Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Hoje começo….’ respondeu um
antigo padre do deserto a quem lhe perguntava qual fosse seu empenho depois de
quarenta anos de vida monástica na solidão. Diante da surpresa, lhe pergunta o
seu interlocutor : Não se enjoa de repetir sempre essa frase? Se
alcançou o objetivo da vida espiritual por que repeti-la? E se não o alcançou e
seus esforços foram sem fruto por que continua repetindo-a? ’Hoje
começo’, repetia ele com simplicidade…
Nós
estamos vivendo um tempo de profundas transformações culturais, sociais,
econômicas, políticas, religiosas. Uma sociedade ‘sem lugar’ e ‘sem rumo’,
que tem com orgulho como critério a cultura e a ‘identidade liquida’, fluida,
leve (Zygmunt Bauman, Modernidade liquida). Muitas pessoas
tem perdido o sentido do próprio caminho e a orientação da própria existência.
Precisamos
aprender novamente a pensar e a pensar criticamente sobre os acontecimentos e
sobre as tantas opiniões divulgadas todos os dias no supermercado das propostas
de vida. Como o antigo monge do deserto precisamos re-ativar nossa atenção
critica, nossas iniciativas para uma vida plena, a vontade de re-iniciar a
construir a partir do nosso centro interior.
Como?
O
Concilio Vaticano II nos indicou e abriu um novo horizonte : redescobrir em
Cristo, homem novo, a capacidade de ler e julgar a realidade com os olhos de
Deus e de vivê-la com seu coração. A Conferência da Aparecida de 2007 indicou o
mesmo caminho para o Brasil e a América Latina : tornar-se discípulos
missionários em maneira nova.
É a
vocação e a missão do ‘profeta’, chamado e enviado por Deus para um olhar mais
profundo, que vai além das superfícies, uma consciência crítica das situações,
uma voz livre e que se incomoda com as convenções sociais e religiosas,
inconformada e destinada a enfrentar oposições e riscos, uma voz capaz de
indicar, voltando às raízes, novos rumos ao caminho.
Ao
delinear a identidade e a missão do povo de Deus e de cada um dos seus membros
no projeto de Deus sobre a família humana, o Concilio afirma que este povo
participa, por graça e vocação, das funções ‘sacerdotal, profética e real de
Cristo’ :
- Participação ao sacerdócio de
Cristo : O supremo e eterno sacerdote Jesus Cristo quer continuar
seu testemunho e seu serviço também através dos leigos. Vivifica-os por
isso com seu Espírito e incessantemente os impele para toda obra boa e
perfeita (LG 34).
- Participação à função profética
de Cristo : Cristo, o grande profeta que proclamou o reino do Pai
continua a exercer sua função profética até a plena manifestação da
glória. Ele o faz não só através da hierarquia, que ensina em seu nome e
com seu poder, mas também através dos leigos. Por esta razão constituiu-os
testemunhas e cumulou-os com o senso da fé e a graça da palavra (cf At
2,17-18), para que brilhe a força do evangelho na vida cotidiana, familiar
e social (LG 35).
- Participação à função de reger
e ordenar as coisas segundo o projeto de Deus : Cristo, feito
obediente até a morte e por isso exaltado pelo Pai (cf Fil 2,8-9), entrou
na gloria do seu reino A ele todas as coisas estão sujeitas, até que
submeta todas as criaturas ao Pai, para que Deus seja tudo em todos (cf I
Cor 15,27-28). Também através dos leigos o Senhor quer dilatar seu reino,
‘reino de verdade e de vida, reino de santidade e graça, reino de justiça,
amor e paz’. Por isso os fieis devem reconhecer a natureza íntima de toda
criatura, seu valor e sua ordenação ao louvor de Deus (LG 36).
A
experiência emblemática de vocação e missão profética de Isaias
Para entender a nossa missão e vocação como cristãos,
é de grande ajuda a meditação da vocação e missão do profeta Isaias.
Sua experiência pessoal é um exemplo típico de como o Senhor entra, por sua
própria iniciativa, e de repente, na vida das pessoas que escolhe, as chama
para si, e entrega a elas uma missão em seu nome, para atuar na situação do seu
tempo e, como é típico de Deus, ter ressonância em todos os tempos.
