Mater Ecclesiae, 2006, p. 37-69.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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