Por Eliana
Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Francisco Thallys Rodrigues,
presbítero da Diocese de Crateús,
trabalha na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, Tauá, CE
‘Desde
os inícios do cristianismo houve um processo de preparação para a inserção nas
comunidades cristãs. Ao longo dos séculos, esta preparação passou por muitas
mudanças em sua estrutura e organização, a partir das necessidades de cada
tempo e lugar. Desde a virada antropocêntrica, iniciada na modernidade e
radicalizada na subjetividade da modernidade líquida, a catequese é desafiada a
romper o casulo do individualismo, para renascer como catequese que insere a
pessoa no seguimento a Jesus, na comunidade dos batizados.
As
primeiras comunidades cristãs estavam organizadas em torno da memória de Jesus
e da fração do pão, os bens eram partilhados segundo as necessidades de cada um
(At 2, 42-47). O crescimento e a expansão das comunidades trouxeram a
necessidade de uma preparação para o ingresso pleno. Era necessário conhecer
quem era Jesus e as exigências do ser cristão. Este processo ficou conhecido
como catecumenato. Após um tempo de preparação, os catecúmenos eram acolhidos
na comunidade, podendo participar, integralmente, da fração do pão
(Eucaristia), bem como nas demais atividades. Neste percurso, os catecúmenos
despojavam-se do homem velho para uma vida nova. No batismo se ‘passava dos
ídolos ao Deus vivo e verdadeiro’ (TABORDA).
Ora,
o anúncio da fé cristã, sua preparação e vivência, aconteciam dentro de uma
comunidade concreta de pessoas que se entendiam como irmãos e irmãs, filhos de
Deus, a partir do batismo. Era impensável cristãos sem comunidades, que
vivessem isolados. Neste sentido, pôde-se dizer que a fé cristã é necessariamente
eclesial, isto é, nasce a partir da comunidade dos batizados que professam a fé
em Jesus Cristo ressuscitado, que revelou o Pai e nos enviou o Espírito. A
comunidade gera, no batismo, filhos e filhas e os alimenta por meio da fração
do pão, da vida fraterna e da caridade.
Quando
se toma os textos que compõem o Novo Testamento, nota-se a presença viva de
diferentes comunidades, nas suas alegrias e tristezas, como seguidoras de
Jesus. Os Evangelhos evidenciam as crises e os desafios enfrentados, enquanto
que as Cartas de Paulo, são dirigidas as comunidades, que receberam o anúncio
da fé e que passam por dificuldades. Portanto, desde uma perspectiva bíblica,
não se pode pensar em cristãos avulsos, desligados de comunidades concretas.
No
decorrer dos séculos, este processo de preparação passou por diversas mudanças.
Por muito tempo, a catequese foi compreendida como preparação exclusiva para os
sacramentos, estando ancorada em catecismos, que ensinavam ‘fórmulas e
doutrinas’, sem uma clara contextualização desta vivencia da fé.
Entretanto, mesmo neste tempo, a catequese acontecia no seio da comunidade, a
partir de pessoas designadas para esta missão.
Nos
últimos tempos, tem ocorrido muitos esforços, para uma preparação da catequese
que brote desde a comunidade de fé e que conduza ao seguimento a Jesus. A
catequese de inspiração catecumenal, é uma tentativa de resposta ao tempo
presente, a partir das intuições fundamentais da Tradição da Igreja, sobretudo,
a partir do Concílio Vaticano II. O êxito desta proposta, depende de um
trabalho conjunto, que conjugue diferentes instâncias : famílias, animadores,
membros da comunidade[1] e, principalmente, o protagonismo do
catecúmeno em vista de gerar um verdadeiro discipulado, a partir da experiência
concreta com uma pessoa, Jesus Cristo, morto e ressuscitado (Kerigma).
Todos devem sentir-se corresponsáveis pela formação dos novos membros.
Não
se pode ceder à tentação da individualização da fé cristã que reduz o Reinado
de Deus, anunciado por Jesus, a um sentimento, doutrina ou filosofia, que pode
ser vivido de modo individualista. Cada vez mais, a fé cristã tem sido
apresentada, desprovida de seu caráter comunitário, do seu compromisso com a
vida em todas as suas expressões. Jesus é apresentado como um fazedor de
milagres, que resolve todos os problemas, mas que não gera compromisso com o
Reinado de Deus. A partir dos dados dos Evangelhos e das primeiras comunidades
cristãs, fica evidente que esta é uma grave distorção. A fé cristã tem como
eixo central, o seguimento a Jesus na comunidade dos batizados.
É
preciso passar de uma catequese que ensina doutrinas e fórmulas, a uma
catequese que leve ao encontro com Jesus Cristo. A catequese deve levar a
inserção no mistério de Cristo dentro da comunidade, para que se experimente os
mesmos sentimentos que perpassaram Jesus (Fl 2,5). Precisamos de uma catequese
que prepare para a vivência do Evangelho, que não seja puramente sacramental.
Nas palavras do papa Francisco : ‘A iniciação cristã exige que nas nossas
comunidades se realize sempre mais um itinerário catequético que ajude a
experimentar o encontro com o Senhor, o crescimento no seu conhecimento e o
amor pelo seu seguimento’.
O
encontro de Jesus com a Samaritana (Jo 4,5-42) ilustra o processo mistagógico
que deve perpassar a catequese. Neste encontro, Jesus estabelece uma relação
com a samaritana, rompendo todas as barreiras religiosas e étnicas, na qual
apresenta a água viva que sacia todas as sedes humanas. Este encontro com
Jesus, leva a samaritana a deixar o cântaro, para anunciar aos seus, que
encontrou o sentido para a vida. Queira Deus que nossa catequese seja, cada vez
mais, mistagógica, levando ao encontro com Jesus e com os irmãos.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1461191/2020/07/catequese-como-insercao-na-comunidade-dos-batizados/
[1] E principalmente o protagonismo do catecumeno em vista de gerir um verdadeiro DISCIPULADO, a partir da experiência concreta com uma pessoa, Jesus Cristo, morto e ressuscitado (Kerigma)
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