terça-feira, 31 de março de 2020

Anjos e coronavírus: o mundo invisível existe e age

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Fernando Cárdenas Lee,
Foyer de Charite


‘A pandemia do coronavírus colocou diante de nós todo um mundo invisível, um mundo que não podemos ver com nossos olhos.

É que os vírus são entre 500 e 1000 vezes menores que uma célula do nosso corpo. Eles só podem ser vistos com microscópios especiais.

A humanidade da imagem, a humanidade que vê tudo, agora enfrenta um agente infeccioso que não vê. Talvez seja um convite a tomar a iniciativa de São Paulo na carta aos coríntios :

Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem. Pois as coisas que se vêem são temporais e as que não se vêem são eternas’ (2 Cor 4, 17).

É preciso voltar o coração para as coisas invisíveis, lembrando novamente que existe um mundo visível e um invisível, como professamos no Credo.

Esse mundo invisível existe, embora não o vejamos, e age em nosso meio.

Dentro desse mundo invisível estão aqueles bons amigos que são os santos anjos e que vêm cuidar de nosso corpo e alma.

Nós não os vemos com nossos olhos, mas, como John Henry Newman diz, ‘embora sejam tão grandiosos, tão gloriosos, tão puros e tão bonitos, que a própria visão deles, se pudéssemos vê-los, nos derrubaria no chão, como aconteceu com o profeta Daniel, tão santo e reto como ele era, mas eles são nossos servos e companheiros, e observam atentamente e defendem os mais humildes de nós, se somos de Cristo.

É hora de olhar para essa realidade invisível, invocar os anjos e pedir ajuda, conforto, orientação e força nesses tempos de tribulação, confusão e até mesmo de combate espiritual.

Por esse motivo, convido você a levantar os olhos, elevar o coração e descobrir a ajuda e a presença desses seres espirituais que estão em nosso meio e nos cercam, dando-nos toda a assistência e ajuda.

Nesse momento em que o homem toma conhecimento e evita entrar em contato com um agente inferior, como um vírus, por que negar ou por que é tão difícil aceitar a importância e a necessidade de se relacionar com criaturas superiores, como os anjos?

Quando erguermos os olhos e olharmos mais longe, descobriremos que a harmonia na criação, de acordo com o que a Sagrada Escritura e a Tradição da Igreja nos ensinam, é mantida pela obra dos anjos.

Voltemos a John Henry Newman, ao dizer que ‘o curso da natureza, que é tão maravilhoso, tão bonito e tão assustador, é operado pelo ministério desses seres invisíveis. A natureza não é inanimada, seu trabalho diário é inteligente, suas obras são serviço dos anjos, ministros de Deus’.

Vamos buscá-los para pedir sua intercessão, para restaurar a ordem e a harmonia na criação chamada a manifestar a glória de Deus.

Eles conhecem incomparavelmente melhor que o homem o mundo material e suas leis, conhecem os seres inferiores, o vírus e conhecem sua estrutura e a maneira de eliminá-lo.

Lembre-se do anjo no tanque de Betesda, que, movendo suas águas, deu-lhe um poder medicinal (cf. Jo 5, 4). Lembre-se de que Deus deu ordens aos seus anjos para nos guardarem em seus caminhos e nos livrarem da praga fatal (cf. Salmo 91).

Os anjos exercitam sobre a criação material um império misterioso que se estende por toda a criação e supera todo o conhecimento humano no campo científico e técnico.

De acordo com a tradição da Igreja Oriental, São Miguel Arcanjo tem a missão de ajudar os doentes. Esta missão está harmoniosamente ligada à tarefa de buscar o bem-estar daqueles a quem foi encarregada de proteger.

Houve vários episódios em que esse glorioso arcanjo, chefe da milícia celestial, interveio, libertando a humanidade da praga fatal.

Como exemplo, lembremos o testemunho do historiador Sozomeno, do século V, que relata que em Constantinopla havia uma igreja dedicada a São Miguel : ‘todos os que sofreram grandes dores ou sofreram doenças incuráveis ​​foram ao templo rezar e logo foram libertados de seus sofrimentos.

Da mesma forma, durante o pontificado de São Gregório Magno, no ano de 590, apareceu uma terrível praga que estava tirando muitas vidas na cidade de Roma.

O Papa ordenou a realização de uma procissão penitencial em Santa Maria Maior, algo semelhante ao que nosso Papa Francisco fez há alguns dias.

Gregório Magno carregava uma estátua da Virgem durante a procissão. Quando chegaram à ponte sobre o rio Tevere, ouviram o canto de anjos e, de repente, no castelo que hoje se chama Castel Sant’Angelo, apareceu São Miguel, que carregava uma espada na mão. Nesse momento, a praga terminou.