Antes,
porém, é importante conhecer alguns elementos essenciais da estrutura do livro
de Isaías, e do contexto histórico no qual se formaram suas partes, pois o
Senhor se revela atuando na história concreta dos povos e das pessoas e sua
revelação assume sempre a carne daquelas situações. É preciso tê-las presente
para respeitar a ação de Deus e o caminho que nos entrega com a sua palavra.
O
livro de Isaias, que passa sob o nome de um único autor, na realidade pertence
a três autores diferentes – como nos ensinam os exegetas – que viveram e
desenvolveram a própria missão no meio do povo de Israel entre os séculos VIII
e V a.C. São autores distintos, mas profundamente em sintonia entre si em
relação à mensagem e à espiritualidade.
O primeiro
Isaias é o profeta que dá o nome e a orientação espiritual a todo o
livro. De sua autoria com certeza são os capítulos 1-39. Ele nasce por volta de
765 a.C., recebe o chamado aos 25 anos de idade por volta do ano 740 a.C. e
atua por 40 anos até o ano 700 a.C. Uma tradição judaica afirma que ele teria
sido martirizado. É um período no qual o reino de Judá (capital Jerusalém) está
vivendo uma fase de bem estar econômico, mas com forte injustiça social,
religiosidade superficial, e nas relações exteriores se sobressai a fraqueza
política, devido à influencia contrastante dos potentes povos vizinhos :
Assíria e Egito. O rei apoia-se ora em um, ora em outro, confiando mais na
política e na astúcia militar do que em Deus, com risco de infiltrações
idolátricas na vida do povo.
Isaias
participa ativamente em todos os assuntos do seu país, muitas vezes em
contraste com o poder político e religioso e com a opinião pública. Reivindica
a exigência de confiar antes de tudo no Senhor e guardar sua aliança. O Senhor
é fiel a seu compromisso com a casa de Davi. Isaias enfrenta esta situação
social, política, religiosa, com voz lúcida, forte, critica e promissória. Ele
se revela como pessoa de grande sensibilidade humana, poética e religiosa.
Homem de Deus e homem do seu tempo!
O segundo
autor (capítulos 40-55) é chamado de Deutero/Segundo
Isaias. Sua mensagem está marcada por circunstancias históricas dramáticas. Em
597-587 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia que havia derrotado o reinado da
Assíria, ocupa e destrói Jerusalém e deporta para Babilônia muitos do povo
entre 597-538 a.C. O profeta anônimo, de quem não conhecemos as características
biográficas, oferece ao povo escravizado esperança de recuperação e
perspectivas messiânicas mais amplas. Os cap. 42, 49, 50, 52-53 contêm os
famosos ‘Cânticos do Servo Sofredor’, que o Senhor escolhe para resgatar não só
Israel, mas também os povos pagãos.
O terceiro
autor ou Trito Isaias (capítulos 56-66), destaca perspectivas de novo
início, quase um novo êxodo e uma nova criação por parte de Deus, em favor do
seu povo. Parece ter sido composto depois da volta para Jerusalém e o fim do
exílio (em 538 a.C.), e destinado a dar novo alento à reconstrução material e
espiritual do povo.
Por
que ler e proclamar Isaias em nossas liturgias e em nossas meditações?
A
relação de Deus com a humanidade é uma ‘história sempre viva’. Por isso a
experiência do profeta, e os textos que a relatam, são experiência e textos ‘vivos’,
que continuam ensinando a como viver a relação com Cristo, centro e cume desta
história de salvação, para cada geração e cada um de nós.
A
tradição cristã identifica o Servo Sofredor com Cristo : veja-se os relatos da
Paixão nos sinóticos e a leitura do profeta na liturgia da igreja. Durante o
tempo do Advento leem-se, sobretudo, os textos do primeiro e segundo Isaias, na
Quaresma e Semana Santa retoma-se os Cânticos do Servo Sofredor, enquanto na
vigília da Páscoa e no tempo pascal proclama-se os textos do terceiro
Isaias.
Este
modo de meditar o texto bíblico, revela seus significados mais profundos
escondidos no próprio texto, permitindo evolver o sentido existencial do texto
à luz do evento de Cristo, do caminho espiritual da Igreja e de cada leitor.
