Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Rita Figueiras
‘No
âmbito do LVII Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco refere na
mensagem anual que vivemos um período da História marcado por polarizações.
Estes antagonismos, outrora evidentes apenas na política e em períodos
eleitorais, estão a galgar o cenário político e a impregnar-se na vida
quotidiana.
O
problema não está na existência de antagonismos na sociedade : as divergências
sempre foram salutares e estruturadoras da vida democrática, pelo que este
regime político nunca pretendeu extinguir o conflito. A cultura democrática
sempre se caracterizou pela capacidade de transformar inimigos em adversários
legítimos, garantindo a todos o direito de defenderem as suas ideias. Este
«pluralismo agonístico» manifesta-se, assim, através da aceitação e
complementaridade entre propostas distintas, bem como na capacidade de integrar
os embates políticos entre grupos com opiniões divergentes. Contudo, nos
últimos anos, parece ser cada vez mais difícil enquadrar a crescente
animosidade social nos princípios democráticos, assistindo-se a uma reversão
destes valores.
O
crescimento da polarização afetiva é uma das consequências. Esta caracteriza-se
pelo rancor e intolerância exacerbados em relação aos adversários,
perspectivando-os como inimigos com os quais não se consegue conviver e se
deseja eliminar. Deste modo, os valores democráticos parecem, por si só,
incapazes de conter as emoções negativas florescentes, bem como manter a
palavra, a escuta e o debate como formas de gerir conflitos sociais. Estas
transformações ajudam a explicar porque é que o espaço social está a tornar-se
uma esfera de ressentimento, raiva e intolerância.
O
ecossistema de comunicação atual potencia este tipo de sentimentos ao alimentar
laços negativos entre as pessoas. As tão famosas bolhas digitais, movidas a
animosidade, fomentam uma retórica fragmentária e produzem câmaras de eco. Isto
quer dizer que promovem a constituição de grupos que pensam de forma
semelhante, enquanto paulatinamente instigam a radicalização das suas ideias e,
principalmente, a intolerância contra todos os que não são exatamente iguais a
si.
Estes
desenvolvimentos políticos, sociais e digitais estão a desestabilizar
profundamente as sociedades e a contaminar as relações pessoais sem que, na
maioria das vezes, as pessoas tenham a noção de como é que elas são
transformadas por estes processos. Neste ambiente, a prática da escuta, do
diálogo e do consenso não são promovidos, antes pelo contrário : este contexto
cultiva a incivilidade e a desumanização. Todavia, se queremos algo diferente,
precisamos de agir de modo diferente. Recuperar práticas saudáveis de
comunicar não resolve os problemas profundos das nossas sociedades, mas, ainda
que não sejam uma via suficiente, são, claramente, uma via necessária : uma
comunicação cordial, aberta e acolhedora é uma componente estruturante do que
se chama cimento social e este é imprescindível para transformarmos trincheiras
em pontes.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/960/de-trincheiras-a-pontes/
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