Os cristãos do Egito consagraram o rio Nilo, considerado o rio da vida, à proteção deste grande príncipe arcanjo.

É que São Miguel Arcanjo está profundamente interessado em todos os assuntos de seus protegidos, particularmente nas calamidades que os afetam. São Miguel responde a pedidos de socorro e ajuda do povo.

Portanto, nestes tempos, dirijamo-nos a este grande protetor, este grande príncipe e chefe do exército celestial, e experimentaremos, se for a vontade de Deus, sua ajuda, proteção e assistência, levando sobre nós as graças regeneradoras do precioso sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nestes tempos, vamos elevar esta oração a este bom Arcanjo :

Ó glorioso São Miguel Arcanjo,
príncipe e líder dos exércitos celestiais,
guardião e defensor das almas,
guardião da Igreja,
vencedor, terror e espanto dos espíritos infernais rebeldes.
Humildemente te rogamos,
digne-se de livrar de todo mal aqueles a quem lhe entregamos com confiança;
Que seu favor nos proteja, sua fortaleza nos defenda
e que, através de sua proteção incomparável
avancemos cada vez mais no serviço do Senhor;
Que sua virtude nos fortaleça todos os dias de nossas vidas,
especialmente no momento da morte,
de modo que, defendidos pelo seu poder
do dragão infernal e todas as suas emboscadas,
quando sairmos deste mundo
sejamos apresentados por ti,
livre de toda culpa, diante da Divina Majestade.’


Fonte :

segunda-feira, 30 de março de 2020

Como ficamos espiritualmente em forma em um período de coronavírus?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A abnegação é, antes, um tipo de treinamento.
A abnegação é, antes, um tipo de treinamento

*Artigo de Holly Taylor Coolman,
professora


‘Quando eu era criança, meu pai me mostrou uma cicatriz no dedo : uma linha branca e fraca que ganhou em algum momento difícil durante seus anos de crescimento. A história que me contou sobre isso não veio de sua infância, mas veio de mais tarde, quando era piloto da Força Aérea e estava prestes a deixar minha mãe e eu para ir à guerra do Vietnã.

Enquanto se dirigia para esse país, meu pai sabia que os pilotos podiam ser forçados a saírem de seus aviões com fogo inimigo. Ele conhecia o risco e, se isso acontecesse, poderia ser capturado e virar prisioneiro. Sabia, além disso, que os prisioneiros de guerra às vezes eram forçados por seus captores a enviarem mensagens coagidas para casa, incluindo informações ou sentimentos falsos. A guerra poderia entrar em suas casas, de certo modo, entre eles e os que mais amavam.

Então, meu pai pegou uma régua, mediu cuidadosamente a distância da ponta do dedo até a cicatriz e deu a minha mãe a medida. Uma carta genuína, ele disse a ela, começará exatamente a essa distância do topo da página : nem mais, nem menos. Essa carta é uma carta minha, e você pode confiar no que diz. Qualquer outra carta, você precisará saber, chega até você em circunstâncias terríveis.

Agora, esse tipo de coisa causa uma impressão forte em uma criança. Talvez seja uma das razões pelas quais me tornei uma pessoa que olha para o futuro, que se prepara. No momento presente, porém, parece que todos estamos nos tornando esse tipo de pessoa, gostemos ou não. No meio da atual pandemia, todos nós estamos nos descobrindo – lenta ou repentinamente, com profunda hesitação ou com determinação sombria – imaginando circunstâncias que só podem ser descritas como terríveis. Este é um momento para todos nós perguntarmos quais medidas devemos tomar e que conversas devemos ter.

Aqui, a tradição cristã é um recurso rico para todos nós.

Os apelos a uma certa forma de prontidão, de fato, estão no coração dessa tradição desde o início. Ele ecoa pelo Novo Testamento como uma batida insistente. Ele nos pressiona a focar no que mais importa e a deixarmos de lado rapidamente as coisas que não importam. De certo modo, é possível pensar melhor nesta questão descrita por São Paulo como a forma da vida cristã.

Associamos a ascese, e especialmente nosso próprio derivado, ‘ascetismo’, à abnegação, mas, na visão paulina, isso nunca é um fim em si mesmo. A abnegação é, antes, um tipo de treinamento. O que estamos buscando é o atletismo espiritual que nos prepara para atender às demandas que virão.

A imagem de um corredor, em particular, combina com a maneira como muitos de nós estamos nos sentindo agora : posicionados no ponto de partida, com os músculos tensos, os olhos carregados olhando à nossa frente, tentando imaginar como terminaremos esta corrida. Estamos nos perguntando : estamos prontos para o que está por vir?