Santo Agostinho diz : Novum in vetere latet, Vetus in novo patet –
O Novo Testamento está escondido no Antigo, e o Antigo Testamento se
manifesta no Novo. São Gregório Magno afirma que : Scriptura cum
legente crescit – A escritura cresce com aquele que a medita continuamente. Seja
em relação ao AT como ao NT, vale o convite de São Gregório Magno : Cognesce
cor Dei in verbis Dei – Conheça o coração de Deus nas palavras de Deus!
Lucas
(4,16 -22) conta queJesus na sinagoga de Nazaré lê o texto de Isaias 61,1 -2 e
declara que se está realizando na sua pessoa e na sua missão o que o profeta
preanunciou : O Espírito do Senhor está sobre mim…enviou–me para
proclamar a libertação aos presos... (…). Enrolou o livro,
entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga olhavam-no atentos. Então
começou a dizer~lhes : Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da
escritura (Lc 4,20).
A
vocação de Isaías e de Jesus
Voltando
à narração da vocação do profeta (Is 6,1-13), como ele mesmo a transmitiu, pode-se
vislumbrar, não só os passos do seu caminho interior, quando toma consciência
do chamado que Deus lhe faz, e das exigências da missão que está recebendo, mas
também, os elementos essenciais da sua mensagem, assim como toda sua aventura
humana e espiritual. Lucas, na sua narração do nascimento de Jesus, segue o
mesmo método, reconstruindo o contexto histórico e espiritual do humílimo e
grande evento de Belém.
Destaquemos
alguns dos elementos da vocação de Isaías, seguindo o método da lectio
divina (leitura orante), que parte do sentido literal do texto e,
progressivamente, vai descobrindo o seu sentido espiritual. Diz o texto de
Isaías : No ano em que faleceu o rei Ozias, vi o Senhor sentado sobre
um trono alto e elevado (Is 6,1-2). Deus toma iniciativa e se faz
próximo, entra na história concreta de um povo e de Isaias, a quem ele escolhe
e chama. Ele é desde sempre o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus
de Jacó, isto é, o Deus que vive comprometido na história do seu povo.
Encontra o escolhido no contexto da sua vida cotidiana (o templo, onde atuava
como sacerdote) e da vida do povo (a sociedade política e religiosa).
Da
mesma forma Lucas, ao indicar a revelação de Deus no nascimento de Jesus, o
Messias, diz : Naqueles dias apareceu um edito de César Augusto,
ordenando o recenseamento de todo o mundo (…) Enquanto lá estavam,
completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz seu filho
primogênito (Lc 2,1,6).
As
vindas e as passagens de Deus na vida de cada pessoa
Deus
tem seus tempos e suas maneiras de passar, e não passa só uma vez, embora cada
vez seja ‘o tempo decisivo’ (kairós). Deste modo chamou seus profetas e
discípulos. Veja-se, por exemplo, a vocação de Moisés (Ex 3,1-12), Amós (Am
1,1), Jeremias (Jr 1,1-111), dos primeiros discípulos (Mt 4,18-22) e de
Saulo/Paulo (At 9,1-9). Do mesmo modo, após a surpresa, Ele passa através de
acontecimentos felizes e tristes na vida de cada um, ou de uma simples intuição
profunda….
Daqui nasce a exigência de sabê-lo reconhecer e
deixar-se comprometer, para fazer da nossa história uma ‘nova história de amor
e de salvação’, que exige vigilância, discernimento, prontidão.
São atitudes que Jesus destaca fortemente em suas parábolas : a espera
vigilante do senhor que volta das núpcias (Lc 12,35-46), do ladrão que
surpreende o dono da casa, do patrão que pede contas ao administrador. A espera
do Amado que vem visitar e oferecer um encontro de intimidade : ‘Eis que
estou à porta e bato : se alguém ouvir minha voz e abrir, entrarei em sua casa
e cearei com ele e ele comigo’ (Ap 3,20-21).
Durante
o Ano litúrgico, no qual se exprime a pedagogia da fé da igreja, o tempo de
Advento é particularmente propício para viver a ‘espera’ e a ‘esperança’ da
vinda de Deus na carne, através da memória sacramental do evento da encarnação,
que o torna ‘vivo’ e ‘atual’ novamente. A liturgia do Advento nos leva a olhar
para a nossa experiência, e para os acontecimentos do cotidiano
(presente/hoje), enquanto nos abre para olhar para a vinda gloriosa do Senhor
(futuro/promessa). Esse dinamismo nos permite descobrir com liberdade, a
relatividade do presente e do parcial, e antecipar o desejo e a esperança da
plenitude e do encontro definitivo com o Senhor. São Bernardo, em sua
teologia do Natal, fala de uma ‘tríplice vinda’ do Senhor. Diz que sua vinda
acontece três vezes : na encarnação, em nosso interior, através do seu Espírito
que visita a consciência de cada um, e no final dos tempos em sua vinda
gloriosa.
