terça-feira, 30 de julho de 2019

Igrejas são mais do que lugares de peregrinação na Terra Santa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Igreja do Santo Sepulcro. Crédito: Eduardo Berdejo / ACI


‘As igrejas, os santuários e os mosteiros no Oriente Médio não são apenas destinos de peregrinação, mas também lugares de identidade e esperança para os cristãos locais que sofrem ameaças existenciais, manifestaram líderes religiosos locais.

Cristo habitou entre nós em Belém, no Egito, na Galileia e, claro, em Jerusalém. E, por seu Espírito Santo, Ele permaneceu presente ao longo dos séculos em Jerusalém, no Oriente Médio e até os confins da terra’, disse o Patriarca Theophilos III de Jerusalém, que acrescentou que ‘nossos locais sagrados contam as histórias da história de Deus conosco’.

Ninguém pode negar que esta região, o lugar do encontro divino-humano na história sagrada, é de fato o centro da terra’, declarou o Patriarca da Terra Santa em um evento no âmbito de uma reunião mundial sobre liberdade religiosa em Washington, D.C., na semana passada.

Theophilus III se dirigiu aos sacerdotes, líderes civis e religiosos em um evento sobre ‘Locais sagrados cristãos e lugares sagrados no Oriente Médio’, por ocasião da Conferência Ministerial para Promover a Liberdade Religiosa, organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos de 15 a 19 de julho em Washington, D.C..

A reunião contou com a participação de líderes religiosos e civis de todo o mundo, além de delegações de 106 países que se reuniram para discutir sobre a perseguição religiosa e estratégias para promover a liberdade religiosa.

O evento ‘Locais Sagrados’ foi patrocinado pela Comunidade Internacional do Santo Sepulcro e pelo Grupo de Trabalho do Instituto Hudson sobre os Cristãos e o Pluralismo Religioso no Oriente Médio.

Os conferencistas se centraram não só no significado espiritual dos locais de peregrinação em todo o Oriente Médio, mas também na importância vital que têm para os cristãos que vivem lá.

Theophilos é o patriarca número 141 da Igreja Ortodoxa Grega em Jerusalém, portanto, o líder cristão mais importante na Terra Santa.

Além disso, afirmou que ‘os atentados dos radicais contra as propriedades da Igreja em Jerusalém continuam’ e que os grupos ‘sabem muito bem que cada ataque contra um lugar sagrado representa outra ameaça à nossa identidade cristã’.

Nesse sentido, comentou que os locais sagrados estão ameaçados em várias frentes, incluindo vandalismo, ‘intimidação de colonos radicais’ e políticas hostis na legislatura do Knesset de Israel.

Segundo o patriarca, essas políticas cobrariam impostos municipais sobre as propriedades da Igreja em Jerusalém, como hospitais e escolas, o que poderia ‘arruinar’ as igrejas. Além disso, outro projeto de lei teria permitido ao Estado confiscar, supostamente em defesa dos inquilinos, terras vendidas por igrejas a compradores privados.

A decisão dos líderes católicos, ortodoxos, gregos e armênios, de fechar temporariamente a Igreja do Santo Sepulcro em fevereiro de 2018, foi por causa destas políticas. ‘Já era suficiente e também a hora de estabelecer os limites’, disse o Patriarca sobre o fechamento, afirmando também que ‘forças fora do nosso controle ameaçavam a santidade e a integridade de nossos lugares sagrados’.

Manter um só peregrino’ fora da igreja ‘é uma tragédia’, disse. No entanto, acrescentou que a solidariedade que milhões de pessoas em todo o mundo mostraram com as Igrejas foi alentadora.

A igreja reabriu depois que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, interveio nos esforços para impor a política fiscal e a cidade recuou nas propostas. O Patriarca manifestou que, quando a solução foi encontrada, ‘a luz da Ressurreição brilhou’.