Se considerarmos a forma dessa prontidão cristã, surge uma imagem mais completa. Acima de tudo, lembramos que a prontidão para a qual somos chamados não é apenas o resultado de nossos próprios esforços. Somos sustentados por um poder maior que o nosso. Não é simplesmente uma determinação de aço aquilo que precisamos. É uma obediência e cooperação com aquilo que é maior do que nós. O chamado para o treinamento espiritual está aí, mas também o lembrete de que ‘é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o fazer, de acordo com a boa vontade dele’ (Filipenses 2,13). Se, neste momento, não nos sentimos prontos, podemos descansar um pouco na consciência de que alguém está trabalhando em nós e através de nós, atraindo-nos para planos que talvez nem compreendamos completamente ainda.

Além disso, essa prontidão não é simplesmente uma questão individual. Em um momento difícil, temos certas tarefas como indivíduos, mas essa corrida é aquela que iremos correr juntos, ajudando-nos e tocando em frente. A verdade é que estamos prontos de várias maneiras e podemos trazer nossa própria prontidão para tudo e todos.

Ontem mesmo, meu filho de 11 anos e eu fizemos duas coisas. Tínhamos comida para levar a um amigo que estava em necessidade e não podia ir até o supermercado. Quando saímos, outra amiga mandou uma mensagem para perguntar se precisávamos de algo, e quando eu respondi que adoraríamos um pouco de fruta fresca, ela nos disse que poderíamos ir a qualquer momento. Ela tinha exatamente o que precisávamos. Juntos, tivemos o suficiente.

Vemos só uma pequena parte do que está à nossa frente. Outros testes só surgirão à medida que avançamos. Teremos que fazer tudo o que pudermos para estarmos prontos. Também precisamos lembrar a nós mesmos que não corremos sozinhos. Confiaremos em Deus e nos sustentaremos uns aos outros. É um momento para oferecer o que temos : nossas habilidades, nossos recursos, nosso tempo, nosso amor. E sim, até nossas cicatrizes.’


Fonte :

domingo, 29 de março de 2020

Cremos ser Jesus a ressurreição e a vida como ele diz?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

The Compass Magazine Living in the Shadow of the Cross: How Jesus ...
*Artigo do Padre José Antonio Pagola


‘Estamos demasiado presos pelo ‘presente’ para nos preocuparmos com o ‘futuro’. Submetidos a um ritmo de vida que nos atordoa e escraviza, oprimidos por uma informação asfixiante de notícias e acontecimentos diários, fascinados por mil atrativos que o desenvolvimento técnico coloca em nossas mãos, não parece que necessitemos de um horizonte mais amplo do que ‘esta vida’, em que nos movemos.

Para que pensar em ‘outra vida’? Não é melhor gastar todas as nossas forças em organizar o melhor possível a nossa existência neste mundo? Não deveríamos esforçar-nos ao máximo em viver esta vida de agora e calarmo-nos a respeito de todo o resto? Não é melhor aceitar a vida com a sua escuridão e os seus enigmas, e deixar o ‘além’ como um mistério do qual nada se sabe?

No entanto, o homem contemporâneo, como o de todas as épocas, sabe que, no fundo do seu ser, está sempre latente a pergunta mais séria e difícil de responder : o que acontecerá com todos e cada um de nós? Qualquer que seja a nossa ideologia ou a nossa fé, o verdadeiro problema que todos estamos enfrentando é o nosso futuro. Que fim nos espera?

Peter Berger recordou-nos com profundo realismo que ‘toda a sociedade humana é, em última instância, uma congregação de homens frente à morte’. Por isso, é precisamente ante a morte que aparece com mais claridade ‘a verdade’ da civilização contemporânea que, curiosamente, não sabe o que fazer com ela que não seja escondê-la e evitar ao máximo seu trágico desafio.

Mais honesta parece ser a posição de pessoas como Eduardo Chillida, que em algumas ocasiões se expressou nestes termos : ‘Da morte, a razão diz-me que é definitiva. Da razão, a razão diz-me que é limitada’.

É aqui onde temos de situar a posição do crente, que sabe lidar com realismo e modéstia o ato inevitável da morte, mas que o faz com uma confiança radical no Cristo ressuscitado. Uma confiança que dificilmente pode ser entendida ‘desde fora’ e que só pode ser vivida por quem escutou, alguma vez, no fundo do seu ser, as palavras de Jesus : ‘Eu sou a ressurreição e a vida’. Acreditas nisto?’


Fonte :

sexta-feira, 27 de março de 2020

Oração a São Gabriel para pedir força durante o sofrimento

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
*Artigo de Philip Kosloski,
escritor e designer gráfico

São Gabriel é um dos poucos arcanjos mencionados pelo nome na Bíblia. Ele aparece no Antigo Testamento, bem como no Evangelho da Anunciação, quando ele deu a boa-nova do nascimento de Jesus à Virgem Maria.

