Por Eliana
Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Solene Tadié,
National Catholic Register, Redação ACI Prensa
Tradução : Nathália Queiroz
‘‘Uma
start-up do século XII com o estilo do século XXI’, com este lema as monjas
cistercienses da Abadia de Boulaur em Occitane, no sudoeste da França,
descrevem o ambicioso projeto de renovação que fizeram para seu mosteiro.
Essa
frase se refere a todo um universo do passado, a uma época em que o
cristianismo alcançou o auge da glória na Europa, um tempo que muitas pessoas
recordam nostalgicamente, pois no Velho Continente há uma séria crise de
vocações, que se agrava pelo número crescente de mosteiros que se veem
obrigados a fechar.
Nesse
contexto complicado para a Igreja Católica, o anúncio recente de
um plano de reconstrução de 4 milhões de euros para este antigo priorado de
Fontevrist, localizado em uma cidade pobre e pequena da França, foi recebido
como um presente da divina Providência. O monumento do século XII, que abriga
uma comunidade de monjas cistercienses desde 1949, estava em péssimo estado
quando decidiram restaurá-lo.
Este
trabalho começou no final da quarentena de coronavírus e inclui a reconstrução
de um grande estábulo para abrigar animais para o Natal assim como local para o
processamento de queijos, geleias, patês e farinha.
O
objetivo é a reprodução de uma antiga fazenda monástica, que permitiria às
monjas cuidar de toda a cadeia de produção, utilizando os recursos em sua
propriedade de 45 hectares, onde haverá árvores frutíferas, vacas e porcos,
entre outros.
O
ambicioso projeto, que recebeu o nome de ‘Granja 21’, faz parte da vasta atividade da
comunidade de Boulaur, que atualmente possui 27 membros (serão 31 em setembro),
com uma média de cinco novos candidatos a cada ano. A idade média das
religiosas é de 45 anos.
‘É
uma graça muito bonita para nós em um momento em que faltam vocações em todos
os lugares, mas também implica uma grande responsabilidade, porque temos que
cuidar de todas essas mulheres, de suas necessidades primárias, saúde e
aposentadoria’, explicou ao National Catholic Register (NCR) a Irmã Anne, que supervisiona o projeto.
As
religiosas, que seguem a Regra de São Bento, começaram há cinco anos a pensar
em diferentes maneiras de maximizar sua produção e obter renda, que também lhes
permita ter um lugar estável e atrativo, em uma região relativamente pobre e
isolada.
O
projeto gerou muito entusiasmo em toda a região e em outros lugares. O vídeo da
apresentação de 2019 foi muito bem-sucedido nas redes sociais e também recebeu
ampla cobertura nos meios tradicionais.
Desde
então, as doações começaram a chegar através da plataforma de crowdfunding chamada CredoFunding. No entanto, as religiosas ainda precisam de mais doações para tornar o
projeto realidade.
‘Haverá
projetos participativos durante todo o verão, nos quais os voluntários nos
ajudarão a fazer tijolos de terra para construir as fachadas do estábulo,
usando a terra da abadia’, indicou a irmã Anne, explicando que algumas
pessoas que não creem também ajudarão pois ficaram edificadas e se sentiram
animadas pelo dinamismo da comunidade e, sobretudo, pela audácia deste projeto
liderado por mulheres.
Nesse
sentido, as monjas já entraram em contato com outras abadias, bem como
associações e empresas leigas que estão dispostas a seguir seu caminho, cada
uma com o seu jeito particular.
Numa
época em que o lugar das mulheres na Igreja é muito debatido
e sujeito à instrumentalização política, esse projeto aparece para lembrar
que a tradição monástica sempre foi uma maneira pela qual as religiosas podem
expressar plena e livremente seu potencial.
O
setor agrícola, que se converteu em um mundo predominantemente masculino, foi
durante séculos uma maneira de garantir a independência econômica das ordens
religiosas femininas.
‘Em
nossa ordem de Císter, era comum no século XII que as abadessas fossem a cavalo
visitar suas terras e fundações’, disse a irmã Anne. Embora o objetivo das
religiosas seja ‘promover o gênero feminino’, reforçam que elas têm uma
perspectiva inclusiva.
‘Estamos
muito felizes em poder colaborar com os homens e seu gênero específico e, ao
mesmo tempo, não aceitamos que nos restrinjam e que nos digam
que somos apenas pequenas monjas que não podem desenvolver projetos de larga
escala sozinhas’, disseram as religiosas.
‘Sabemos
que podemos fazê-lo, mas precisamos trabalhar duro para isso, estar unidas e
saber exatamente para onde estamos indo. Sempre com o
Senhor’, acrescentou.
‘Queremos
permanecer fiéis a essa dinâmica, que teve um impacto na economia do século
XII, agora com os meios do século XXI : Não teremos carros de boi como antes,
mas nossos amigos norte-americanos certamente terão orgulho do nosso trator
John Deere’, disse a irmã Anne e recordou que, como na era dos construtores
de catedrais, o que buscam é nutrir o gênio da cultura atual por meio de
contribuições artísticas e arquitetônicas destinadas a preservar e melhorar as
paisagens.
‘Essa
perspectiva tem um custo significativo, mas nosso objetivo não é apenas ganhar
a vida pelos próximos 30 anos. Queremos construir para a eternidade, construir
um local histórico que dure e que possa ser transmitido às gerações futuras. A
Idade Média é o exemplo perfeito dessa filosofia’.
Com
essa aproximação em mente, o projeto Granja 21 também incluirá a construção de
uma grande biblioteca para receber os manuscritos mais valiosos da comunidade,
a maioria dos séculos XIII e XIV.
Lembrando
que a dinâmica dos mosteiros na Idade Média permitiu que a Igreja crescesse e
moldasse de maneira sustentável a paisagem cultural do Ocidente, a Irmã Anne
afirmou que o Evangelho só pode enraizar-se na cultura europeia de hoje através
da renovação da vida monástica que seja capaz de tocar almas.
Outro
aspecto essencial do projeto refere-se aos benefícios que os habitantes locais
poderão obter dele. Ao fazer da abadia um atraente centro cultural, turístico e
patrimonial, as monjas de Boulaur esperam poder oferecer apoio às empresas
locais e incentivar a criação de novos empregos, além de oferecer um local para
comprar mantimentos para os habitantes do local que não podem ir facilmente
fazer compras na cidade. Esse benefício poderia se estender a toda a região.
‘As
pessoas da região são muito sensíveis ao que fazemos, porque priorizamos as
empresas locais para concluir as obras da abadia, e favorecemos os canais de
distribuição de varejo e as vendas diretas de produtos de qualidade fabricados
no local’, assegurou a religiosa cisterciense.
‘Queremos
criar uma nova aventura para ganhar a vida, enquanto apoiamos muitas pessoas, o
maior número possível, considerando a evolução de nossa sociedade’,
concluiu a irmã Anne.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://www.acidigital.com/noticias/essas-religiosas-pegam-o-melhor-da-idade-media-para-inovador-projeto-do-seculo-xxi-88731
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