*Artigo do Padre Michael Rennier,
sacerdote católico ordenado
através da Provisão Pastoral para
ex-clérigos episcopais que foi criado pelo
Papa São João Paulo II
‘Vi
recentemente um vídeo produzido pelo The New York Times sobre
um ecologista chamado Gordon Hempton.
O
vídeo segue-o enquanto ele procura lugares no fundo da floresta, livres de
ruídos artificiais.
Hempton
não está buscando o silêncio como meio de fuga. Em vez disso, ele está tentando
fazer uma conexão.
‘O silêncio não é a ausência de algo, mas a presença de tudo’, diz ele.
Se
ficamos em silêncio e ouvimos, se realmente ouvimos verdadeiramente os sons
sutis do mundo natural ou as palavras de outra pessoa, somos atraídos para uma
experiência mais completa da realidade que, de outra forma, teria passado por nós.
É a
chance de sair de nossas próprias cabeças, longe dos pensamentos que se agitam
naquele monólogo interno incessante que carregamos todos os dias.
É
também a chance de nos removermos dos ruídos que nos cercam diariamente.
Estamos nos afogando em barulho e, por isso, perdemos a capacidade de ouvir.
Hempton,
no final do vídeo, diz : ‘o que mais gosto é que, quando ouço, desapareço.
Eu desapareço.’
Para
ouvir, o ego deve ser deixado de lado. Pense nisso : quantos de nós não estão
realmente ouvindo um ao outro?
Quantos
de nós estão apenas esperando a outra pessoa parar de falar para que possa ser
a nossa vez? Estamos tão ansiosos por nos ouvir falar que não ouvimos mais;
simplesmente esperamos até a nossa vez de falar novamente.
Pense
em quanto estamos perdendo – a chance de nos acalmarmos e encontrar a calma
interior, a chance de aprender algo novo, a chance de fazer uma conexão humana
genuína.
Acima
de tudo, parece-me, devemos dedicar um tempo para ouvir porque amamos. Eu ouço
minha esposa me contar sobre o dia dela, porque quero compartilhar nossas
vidas. Eu ouço um amigo tomando café, porque essa é minha oferta para ele. Faço
uma pausa e ouço os passarinhos cantando, porque amo todos os dias da vida que
tenho o privilégio de experimentar nesta linda terra.
Um
dos presentes reais da Quaresma é que ela nos obriga a ouvir. É uma época de
contemplação silenciosa, marcada por oração e sacrifícios extras que nos tiram
da nossa rotina normal. Cada Quaresma, ao pensar em como quero dar um passo à
frente em minha disciplina espiritual, acho que é vital dedicar um tempo ao
silêncio para que eu possa realmente ouvir.
Sou
padre de uma paróquia e, muitas vezes, ao fechar a igreja à noite, apago as
luzes até que tudo o que é visível na escuridão seja o brilho vermelho da vela
do tabernáculo. Então eu me sento. Fico quieto. Eu escuto a poesia do espaço.
Todo lugar tem um som próprio. Qual é o som de uma igreja à noite? É o som do
braço de uma mãe em volta de uma criança.
Um
som pode transformar uma vida. Quando sento na minha igreja e ouço, sinto uma
sensação de paz que raramente sinto em outro lugar. Mas poderia ser qualquer
som, realmente.
Poderia
ser o som de trovões colidindo com colinas, gotas de chuva atingindo o telhado,
o rangido dos aviões quando eles alcançam o céu.
Pode
ser a respiração de um bebê no meio da soneca, ou uma pisada na neve, ou o som
de crianças rindo no quintal. Porque é como ler um poema, há uma verdadeira
arte em ouvir.
O
filósofo Erich Fromm acredita nisso, e em seu livro Art of Listening ele
fala sobre como toda arte tem princípios e técnicas racionais. Aqui estão suas
regras para se tornar um ouvinte melhor :
–
Concentre-se completamente.
–
Não pense em nada além de ouvir.
–
Aplique sua imaginação ao que você está ouvindo.
–
Crie empatia com o que você está ouvindo.
–
Descubra alguma forma de amor pela pessoa ou coisa a quem você está ouvindo.
Seguindo
essas diretrizes, cada um de nós pode praticar a arte de ouvir. É um hábito que
recompensará quem pratica.
Não
é apenas um ato de amor que os outros notarão com apreço, não apenas melhorará
nossos relacionamentos e nos ajudará a ter conversas melhores e mais
proveitosas, mas sempre que ouvirmos atentamente, ouviremos a presença de um
grande mistério, um antigo nutrir a presença embutida na criação. É a voz mansa
e delicada de Deus sussurrando.
É
hora de começarmos a ouvir.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/03/10/a-beleza-e-os-beneficios-de-buscar-mais-silencio-na-vida/
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