O arcanjo é frequentemente chamado de ‘anjo da misericórdia’, porque suas poucas aparições na Bíblia são acompanhadas de mensagens de consolo.

Afirma-se também que São Gabriel é o anjo que apareceu a Jesus quando Ele estava sofrendo no Getsêmani :

 ‘Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua. Apareceu-lhe então um anjo do céu para confortá-lo’ (Lucas 22, 42-43). 

A Enciclopédia Católica explica que : ‘Gabriel é mencionado apenas duas vezes no Novo Testamento, mas não é irracional supor que é ele quem… fortaleceu Nosso Senhor no jardim’.

Essa tradição também corresponde ao nome de ‘Gabriel’, traduzido como ‘Deus é minha força’.

Aqui está uma oração adaptada do livro de orações de São Filipe Neri, que invoca a ajuda de São Gabriel em meio ao sofrimento :

Ó Gabriel, que anunciou à Virgem Maria a encarnação do Filho único de Deus, e no jardim consolou e fortaleceu o Cristo oprimido, com medo e tristeza, eu te honro, ó espírito escolhido, e humildemente oro a ti para que sejas meu advogado em Jesus Cristo, meu Salvador, e em Maria, Sua Santíssima Virgem Mãe.

Em todas as minhas provações me ajuda, para que eu não seja vencido pela tentação e para que eu possa louvar e agradecer ao meu Deus em todas as coisas. Amém.


Fonte :

quarta-feira, 25 de março de 2020

O teólogo em tempos de crise

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Lee Man-hee, líder de igreja coreana, curvou-se no chão e pediu desculpas por causar a disseminação
Lee Man-hee, líder de igreja coreana, curvou-se no chão e pediu desculpas por causar a disseminação 'não intencional' do Covid-19

*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante

‘Recentemente, o líder da igreja sul-coreana Shincheonji, Man-hee, pediu desculpas pela disseminação do novo coronavírus atribuída à sua congregação, que estima-se ser responsável pela metade das infecções no país. Ele é acusado de não revelar os nomes dos fiéis que estavam contaminados, dificultando o rastreamento da doença.

Já em terras brasileiras, o pastor Silas Malafaia se recusou a interromper os cultos de sua igreja, vencendo uma batalha judicial contra o Ministério Público do Rio de Janeiro. Contudo, o líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo alterou seu posicionamento, mas manteve os templos abertos. ‘Tem uma coisa : eu vou ampliar a hora de igreja aberta, que igreja aqui não vai ficar fechada, não’, disse.

Embora distantes um do outro, esses casos revelam o quão irresponsáveis as lideranças religiosas podem ser ao considerar que estão fazendo a vontade de Deus. No caso da Coreia do Sul, a irresponsabilidade acarretou em contaminação maciça; no Rio de Janeiro, ainda não temos dados suficientes para avaliar o impacto dessas grandes reuniões, que só foram encerradas há alguns dias. Tendo em vista o histórico sul-coreano, não se esperam boas notícias.

Diante disso, é importante lembrar o papel fundamental que uma teologia pública de qualidade tem. Infelizmente, por falta de conhecimento teológico e bíblico, milhares de pessoas acreditam que deixar de ir a um culto ou a uma determinada celebração no templo lhes afastaria de Deus ou lhes tornaria pessoas de pouca fé. Muitas delas têm o coração sincero, desejoso de servir a Deus com todo empenho. Porém, dada a ausência de instrução, acabam se colocando em lugares que não deveriam estar, dando o que não deveriam dar e fazendo o que não deveriam fazer em momentos de crise como o que estamos passando.

Faz-se necessário, neste tempo, uma teologia cristã bem fundamentada, séria, e que consiga chegar a essas pessoas. Necessita-se de teologia comprometida com o Evangelho, que saia dos gabinetes e alcance as camadas da população que jamais terá acesso aos dicionários críticos teológicos, aos textos comparativos dos manuscritos de Mateus etc. Urge-se uma teologia que as impeça de serem levadas ao abismo por líderes religiosos que, aproveitando-se da ignorância de muitos, enriquecem seus bolsos enquanto matam os fiéis. Propor essa teologia, não obstante, é papel do teólogo que se reconhece chamado ao seu exercício junto da sociedade, a fim de que ela se torne mais consciente, justa e livre.’


