Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Álvaro Real,
Jornalista
‘O mundo de hoje quer respostas fáceis
e modelos ‘low-cost’. Muita gente se concentra nos ‘influencers’
e no que eles vendem. Mas há muito mais além disso. Há muitas pessoas além
daquelas representadas nas séries, nos nossos programas favoritos, nas redes
sociais. São, de fato, aqueles seres humanos dotados de uma sensibilidade
especial : os ‘ouvintes’ do mundo.
Neste universo em constante movimento,
atormentado pelas mil e uma atividades, além do ideal de produtividade e renda,
há pessoas que, aparentemente, não fazem nada. São aqueles enviados por Deus
para permanecer em silêncio, para não ter que desempenhar um papel, mas
contemplar, ver, esperar.
Se realmente existisse um comitê de
especialistas que nos permitisse sair melhor desta pandemia, certamente eles
seriam os que vislumbram o que se vê no invisível, no essencial – aquilo que,
nas palavras de Saint-Exupery é ‘invisível aos olhos’.
A pandemia através dos olhos de um monge
Grandes escritores e pensadores
buscaram paz e serenidade no exemplo destes homens. Dostoiévski, Gógol e
Tolstói, por exemplo, procuraram respostas ao drama do homem no famoso mosteiro
de Optina Poustinia. Buscaram os conselhos dos famoso ‘starets’, ou
seja, os anciãos dos mosteiros ortodoxos russos. Então, por que não podemos
fazer o mesmo hoje? Por que não buscarmos respostas em uma abadia? Por que não
vermos a pandemia através dos olhos de um monge?
Talvez assim poderíamos encontrar
respostas para questionamentos como : Para onde vamos? Por que tanto
sofrimento? O que é mais importante na vida? Sairemos melhores desta pandemia?
O que realmente é essencial neste momento?
A fé em tempos de pandemia
Mauro-Giuseppe Lepori, abade geral da
Ordem de Cister, reflete sobre essas perguntas no livro La fe en tiempos de Pandemia (‘A Fé em Tempos de Pandemia’). Seu texto é denso, profundo e
enriquecedor. Na obra, ele oferece quatro grandes reflexões sobre este momento
de pandemia :
1 – A importância do coração
O autor define o coração do homem como
uma ‘espinha na carne do mundo’ e mostra que esse coração está na consciência.
Sem o coração humano nada teria sentido.
‘O coronavírus e a economia têm
suas próprias leis, seus próprios processos, que, geralmente, parecem
enlouquecer, rebelar-se contra o homem. Mas nenhuma lei física, biológica ou
econômica é maior que a liberdade de um só coração humano’.
2- A obra de Deus nos gestos humanos
Deus está em cada gesto. Isso é o que
faz com que cada uma das pequenas ações que realizamos em casa tenham sentido.
Alguém acha que perde tempo ao ficar em casa? Você acha que quando você fica em
casa na quarentena está desperdiçando o tempo?
Mauro-Giuseppe Lepori explica :
‘Até o menor gesto, até a obra mais
oculta, como a oração na cela de um ermitão ou o mais humilde serviço no âmbito
familiar se converte em um acontecimento que introduz uma semente de novidade
humanamente impossível no processo histórico, já que é uma novidade divina e
eterna’.
3 – A vivência do presente
Durante o confinamento, percebemos que
era ruim fazer nada. De repente, nos vimos sem capacidade de pensar no futuro.
Tudo é presente. E, para muitos, isso é um pesadelo.
O relógio não corria e todas as nossas
metas tinham desaparecido. Um ritmo que não era real. Só o presente e o agora
passaram a existir. Lepori faz uma ligação disso com o capítulo 43 da Regra de
São Bento :
‘É uma forma de viver, de
concebermos a nós mesmos, ao tempo, às coisas, às relações, ao dever, ao
prazer, a toda nossa relação com a realidade, que nos fazem humanamente
intensos’.
4- Viver com a consciência de que Deus está presente
Lepori termina sua reflexão
confessando que não tem uma solução para os problemas do homem. Mas nos oferece
uma maneira de enfrentá-los : dar testemunho da presença de Deus a todo
momento.
‘Não se trata de impor a fé, mas de
propor a intensidade humana que a fé produz em quem a experimenta’.
Enfim, em seu texto, Lepori serve como vigia noturno do mar, um farol na
escuridão e, embora não nos ofereça repostas
concretas, apresenta uma nova maneira de enfrentar os desafios. Vale a pena
recorrer à sabedoria de um «starters» e à reflexão dos monges para
sairmos das confusões da história.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/02/19/4-conselhos-de-um-monge-para-vermos-o-invisivel-desta-pandemia/
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