Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Felipe Magalhães Francisco,
teólogo
‘Pessoalmente,
uma das coisas que mais causa indignação é o uso do poder religioso para
enganar pessoas. Religião é, também, uma questão de poder. É por isso que
muitas pessoas adentram por este universo. Exercer uma posição de liderança
religiosa exige muita responsabilidade : o aspecto religioso é psiquicamente
estruturante para muitas pessoas. Um manejo irresponsável disso, pode causar
muitos danos, alguns irreversíveis, aos sujeitos religiosos. É por isso também,
entre outras coisas, que o processo de formação para um candidato ao Sacramento
da Ordem – isto é, para se tornar padre – exige acompanhamento sério,
multidisciplinar, com amparo psicológico. É um processo longo de formação, que
tem como parte o curso de duas graduações. Ainda assim, não há certezas de que
o processo foi bem feito, frutífero. Apesar de toda a complexidade do processo,
há uma espécie de fracasso na formação de presbíteros, salvo algumas exceções.
Em
nossa atualidade, tudo cai nas redes de forma muito rápida, sejam as boas
coisas, como as ruins – e, definitivamente, este não deve ser um critério para
que as pessoas tenham medo de se expressar, mas para que pensem o papel social
que exercem, que precisa ser responsável. Ao mesmo tempo em que acompanhamos
notícias envolvendo um pe. Júlio Lancellotti (ameaçado de morte, vale dizer,
por fazer o bem!), que inspira bom testemunho de serviço ao Evangelho, vemos
viralizar vídeos de homilias e falas de clérigos – presbíteros e bispos – que
fazem com que os cristãos e cristãs minimamente conscientes de sua fé em Jesus
Cristo, tenham vergonha e indignação. Isso sem falar em lideranças religiosas
de outras confissões cristãs, que sequer têm o preparo mínimo para exercerem o
papel de pregadores e pregadoras. Nesse descaminho do Evangelho, temos desde
bispo que se recusa a aparecer próximo de um jovem que tem uma postura que
destoa do padrão heteronormativo, quanto padres que usam da Mesa da Palavra –
lugar digno onde, sacramentalmente, o próprio Jesus se manifesta –, para
propagar inverdades sobre a pandemia que vivemos, e a vacinação, única solução
viável até o presente momento, para superarmos essa tragédia sanitária.
Esses
dois casos são escandalosos. Ainda assim, não vimos sequer notas de repúdio,
por parte de representantes autorizados da Instituição. Infelizmente,
temos um clero corporativista, que evita se indispor com seus pares, mesmo que
seja para uma correção fraterna, aos moldes do que nos propõe o Evangelho de
Mateus. O silêncio é conivente! São tempos difíceis, de ódio e de fortalecimento de
propagação de mentiras; e tudo o que menos precisamos, são de clérigos que
atuem para a ascensão deste anti-Evangelho. De que adiantam
documentos pastorais dizendo que a Igreja acolhe as diferenças, não julga e não
exclui, que todas as pessoas são bem-vindas no redil do Senhor, quando alguém
que destoa de certo comportamento padrão é evitada, com muito constrangimento,
para que um bispo não seja mal interpretado pelo olhar de alguns? Qual a legitimidade de uma Igreja que
se diz atuar em favor da vida, quando um presbítero se propõe a pregar
inverdades sobre uma vacina, usando o engodo de fetos abortados, para causar
pavor nos fiéis? Alguns podem pensar, e até mesmo dizer, que estes não
representam a Igreja. De fato, eles não são o todo da Igreja, que é plural,
benéfica e maleficamente. Mas, mesmo não sendo o todo da Igreja, eles são a
Igreja : afinal, não é esse um dos significados teológico-sacramentais do
Batismo?
Ou
o catolicismo começa a lidar com mais seriedade e transparência evangélicas com
estes casos absurdos, que podem parecer isolados, mas que pipocam no dia a dia,
por todos os cantos, ou seremos uma Igreja cada vez mais desacreditada, e isso
não sem razão! O descrédito da Igreja é, em última análise, o descrédito do
Evangelho e do Reino, aos quais a Igreja deve ser fiel servidora. Descrédito
entre os de fora, má educação da fé para os de dentro. Enquanto uma
infeliz claque aplaude a lacração ultraconservadora de alguns clérigos, o
Evangelho perece e a fé se esvazia. De que vale uma Igreja assim?’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1497935/2021/02/responsabilidade-religiosa-e-pastoral-o-contraponto-ao-desservico-ao-evangelho/
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