Fonte :

terça-feira, 24 de março de 2020

Covid-19 e o amor de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

É comum buscar em Deus as repostas para uma pandemia, mas é preciso cuidado com as afirmações que fazemos em tempos de crise
É comum buscar em Deus as repostas para uma pandemia, mas é preciso cuidado com as afirmações que fazemos em tempos de crise

*Artigo de Tânia da Silva Mayer,
teóloga

‘A pandemia de Covid-19 isolou as pessoas umas das outras. A interrupção abrupta dos trabalhos e atividades e o confinamento amplamente orientado, não há dúvidas, já nos faz experimentar uma realidade que não estávamos acostumados, porque é realmente nova. E nunca mais seremos as mesmas pessoas depois que o vírus passar deixando à memória os estragos causados por todas as partes.

Enquanto nos refugiamos perplexos em nossas residências – os que as temos – corremos sérios riscos de receber e compartilhar informações equivocadas e falsas que em nada nos ajudam nesse momento de crise. Hoje, há uma infinidade de pessoas empenhadas em explicar a origem do mal que estamos vivendo. Logicamente, em um país que se confessa majoritariamente cristão, tais explicações viajam ao universo bíblico numa tentativa frustrada de comprovar a crise presente com base em narrativas de outras situações e contextos, como se ela tivesse sido prevista em tempos antigos.

Esse movimento, além de colocar o texto bíblico em chave anacrônica, o que por si só é extremamente comprometedor e prejudicial, visto que fora do contexto o texto pode servir de arma para diversas perversidades, ainda provoca um distanciamento dos crentes daquilo que fundamenta e alimenta a experiência do Deus de Jesus Cristo. Ao afirmarem que ‘a pandemia de coronavírus está embasada na bíblia’, muitos a colocam em face dos questionamentos sobre a origem do mal, atribuindo-o, necessariamente, a Deus. Nessa perspectiva, o mal expressa o desejo divino de punir a humanidade por seus muitos pecados. Nesse sentido, Deus não passa de um sádico, que se alegra com o sofrimento humano.

Se olharmos para Jesus, ele que nos abre as cortinas para o mistério divino, fazendo-nos conhecer e experimentar a graça de sermos também amados por Deus, veremos que justificar a pandemia com argumentos bíblicos é uma atitude irresponsável. O que podemos aprender com os textos bíblicos não é tanto sobre a origem do mal, mas o fato de que a humanidade foi concebida numa teia de fragilidade que, de tempos em tempos, a vida é ameaçada por razões externas ou mesmo por outras provocadas pelo próprio ser humano. Ademais, os textos bíblicos também iluminam nossa experiência atual ao nos mostrar que a indiferença perante o sofrimento, a dor e a morte não é a atitude desejável por parte dos crentes.

Por esse motivo, veremos que Jesus sempre se colocou em ação diante das pessoas que sofrem. Precisamente, diz-se do Nazareno que ele agia movido por compaixão e misericórdia, sempre no sentido de restabelecer a ordem na qual todos os sofredores e oprimidos gozassem de vida digna e feliz. Não é preciso ir longe nos exemplos bíblicos, basta-nos lembrar a figura do samaritano compadecido que socorre um homem violentado à beira do caminho, e que serviu de inspiração para a Campanha da Fraternidade deste ano. À luz deste samaritano, compreendemos mais da práxis de Jesus diante do mal que assola as pessoas e que as priva da vida sociorreligiosa do tempo bíblico.

A ação de Jesus é, num primeiro momento, fruto da misericórdia, tal como a do próprio Deus, o pai das misericórdias, que sempre se mostrou envolvido com seu povo nos momentos de tristeza e penúria, a fim de oferecer-lhe a possibilidade de uma vida melhor. Por isso mesmo, os cristãos e as cristãos nunca deixaram de atribuir à Jesus a face amorosa do pastor que cuida de todas as suas ovelhas e as carrega em seus ombros. Nessa esteira, Paulo ensina aos romanos e a todos nós que nada é capaz de nos apartar do amor de Deus, porque fomos reconhecidos em nossas fragilidades no corpo entregue à morte de Jesus e incluídos na dinâmica de vida nova que o Pai concedeu ao Filho na cruz.

Além disso, é preciso também anunciar o amor e misericórdia de Deus que se dispõem a erradicar da realidade o mal e a morte. Por isso mesmo, Jesus não pode ser somente anunciado como aquele que está sempre agindo compassivamente frente aos sofrimentos dos povos. Ao passar fazendo o bem, o Nazareno não deixou de denunciar as instâncias promotoras da dor e das injustiças praticadas sobre muitos. Por essa razão, os poderes religiosos, sociais, políticos e econômicos encontram-se denunciados porquanto fazem perdurar o mal sobre os pequenos e sofredores. Nesse sentido, diante da pandemia que vivemos, a catequese que devemos propagar é precisamente esta que ensina que Deus não quer o nosso mal e nem o nosso sofrimento e que nos dá, por seu amor e sua misericórdia, a esperança pela terra sem males, por um novo céu e uma nova terra, que hão de vir, embora não saibamos quando.’


