Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Mathilde de Robien
‘Longe da imagem que
alguns fizeram de Bento XVI – a de um teólogo desligado das realidades da vida
-, ele teve, sim, uma percepção muito clara das dificuldades que todos
encontram ao viver diariamente na presença de Deus.
Em
uma homilia do Advento em 2009, ele observou : ‘Na existência
cotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e
pouco tempo também para nós. Terminamos por ser absorvidos pelo ‘fazer'‘.
Quem
já não viveu períodos em que o número de coisas que temos de fazer nos
sobrecarrega tanto, que já não temos tempo nem disponibilidade de espírito para
o que é verdadeiramente essencial?
O
que é essencial?
Para
Bento XVI, essencial é o nosso encontro com Cristo.
‘Ao
início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte
e, desta forma, o rumo decisivo’, escreveu Bento XVI na sua primeira
encíclica, Deus caritas est.
A
fé é, antes de tudo, uma relação, um encontro com Deus. A nova direção
decisiva é tornar-se santo. E a forma como avançamos no caminho da
santidade é viver regularmente com Cristo, deixando-nos envolver pelo seu amor.
Para
que nos tornemos amigos de Deus, Bento XVI recomenda alguns hábitos bastante
acessíveis e fáceis de praticar.
1.
Tenha contato com Deus duas vezes ao dia
Todo
relacionamento morre se não for mantido. Isso é verdade para casais,
famílias e amigos, mas também no que diz respeito ao relacionamento com o
Senhor. É por isso que Bento XVI disse : ‘Nunca começar nem
terminar um dia sem, pelo menos, um breve contato com Deus’. Não precisa ser,
necessariamente, uma oração, mas um pensamento, um gesto, uma palavra de elogio
ou gratidão, no início e no fim do dia.
2.
Todas as manhãs, agradeça ao Senhor pelo dom
da fé
Em
sua última audiência geral, em 27 de fevereiro de 2013, Bento XVI
compartilhou uma bela e curta oração e incentivou-nos a recitá-la
diariamente pela manhã, a fim de expressarmos o amor ao Senhor e agradecê-lo
pelo dom da fé. Eis a oração em questão : ‘Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos
amo com todo o coração. Agradeço-Vos por me terdes criado, feito cristão’.
Para
Bento XVI, o dom da fé é ‘o nosso bem mais precioso, que ninguém nos pode tirar!’
3.
Todos os dias, encontre uma oportunidade
para se alegrar
‘Um
desejo de alegria espreita no coração de cada homem e mulher’, disse Bento XVI
na 27ª Jornada Mundial da Juventude de 2012. ‘Além das satisfações
imediatas e passageiras, o nosso coração procura a alegria profunda, total e
duradoura, que possa dar ‘sabor’ à existência’, disse Bento XVI. Ele ainda
acrescentou :
‘E
todos os dias são tantas as alegrias simples que o Senhor nos oferece : a
alegria de viver, a alegria face à beleza da natureza, a alegria de um trabalho
bem feito, a alegria do serviço, a alegria do amor sincero e puro. E se
olharmos com atenção, existem muitos outros motivos de alegria : os bons
momentos da vida familiar, a amizade partilhada, a descoberta das próprias
capacidades pessoais e a consecução de bons resultados, o apreço da parte dos
outros, a possibilidade de se expressar e de se sentir compreendidos, a
sensação de ser úteis ao próximo.’
4.
Todos os dias, observe um sinal de Deus
’Os
acontecimentos individuais do dia são indícios que Deus nos dá, sinais da
atenção que Ele tem por cada um de nós. Quantas vezes Deus nos dá um
vislumbre de seu amor! Manter, por assim dizer, um ‘diário interior’ deste
amor seria uma bela e salutar tarefa para a nossa vida’, disse Bento XVI em
2009.
5.
Contemplar obras de arte
Como
músico e amante da música, Bento XVI experimentou como a beleza pode nos elevar
a Deus. Durante uma audiência geral em agosto de 2011, ele
compartilhou o quanto um concerto de Bach em Munique o havia tocado : ‘No
final da última peça, uma das Cantatas, senti, não por raciocínio mas no
profundo do coração, que quanto eu ouvira me tinha transmitido a verdade, a
verdade do sumo compositor, impelindo-me a dar graças a Deus’.
‘As
cidades e os povoados do mundo inteiro encerram tesouros de arte que exprimem a
fé e nos exortam à relação com Deus. Então, a visita aos lugares de arte não
seja apenas uma ocasião de enriquecimento cultural — também isto — mas possa
tornar-se sobretudo um momento de graça, de estímulo para refortalecer o nosso
vínculo e o nosso diálogo com o Senhor’, concluiu o Papa.
6.
Aproveitar os momentos engraçados da vida
Numa
entrevista antes da viagem apostólica à Baviera, em setembro de 2006, Bento
XVI destacou a importância de não se levar muito a sério e de saber
aproveitar as pequenas alegrias da vida : ‘Não sou um homem que se lembra
continuamente de anedotas. Mas considero muito importante saber ver o aspecto
divertido da vida e a sua dimensão alegre e não viver tudo tão tragicamente, e
diria que isto é necessário também no meu ministério. Um escritor disse que os
anjos conseguem voar porque não se consideram a si mesmos com demasiada
seriedade. E também nós talvez pudéssemos voar um pouco mais, se não déssemos
tanta importância a nós mesmos’.
7.
Invocar os santos com mais frequência
Bento
XVI tinha uma grande devoção e confiança nos santos. Na missa inaugural de
seu pontificado, em 24 de abril de 2005, confiou-se à vasta comunhão dos santos
: ‘Todos os santos de Deus estão aí para me proteger, me sustentar e me
carregar’.
Ele
convidou todos os batizados a pedirem a proteção dos santos.
8.
Reservar um tempo para o silêncio
Apesar
da correria da vida, Bento XVI nos convida a fazer tempos regulares de
silêncio, um caminho confiável para o encontro com Deus, um espaço para deixar
falar ‘alegria, preocupações, sofrimento’, um tempo essencial para discernir o
que é importante do que é inútil ou incidental.
‘Não
há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o
silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se
a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação
bíblica fala também sem palavras : ‘Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala
também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância
do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus,
Palavra Encarnada’, afirmou Bento XVI em mensagem para o 46º Dia
Mundial das Comunicações Sociais.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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