Da mesma forma, expressou sua gratidão a Netanyahu e ao presidente israelense Reuven Rivlin por seus esforços para proteger os Lugares Sagrados, assim como ‘a contínua e fiel custódia dos lugares sagrados’ do rei Abdullah II da Jordânia. Do mesmo modo, agradeceu o apoio dos legisladores dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Além disso, destacou a vigília de oração de 11 de julho, que contou com a participação de outros patriarcas e líderes da Igreja na Porta de Jaffa, em Jerusalém, após a decisão da Suprema Corte de Israel contra a Igreja Ortodoxa Grega em um controverso acordo de terras que remonta a 2005.

O acordo envolveu a venda por parte da Igreja, mais tarde disputada, de hotéis dentro do Bairro Cristão da cidade para os colonos israelenses, uma transferência de propriedade que o patriarca disse que poderia afetar a ‘integridade’ do Bairro Cristão de Jerusalém, e possivelmente impedir o acesso de peregrinos a locais sagrados.

Uma declaração conjunta dos patriarcas e dos chefes das igrejas locais em Jerusalém qualificou o acordo de ‘infrutífero’ e disse que ameaçava o acordo de Status Quo da cidade.

Desta forma, Theophilos III disse que pediu aos funcionários locais que se unissem para apoiar Netanyahu e seu trabalho ‘para manter a rota de peregrinação aberta a todos e para manter o tecido histórico, multiétnico, multicultural e multirreligioso de nossa grande cidade, Jerusalém’.

No evento, discutiu-se sobre a preservação dos lugares sagrados na Terra Santa, assim como na Síria, Iraque e Egito.

Pe. Alexi Chehadeh, do Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e Todo o Oriente, contou que centenas de igrejas e mosteiros ‘em toda a Síria’ foram total ou parcialmente destruídos durante a guerra civil que afetou o país, e que isso significou bilhões de dólares para a sua reconstrução.

Não se pode ignorar a importância simbólica da reconstrução dos lugares sagrados’, reforçou o Patriarca e outros líderes cristãos.

Segundo Pe. Chehadeh, muitos locais sagrados do Patriarcado são igrejas que datam do século II ou III, e que reconstruí-los é ‘cuidar das raízes do cristianismo’ e ‘sinal de um ambiente pacífico’ que encoraje os cristãos a retornarem à Síria. Cerca de metade das comunidades cristãs sírias deixaram o país durante a guerra civil.

Pe. Salar Kajo, sacerdote em Teleskov, expressou que o Cardeal Louis Raphael I Sako, chefe da Igreja Católica Caldeéia, deu ordens para iniciar o processo de reconstrução na região de Nínive (Iraque), principalmente nas casas dos sobreviventes do genocídio cristão.

No entanto, o presbítero afirmou que ‘as pessoas insistiam em começar com os lugares sagrados, igrejas e mosteiros’. ‘Este é o único sinal de esperança que temos, e vamos voltar a esses lugares’, disse.

Por sua parte, a fundadora do grupo de órfãos coptos, Nermien Riad, comentou que depois da derrubada do presidente Hosni Mubarak, em 2011, no Egito, a Irmandade Muçulmana ‘veio depois das igrejas’.

Por que eles se dirigiram às igrejas? ‘Reconhecemos que há uma redução gradual do espaço público para os cristãos no Egito, porque os extremistas querem eliminar os ícones e as estátuas públicas’, disse Riad.

Também expressou que a exclusão dos cristãos dos espaços públicos possivelmente chegou ao esporte; atletas cristãos denunciaram atos de discriminação ao se associarem a clubes e à seleção nacional de futebol.

Nesse sentido, afirmou que ‘as igrejas se tornaram o centro da comunidade cristã e servem como um centro de apoio vital e um local de refúgio para os cristãos, o que os ajuda a enfrentar as mensagens insidiosas que os chamam ‘cidadãos de segunda classe’’.

O mais importante é o último vestígio de que existimos’, concluiu.


Fonte :

sexta-feira, 26 de julho de 2019

As 3 grandes Ordens Religiosas Militares da história da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Imagem relacionada
*Artigo adaptado do texto de Dom Estêvão Bettencourt (OSB),
monge do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro


‘Na sua acepção cristã primitiva, a expressão ordo militaris, justaposta a ordo ecclesiasticus (o clero), designava os fiéis leigos com a sua respectiva legislação; todo cristão, por efeito do Batismo e da Crisma, é, sim, um militante de Cristo. À medida que as ordens monásticas se foram desenvolvendo, ordo militaris (ordem militar) passou a ser o título de famílias religiosas organizadas para lutar em defesa da fé, dos pobres e dos oprimidos.