Fonte :

domingo, 22 de março de 2020

Pandemia na Itália, os sacerdotes que deram suas vidas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Cruzes
*Artigo de Amedeo Lomonaco e Silvonei José,
jornalistas
   

Pelo menos 30 padres morreram na Itália devido à pandemia de Covid-19, pelo menos 16 vítimas são da diocese de Bergamo. Párocos, formadores, homens dedicados ao seu ministério, das suas vidas emerge a parte da Igreja que Francisco ama, aquela que tem o cheiro das suas ovelhas e partilha as suas condições e o seu destino.


‘Entre as pessoas positivas ao coronavírus há também muitos padres. Alguns estão em isolamento, outros em cuidados intensivos. Pelo menos trinta morreram, nestes dias, por causa de complicações relacionadas à pandemia. Especialmente neste momento dramático, os sacerdotes continuam a sua missão ao lado do povo. A eles, no dia 15 de março passado, durante o Angelus, foi a gratidão do Papa Francisco. Naquela ocasião, o Papa agradeceu ‘a todos os sacerdotes, a criatividade dos sacerdotes’. ‘Sacerdotes que pensam mil maneiras para estar perto do povo, para que o povo não se sinta abandonado’.  No dia 13 de março, durante a Missa na casa de Santa Marta, o Papa rezou para que ‘o Espírito Santo dê aos pastores a capacidade e o discernimento pastoral’. ‘Que o povo de Deus - disse Francisco - se sinta acompanhado pelos pastores e pelo conforto da Palavra de Deus’.

A Diocese de Bergamo em luto

Só na diocese de Bergamo, cidade gravemente afetada pela pandemia de Covid-19, pelo menos 16 padres morreram devido a consequências ou complicações relacionadas ao coronavírus. Monsenhor Tarcisio Ferrari foi, durante mais de 30 anos, pároco da igreja de Sant'Alessandro da Cruz em Bérgamo. ‘Dos muitos anos passados nesta paróquia - recordava com emoção recentemente - trago no meu coração a alegria da ordenação de cinco sacerdotes e de ter ajudado tanta gente pobre e necessitada. Depois a generosidade do povo, tendo encontrado tantas famílias e vivido muitos eventos e celebrações nesta maravilhosa paróquia’. O pe. Mariano Carrara estava doente há algum tempo mas, apesar da sua doença, não tinha interrompido o seu precioso trabalho a serviço da comunidade de Urgnano. Após um agravamento de suas condições de saúde, ele deu positivo ao coronavírus e morreu após hospitalização no hospital ‘Papa João XXIII’. Monsenhor Achille Bellotti, como novo sacerdote, foi capelão entre os emigrantes na Bélgica. Um tema, o das migrações, que se entrelaçou ao longo do seu ministério pastoral. ‘Há alguns elementos - recorda o Escritório dos Migrantes da diocese de Bérgamo - que distinguem as pessoas que vêm do mundo rural : concretude e determinação, mas também serenidade interior. Padre Achille absorveu este alimento da família’.

Padre Tarcisio Casali celebrou a Missa até alguns dias antes de sua morte. ‘Sou um padre - escrevera por ocasião do 50º aniversário de sacerdócio - que viveu desde o início do Concílio Vaticano II. Foram anos inesquecíveis, cheios de entusiasmo e esperança, porque na Igreja iniciava a surgir um dia de luz esplêndida. Era apenas a aurora, mas já se podia tocar os primeiros raios do sol nascente’. Padre Silvano Sirtoli nasceu em Bergamo, em 1960. ‘Sua vida - recorda pe. Mario Carminati, vigário episcopal para as atividades econômicas, seu companheiro de ordenação - foi um Evangelho vivido deixando uma grande marca em toda parte’. Padre Giancarlo Nava exerceu seu ministério no Paraguai durante vários anos. Neste país, onde iniciou uma escola de formação para agricultores, também sofreu ameaças por denunciar a pragas da corrupção e do tráfico de drogas e armas.

Padre Giuseppe Berardelli era arcipreste em Casnigo. A sua saudação foi sempre a mesma : ‘Paz e bem’. Quando a sua saúde se deteriorou, ele recusou um respirador para dá-lo àqueles que eram mais jovens. Padre Giosuè Torquati nasceu em Bérgamo em 1938. Sacerdote dehoniano, foi chamado por todos de ‘Mago da alegria’ porque animava espectáculos com truques em oratórios, paróquias, escolas e lares para idosos. Dizia que o Senhor ‘não queria salgueiros chorões’. Padre Umberto Tombini exerceu em particular o seu ministério sacerdotal na cidade de Zogno. Estas foram suas palavras dirigidas à sua comunidade alguns anos atrás : ‘Tenho muitos rostos no meu coração, dificilmente os esquecerei. Agradeço ao Senhor por me dado a oportunidade de conhecer todos vocês que me deram tanto carinho’.