Deus
santo se manifesta como transcendência e proximidade
A relação com Deus, como podemos constatar a partir
dos exemplos de vocação e missão dos seus escolhidos é, ao mesmo tempo,
experiência de transcendência e de proximidade.
Isaías relata ver a santidade de Deus na visão em que lhe é transmitida sua
missão : Eles clamavam uns para os outros e diziam : santo, santo,
santo…a sua gloria enchia toda a terra…o templo se enchia de fumaça (Is 6,3-4).
Para
cada um de nós, o caminho é o mesmo. Depois do evento pascal, esta experiência
se dá através da carne do Verbo, morto e ressuscitado, na efusão do Espírito
mediante a fé e nos sacramentos da iniciação cristã : ‘santificados e chamados
a tornar-se santos no Santo’. Um processo que faz da pessoa e da comunidade ‘o
templo’ e a ‘casa’ do Senhor (cf Ef 2, 19 – 22; 1Cor 3, 6). O Verbo se
fez carne e habitou entre nós… De sua plenitude todos nós recebemos graça por
graça… Ninguém jamais viu a Deus : o filho unigênito que está no seio do Pai,
este o deu a conhecer (Jo 1, 14;16;18). – Em verdade vos digo :
todas as vezes que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o
fizestes’ (Mt 25,40).
Somos
sempre indignos do chamado
Mas
o chamado mostra também a nossa inadequação. Conforme descreve Isaías : Então
eu digo : ‘Ai de mim, estou perdido! Com efeito sou homem de lábios impuros, e
vivo no meio de um povo de lábios impuros, e meus olhos viram o Rei, Senhor dos
exércitos (Is 6, 4-5). Encontrar-se com Deus, ser chamado por Ele,
implica sempre a percepção da própria indignidade, ou melhor, da insuficiência
frente a Deus, o inaccessível, o invisível, cuja visão pode matar!
Esse
sentimento é componente natural na experiência religiosa da criatura na relação
com o criador. Está ao centro da religiosidade natural. O AT destaca bem esta
dinâmica : o Deus de Israel é o Deus que ‘permanece escondido, ao mesmo tempo
em que é o salvador do seu povo’ (Is 45,15). Ele é quem atrai a si todo ser
humano, mas também incute medo. É fascinante e tremendo! A resposta não é
fugir, mas entregar-se à sua generosa e transformadora acolhida : Ai de
mim, estou perdido! Com efeito sou homem de lábios impuros… (cf.
Moisés, Gen. 3,1-12; Jeremias 1,4-10; 17 -19; Pedro depois da pesca
inesperadaLc 5,8).
Jesus,
por sua vez, manifesta a proximidade do Pai e sua compaixão, é o rosto da sua
misericórdia. Procura os marginalizados, os pecadores, os impuros, e elogia a
fé do pagão e da mulher impura pelo sangramento ou pelo pecado. Indica o
publicano, que se confessa pecador no limiar do templo, como a pessoa que vive
a verdadeira relação com Deus, ao contrario do fariseu que presume ‘ser justo’
(Lc 18, 9 -14).
A
liturgia eucarística também cultiva este sentido de indignidade, não para
afastar-se, mas para aproximar-se à misericórdia : do Ato Penitencial ao
Gloria, do Santo ao Pai nosso, da Confissão antes da Comunhão com as palavras
do centurião ‘Senhor, não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei
uma palavra e serei salvo’. A liturgia das Horas abre-se sempre com a invocação
ao Senhor, afim de que seja ele a abrir nossos lábios (Abri meus lábios, ó
Senhor…), ou vir ao nosso auxílio (Vinde, ó Deus em meu auxilio…)
Segundo a Regra de São Bento, o monge perfeito é o
que, percorrendo todos os graus da humildade, chega a assumir a postura do
publicano no templo. É o caminho que conduz o monge à
caridade perfeita, fonte de liberdade em relação à toda forma de medo, e que
gera a alegria do serviço ao Senhor (RB 7, 62-68).