Já que o ideal das ordens militares se prende de perto ao do cavaleiro medieval, será oportuno lembrar, antes do mais, alguns traços característicos deste último.

1.      O cavaleiro medieval

Entre os múltiplos elementos com que os invasores bárbaros contribuíram para a formação da cultura e da mentalidade medievais, conta-se a instituição dos cavaleiros. Esta se foi delineando aos poucos : a princípio tinha a índole um tanto brutal que caracterizava tudo que se referia à guerra entre os bárbaros; mas, com o tempo, impregnou-se de mentalidade profundamente cristã. O cavaleiro foi-se mais e mais considerando servo de Deus, portador de missão religiosa; o Senhor Altíssimo lhe era apresentado como o primeiro Soberano, e a fidelidade ou a fé como a virtude básica.

Assim, as normas da cavalaria se tornaram autêntica escola de formação do jovem medieval, cujo programa se resumia no lema : «Minha alma, a Deus; minha vida, ao rei; meu coração, à dama; a honra, para mim». O cavaleiro aprendia não somente o manejo das armas e a técnica do combate, mas, a fim de disciplinar as paixões e servir devidamente aos seus nobres objetivos, era educado na prática das virtudes e do amor (amor a Deus e ao próximo).

A formação do cavaleiro se processava em três etapas :

  • Até os 7 anos, o candidato ficava sob os cuidados de sua mãe e das amas, que lhe insuflavam os rudimentos da educação cristã; passava a maior parte do tempo em jogos infantis. Aos sete anos, tornava-se pajem ou donzel (domicellus) e geralmente era transferido para a corte de um príncipe ou para o castelo de um senhor feudal, a cujo serviço ele se dedicava tanto em casa como na caça e em viagem. A instrução religiosa era-lhe ministrada pelo capelão do castelo, que, não raro, nos longos serões do inverno, lhe narrava os episódios do Antigo e do Novo Testamento, assim como a vida dos santos. Uma das grandes tarefas do pajem consistia na aprendizagem das sete «probitates» do cavaleiro : a natação, a equitação, o manejo do arco, o duelo, a caça, o jogo do xadrez, a arte da rima. A título de recreio, era-lhe dado ouvir o trovador, que periodicamente visitava o castelo, deleitando os ouvintes com suas canções e com as narrativas dos feitos exímios dos antigos heróis.

  • Aos 14 anos, o pajem era promovido a escudeiro, recebendo do sacerdote ao pé do altar a espada e o cinturão bentos, ao passo que as esporas de prata lhe eram fixadas aos pés pelos assistentes; estes, em seu nome, prometiam amor e lealdade. De então por diante, a ocupação principal do jovem era o uso das armas, que ele carregava ao acompanhar o seu senhor na guerra e na caça.

  • Aos 21 anos, o escudeiro era instituído cavaleiro numa cerimônia (dita adubamento) rica de simbolismo. Na véspera do grande dia purificava-se com um banho (comparado a novo batismo), após o qual se revestia de «cotta» (camisa) preta (símbolo da morte), túnica branca (emblema da pureza) e manto vermelho (significativo do sangue que ele devia estar pronto a derramar pela fé). Assim trajado, o candidato ia para a capela, onde passava a noite em «vigília de armas»; de manhã cedo confessava-se e participava da Santa Missa e recebia a Santa Comunhão. Seguia-se a investidura propriamente dita : após a bênção da espada, o candidato ouvia de joelhos a leitura dos seus futuros deveres, entre os quais primavam os de servir a Deus e à Igreja, não mentir, proteger os fracos. Feito isto, os padrinhos lhe impunham uma blusa, um casaco de malha, polainas de ferro e a espada; o cavaleiro jurava solenemente fidelidade aos seus ideais de guerreiro cristão; por fim, para encerrar o rito, o seu senhor tocava-o três vezes com a espada, dizendo : «Em nome de Deus, de São Miguel e de Nossa Senhora, constituo-te cavaleiro».
Infelizmente os varões assim preparados não estiveram sempre à altura do seu nobre programa. Aos poucos, o entusiasmo foi diminuindo; o cavaleiro se tornou burguês e cortesão; a entrada na cavalaria veio a ser obrigatória para que alguém gozasse dos privilégios da nobreza; em suma, o título de cavaleiro passou a ser mera distinção honorífica. Como quer que seja, a instituição, em seus tempos áureos, produziu frutos notáveis tanto no plano natural como no sobrenatural, dentro da sociedade medieval.