Padre Gaetano Burini, após a ordenação, iniciou o seu ministério sacerdotal em 1962, em Peia. ‘Eu era muito animado pelos sermões dialogados - disse, recordando o tempo em que era pároco em Urgano -, que eu fazia durante a missa dominical dos jovens. Dois ou mais rapazes e uma jovem vinham ao presbitério e comunicavam em voz alta os sentimentos que as leituras bíblicas suscitavam neles’.  Padre Remo Luiselli tinha iniciado uma comunidade de reabilitação para toxicodependentes em Ghisalba em 1989. Em 1993 ele foi atacado por alguns jovens na casa paroquial. ‘Foi uma ação punitiva’, disse ele, ‘porque naqueles anos eu tinha conseguido enviar 43 jovens toxicodependentes para uma comunidade de reabilitação e isso foi contra os interesses sujos de alguém’. Durante quarenta anos, pe. Piero Paganessi foi o ponto de referência para os habitantes do Comonte em Seriate. Ele também era conhecido por seu compromisso com a Associação ‘Operadores da Paz’, que vem trabalhando na Índia desde 1992 para ajudar pessoas carentes no estado de Andra Pradesh.

Padre Enzo Zoppetti foi ordenado sacerdote em 1955. Foi primeiro coadjutor da paróquia de Camerata Cornello, depois pároco de Cantoni d'Oneta (1959-76) e depois de Rosciano. Mesmo na velhice, até quando a sua saúde o permitiu, ele ajudou várias paróquias. Monsenhor Francesco Perico dedicou o seu ministério em particular aos jovens. Muitos destes, agora idosos, lembram-se dele com muito carinho nas redes sociais. Padre Adriano Locatelli, no último dia primeiro de março, nos primeiros dias de restrições para combater a emergência ligada ao Coronavirus, concelebrou a Missa transmitida através do Facebook para a sua comunidade. Padre Guglielmo Micheli foi, entre outras coisas, diretor da Casa do Estudante em Bergamo de 1968 a 1997 e assistente eclesiático da Associação St. Guido de Anderlecht de 1993 a 2001.

As vítimas da diocese de Parma

A diocese de Parma também paga um alto preço. São seis os sacerdotes que morreram. Padre Giorgio Bocchi, pároco de Coltaro, e pe. Pietro Montali tinham 89 anos de idade. Um dos sacerdotes mais jovens que morreu por causa da pandemia é padre Andrea Avanzini, que morreu aos 55 anos de idade. As outras três vítimas da diocese de Parma são pe. Fermo Fanfoni, pároco de Mezzano Inferiore, pe. Giuseppe Fadani, da paróquia de Carignano, e pe. Franco Minardi, pároco de Ozzano Taro e ex-diretor da Cáritas diocesana.

Sacerdotes que morreram na diocese de Cremona

Na diocese de Cremona morreram quatro sacerdotes, também por causa da Covid-19. Padre Albino Aglio foi ordenado em 1949. Realizou seus primeiros anos de ministério como ‘sacerdote do Oratório’. Monsenhor Vincenzo Rini era padre e jornalista. Durante muitos anos dirigiu o semanário diocesano ‘La Vita Cattolica’. Foi também presidente da Agência de Imprensa Sir e da Federação Italiana dos Semanários Católicos (Fisc). Por causa de complicações ligadas ao coronavirus morreram dois cânones honorários da Catedral de Cremona : monsenhor Giuseppe Aresi, ordenado em 1953, e monsenhor Mario Cavalleri, o sacerdote mais velho da diocese. Ele tinha 104 anos de idade.

Na arquidiocese de Milão morreram três sacerdotes

Também a arquidiocese de Milão chora a morte de sacerdotes. O primeiro padre ambrosiano vítima do vírus é padre Marco Barbetta, 82 anos, capelão do Politécnico, diretor espiritual de muitos jovens. Ainda em Milão, depois de dias de luta nos cuidados intensivos, morreu padre Luigi Giussani, 70 anos, vigário da popular paróquia milanesa de São Protaso, homônimo do fundador de Comunhão e da Libertação. No dia da Solenidade de São José, chegou a notícia da morte de padre Ezio Bisiello, por muito tempo pároco de Ronco Briantino.