Purificação
e transformação
Isaias
descreve assim seu caminho de purificação : Nisto um dos serafins voou
para junto de mim, trazendo na mão uma brasa que havia tirado do altar…tocou os
lábios e disse : teu pecado está perdoado (Is, 6,7). Para fazer do
jovem sacerdote a ‘boca de Deus’, pessoa apta a falar as palavras de Deus, o
profeta é purificado por ação do próprio Deus, e não se auto-proclama tal. Essa
é a distinção entre verdadeiros e falsos profetas. Entre ‘profetas da esperança’,
suscitada pela ação de Deus, reconhecida e destacada pelos profetas de Deus, e
os ‘profetas de desventuras,’ como os chamava papa São João XXIII, que veem só
o mal na história do nosso tempo, por falta de confiança no Senhor.
Missão
Em seguida ouvi a voz do Senhor que dizia : ’Quem
hei de enviar? Quem irá por nós?’…
Eu respondi : ’Eis-me
aqui, envia-me a mim’ (Is 6,8).
A
vocação e missão é ‘resposta’, uma resposta pontual que acontece em um momento
preciso, mas que significa uma modalidade de ser, de viver, de atuar. É o mesmo
que acontece com o Verbo feito carne, e cada discípulo de Jesus Cristo : Tu
não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo…por isso eu
digo : Eis-me aqui…eu vim, ó Deus, para fazer tua vontade… E graças a esta
vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo,
realizada uma vez por todas (Heb 10, 5-10).
Toda a vida de Jesus se desenrola como atuação desta
dedicação ‘original’ ao Pai e desta radical solidariedade aos homens, até a
cruz. É a atitude que faz da existência de Jesus uma ‘existência
sacerdotal’, e da sua morte o ‘sacrifício redentor e reconciliador’. O mesmo
acontece com Maria mãe da igreja : Eu sou a serva do Senhor; faça-se em
mim segundo Tua palavra! (Lc 1,38).
Missão
entre um povo que não está disponível a escutar…
A ‘missão’
entregue, quase sempre, parece muito difícil, e humanamente desproporcionada às
capacidades pessoais do escolhido e incute, naturalmente, medo. Deus não recua,
mas dá sua verdadeira garantia : a sua presença fiel a seu lado. Como um
refrão, ressoa em todas as chamadas dos escolhidos, de Abraão ao ultimo dos
apóstolos, passando pelos patriarcas e os profetas, a palavra divina : Não
tenhas medo…. Eu estou contigo.
Deus
diz a Isaias que o povo não compreenderá nem se converterá : Com os
ouvidos, ouvi, mas não compreendereis, com os olhos, olhai, mas não
conhecereis.(Is 6, 9 -10). Isaias é chamando a denunciar a hipocrisia
religiosa (cf Is. 1,10-20) e o abuso dos pobres (Is 5, 8-14). Jesus ao enviar
os discípulos diz : Ide! Eis que vos envio como cordeiros entre lobos.
Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias. (Lc 10,3-4). Quando
vos conduzirem às sinagogas, perante os magistrados e perante as autoridades,
não vos preocupeis como ou com que vos defender, nem com o que dizer : pois o
espírito Santo vos ensinará naquele momento o que deveis dizer’ (Lc 12, 11
-12).
Isaias
sofre pela incompreensão do povo e pergunta ao Senhor : Até quando? (Is
6,11).O bom profeta enfrentará graves provações, o povo recusará a se converter
e por isso arriscará a ser completamente destruído. Mas, o Senhor lhe anuncia
que do ‘toco’ do grande carvalho abatido, brotará uma nação santa (Is
6,13). É a esperança definitiva que o profeta ouve como consolação do Senhor, é
um futuro novo que ele será chamado a testemunhar, e que fará de Isaias o
profeta da consolação por excelência. A entrega confiante do profeta ao Senhor
é sua verdadeira e única força, como o será para Maria e para os discípulos de
todos os tempos! Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim
segundo a tua palavra (Lc 1, 38).
Discípulos
de Jesus ao longo da história, escolhidos e chamados por graça, enviados na sua
condição de fragilidade pessoal, mas fortes na potência de Deus!’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/05/21/chamados-pelo-senhor-uma-maneira-de-viver/
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