À luz destas ideias, entende-se que tenham surgido na Santa Igreja famílias religiosas que professavam empunhar as armas a serviço da mais nobre das causas, que é a do Reino de Cristo.

2.     As ordens militares

Se o combate ao jugo opressor da verdadeira fé pode tornar-se um ato louvável, e se, por ocasião das cruzadas, esse combate se tornava inevitável e era portanto estimulado e indulgenciado pela Santa Igreja, explica-se o surgimento, no séc. XII, de ordens religiosas que, como finalidade primária, se propunham o exercido da milícia sagrada : visavam guiar os peregrinos à Terra Santa, defendê-los contra piratas e acidentes de viagem, tratá-los em casos de enfermidade e, de maneira geral, promover os interesses do Reino de Cristo em meio aos muçulmanos e pagãos. O religioso militar vinha a ser um cruzado vitalício. Ora, a partir de 1099, quando se originaram os primeiros Estados cristãos no Oriente, a necessidade de reforços ocidentais era contínua. Também na Península Ibérica, a luta contra os ocupantes muçulmanos exigia prontidão e esforços continuados de milícias cristãs, assim como ocorria nos países bálticos devido às ameaças de normandos e outros pagãos. Foi para atender precisamente a tal estado de coisas que se constituíram as ordens militares.

Como se compreende, as novas famílias religiosas foram colocadas sob a dependência imediata da Santa Sé, única autoridade capaz de conceder licença aos religiosos para exercerem combates armados sem incorrer em irregularidade canônica (o uso de armas tinha sido, sim, repetidamente proibido aos monges por concílios dos séculos anteriores). A autoridade eclesiástica costumava indicar às novas ordens alguma das regras religiosas já existentes, como a de São Bento, a de Santo Agostinho, a dos cistercienses, regra que, naturalmente, devia ser adaptada à finalidade própria das ordens militares.

A direção suprema de cada uma dessas sociedades tocava a um grão-mestre, eleito pelos seus cavaleiros. Quanto aos membros da ordem, distribuíam-se em três categorias :

  • Fratres milites ou equites, cavaleiros, aos quais competiam as funções de empunhar as armas e de tratar dos enfermos em hospitais fundados na Terra Santa; 
  • Fratres servientes, escudeiros, que desempenhavam o papel de auxiliares dos cavaleiros, dedicando-se por vezes aos trabalhos manuais necessários na vida comum;  
  • Capelães ou sacerdotes encarregados dos ofícios religiosos nos oratórios da ordem (não será preciso frisar que os «fratres» anteriormente mencionados eram leigos). 
Também se podiam contar oblatos (donati) e mulheres remotamente ligados com cada ordem militar (assim, nos séculos XIII/XIV, as irmãs teutônicas surgiram ao lado da ordem masculina correspondente). Os irmãos emitiam os três votos religiosos de pobreza, obediência e castidade; em época tardia, porém, tornou-se lícito aos cavaleiros de Espanha e Portugal contrair matrimônio.