Primeira vítima no sul

O primeiro sacerdote do sul da Itália que faleceu após o teste positivo para coronavírus pertencia à diocese de Salerno-Campagna-Acerno. Era o pároco de Caggiano, padre Alessandro Brignone, que morreu aos 45 anos de idade. ‘Quantos funerais - recorda o seu confrade pe. Luigi Pierri – ele acompanhou! E agora nada de funeral para ele. Acompanhemo-lo pelo menos com a nossa fraterna e grata oração’.’


Fonte :

sexta-feira, 20 de março de 2020

Não temos missas, mas temos Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Pe. Giuseppe Corbari celebra missa sozinho diante de fotos dos seus paroquianos em Robbiano, na Itália 
Pe. Giuseppe Corbari celebra missa sozinho diante de fotos dos seus paroquianos em Robbiano, na Itália

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


Os sinos das igrejas soam ao meio dia. Posso ouvi-los da janela do meu quarto, diariamente, neste 12º dia de quarentena. Em uma cidade com mais de 900 igrejas, impossível não notá-los. Desta vez, essa sequência de batidas não nos chamam para a próxima missa que está para começar, mas nos recorda que Deus está ali. Mesmo que tantos questionem sua existência em meio a essa crise, é a Ele que esse som nos remete. Esses embalos se tornaram a única sinfonia que rompe o véu do silêncio que paira sobre a cidade eterna nesses dias. O céu azul, prelúdio da primavera, é como o sorriso confortante da natureza nesse período difícil. ‘Andrà tutto bene’ – Tudo vai ficar bem – se tornou a oração de um país.

Após o triste cortejo fúnebre com 60 caixões realizado pelo exército italiano, na cidade de Bérgamo, no norte da Itália, o país que canta na sacada dos prédios e expressa sua capacidade de superação em meio à essa situação devastadora, se prepara para iniciar o luto coletivo. Difícil saber quantas famílias ainda aguardam boas notícias vindas das unidades de terapia intensiva espalhadas pelo país e quantas já se prepararam para o pior. São milhares de campanhas de oração em meio a um país sem missas, mas nem por isso com menos fé. É aí que as circunstâncias fazem a religiosidade superar a religião; fazem a espiritualidade superar todas as práticas espirituais.

Padres que celebram missas com as fotos de fiéis, outros que as transmitem pela internet e aqueles que pedem pela alma dos companheiros sacerdotes que morreram com o Covid-19. Atitudes que levaram até o papa Francisco a tecer elogios. A ‘Igreja em saída’ que ele tanto evoca, demonstra a força que tem. E ele, salvaguardado em casa por causa de sua fragilidade física aos 83 anos, se une espiritualmente à dor de quem perdeu um ente querido da sua idade.

Na Itália, morreram 20 padres até agora, e a maioria trazia na bagagem mais de 50 anos dedicados à Igreja. Sem contar que, neste momento, há outras dezenas de padres infectados, dentre os quais alguns estão na UTI. Números que podem aumentar por causa da minimização do problema que se instalou em meados de fevereiro. Que a ignorância dos católicos ao redor do mundo não contribua para que essa triste história se repita em outros lugares.

Não foram poucos os protestos, inclusive no Brasil, contra as medidas tomadas pelos bispos italianos, que atendendo ao pedido do governo de evitar aglomerações, suspenderam a celebração de missas públicas em todo o território nacional. O alarde feito por muitos católicos brasileiros, alheios a uma realidade que só quem vive no segundo país mais atingido pela doença é capaz de avaliar, provém de uma ignorância coletiva em relação ao desastre causado por esse vírus. Uma espécie de ‘dissonância cognitiva’ que separa a fé do confronto com a realidade.

Quando tudo começou, estávamos no auge do inverno, enquanto os brasileiros tomavam banho de mar. Nem a possibilidade de missa campal, aqui, poderia ser cogitada. O vírus, esse inimigo silencioso mundial, poderia ocupar os bancos das igrejas sem que percebêssemos. Diante de emergências, medidas drásticas. E a Igreja cumpriu o seu papel civil e social. Uma decisão difícil, mas que condiz com aquilo que a instituição diz salvaguardar : a dignidade humana.

Enquanto isso, católicos corajosos e conscientes dos riscos – e sem missa! – prestam, diariamente, auxílio aos pobres atendidos pela Caritas que se ficaram desamparados após a pandemia. Dos 30 voluntários que serviam as refeições em uma das sedes do órgão na diocese de Roma, 27 decidiram ficar em casa por medo de contágio. Ou seja, 3 pessoas se desdobram para servir 400 pessoas todos os dias. Pergunto : dos que protestaram contra o fim das missas, quem está vivendo a dimensão da caridade nesse tempo de quaresma? A frase ‘a fé sem obras é morta’, eternizada por Tiago, também se aplica nesses casos.


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