Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Qualquer
pessoa atenta à sociedade pode perceber que há um aumento considerável da busca
de novas religiosidades e espiritualidades na contemporaneidade. Contrariamente
àqueles e àquelas que diziam que a religião teria um fim breve, uma vez que o
sujeito moderno seria aquele capaz de uma racionalidade superior trazido pelo
conhecimento científico, o que implicaria a não aceitação de algumas questões
metafísicas, o que vemos é o crescimento tanto da oferta de instrumentos e
locais religiosos, quanto a busca por esses lugares.
Esse
movimento, por sua vez, não se dá em vista de somente uma religião. Muito pelo
contrário, diversas matrizes religiosas têm sido buscadas e algumas bem antigas
sendo reativadas, como é o caso das religiões celtas ou outras conhecidas como
pagãs na antiguidade. Também as de matriz oriental, principalmente no Ocidente,
encontraram um solo fértil, mesmo que muitas vezes usadas somente como meios de
‘bem viver’, ou ainda dentro de uma linha ‘coaching’, na qual os
princípios propriamente religiosos são muitas vezes esquecidos e se considera
somente aquilo que pode tornar o sujeito contemporâneo mais produtivo, de bem
com a vida e resiliente em seu trabalho.
Diante
desse cenário, o estudo das religiões, bem como seus diversos modos de assimilação
pela sociedade, mostra-se extremamente importante. Nesse sentido, a ciência das
religiões cumpre um papel fundamental para a compreensão desses processos e de
como essas novas espiritualidades se relacionam com a sociedade. Esse estudo,
porém, visando abarcar uma outra dimensão religiosa, precisa vir acompanhado do
conhecimento teológico, uma vez que toda religiosidade ou espiritualidade, de
alguma forma, toca aquilo que se considera para além do humano, transcendente,
divino. Em outras palavras, toca o campo das teologias e somente por meio desta
conversa entre ciência da religião e teologia se mostra possível uma visão
completa desse fenômeno religioso.
Infelizmente,
no Brasil ainda são poucos os cursos de Ciência das Religião em universidades
públicas e, no caso das Teologias, são praticamente inexistentes,
restringindo-se a faculdades confessionais ou particulares. Tal situação ao
mesmo tempo em que revela a imensa influência positivista que ainda reside nas
universidades públicas brasileiras, também mostra o grande preconceito que há
com relação ao conhecimento religioso.
A
ideia preconceituosa de que a religião é somente uma alienação ou de que se
trata de um tipo de conhecimento que não merece um estudo próprio ainda se
mostra muito característico nas universidades públicas brasileiras e não
dificilmente se fala desse tema com desdém, o que é demonstrado pela grande
ausência de cursos de graduação e pós-graduação nessas temáticas nas
universidades federais do país.
Ao
mesmo tempo, nas faculdades teológicas de cunho confessional ainda permanece
certa visão de gueto, onde corpo discente e docente são majoritariamente
pertencentes à determinada matriz ou doutrina religiosa, evitando assim um
ensino teológico que aborde diferentes perspectivas do fenômeno religioso, seja
em seu nível social, seja em sua questão de vivência e práticas teológicas.
Nesse
cenário, não é de se espantar que movimentos fundamentalistas e de
extrema-direita se espalhem pelo país, bem como não é de se admirar que haja
diversas pessoas caindo em movimentos de estelionato religioso. A falta de um
estudo sério, público e amplo acerca das religiões e de suas teologias têm
cobrado um alto preço do país. Os chamados intelectuais e aquele e aquelas que
insistem em não abrir as portas das universidades públicas para a área de
ciência da religião e teologia tendem a contribuir para que haja o avanço de
tentativas de Estados teocráticos que, como tsunamis, só são percebidos quando
se é tarde demais para se escapar deles.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1497254/2021/02/sobre-a-necessidade-de-teologia-nas-universidades-publicas/
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