Para poderem desenvolver as suas vastas atividades, as ordens militares foram enriquecidas com amplos favores e privilégios no foro religioso. Necessitavam de sólido patrimônio material, que lhes foi sendo doado por benfeitores; tornaram-se assim proprietárias de consideráveis bens, em virtude dos quais exerciam grande influência não somente na vida civil, mas também dentro da Santa Igreja. Inegavelmente, granjearam múltiplos títulos de benemerência tanto pelos seus feitos corajosos como pela contribuição valiosa que trouxeram à cultura medieval : escolas, academias, arquitetura, historiografia e poesia foram por elas amplamente beneficiadas. Lamentavelmente, porém, o grande prestígio e os vultuosos patrimônios de que as ordens militares gozavam vieram a ser causas preponderantes de seu declínio : surgiram rivalidades entre elas, principalmente depois que cessou o domínio cristão na Terra Santa (fins do séc. XIII); desde então, tais ordens se viram destituídas de sua finalidade primordial (a ação militar ou hospitalar), obrigadas, por conseguinte, a se ocuparem de atividades para as quais não haviam sido criadas; isto não podia deixar de contribuir para solapar o espírito de fervor que movera os respectivos fundadores.

Tendo perdido o seu objetivo primário, algumas das ordens militares foram sendo sucessivamente extintas pela autoridade da Santa Sé (haja vista o famoso caso dos templários). Outras subsistem ainda hoje, secularizadas, porém, e, embora tenham conservado os antigos títulos cristãos, perderam seu significado propriamente religioso para tornar-se quadros de honra ao mérito nacional. Certas ordens militares ainda conservam hoje o caráter religioso, embora atenuado em relação ao que tinham na Idade Média (haja vista a Ordem de Malta, a dos Teutônicos).

Um breve catálogo das mais notáveis ordens militares ainda ajudará o leitor a compreender o significado delas.

3.     As três grandes ordens militares da história

Destacam-se por sua ampla ação as três grandes ordens dos Hospitalários (Ordem de Malta), dos Templários e dos Teutônicos.

a)   Os Hospitalários de São João de Jerusalém

Constituem a primeira fundação deste novo gênero. Como indica o nome, a princípio não eram guerreiros, mas dedicavam-se ao serviço de um hospital estabelecido no início do século XI próximo ao Santo Sepulcro. No começo do séc. XII, após a fundação do reino latino na Palestina, tomaram índole militar, propondo-se dar hospedagem aos peregrinos e defendê-los em seus itinerários por regiões pouco seguras. Uma vez extinta a dominação ocidental na Palestina (em 1291, com a queda de Akko), tiveram que se retirar para Chipre. Desta ilha passaram para Rodes, onde estabeleceram o centro de suas atividades – daí vem o nome de Ordem de Rodes, que lhes foi acrescentado. Em 1523 se viram obrigados a ceder a ilha de Rodes aos turcos otomanos; em 1530, o então imperador Carlos V da Alemanha lhes concedeu a ilha de Malta como feudo. A ordem tomou posição de prestígio na luta contra os invasores muçulmanos, muito intensa nessa época. A ordem foi reconhecida como soberana pelos imperadores Rodolfo II, em 1607, e Ferdinando II, em 1620, sendo o seu grão-mestre elevado à dignidade de príncipe da Alemanha. No século XVIII, porém, entrou em declínio e, em 1798, os cavaleiros tiveram que ceder a ilha de Malta a Napoleão. Muitos de seus bens no continente europeu foram secularizados. A sede da ordem, que desde o século XVI era conhecida como ‘Ordem de Malta’, passou a ser Catânia, no sul da Península Itálica. Atualmente, a sede é um território extraterritorial encravado em Roma. O Papa Leão XIII, em 1879, conferiu ao grão-mestre dos Cavaleiros de Malta as honras de cardeal e o título de Eminência. A ordem goza até hoje de soberania e representação diplomática. Mais informações sobre a Ordem de Malta neste artigo.

b)   A Ordem Teutônica 

Oficialmente chamada de Domus Hospitalis Sanctae Mariae Teutonicorum, foi inicialmente, como a de São João de Jerusalém, uma congregação hospitalar colocada sob a regra de Santo Agostinho e servia ao nosocômio de Santa Maria Nova, nas proximidades de Jerusalém. Em 1189, por ocasião do longo cerco de São João de Acre, dirigido pelos cristãos, os irmãos fundaram um hospital militar e, logo no ano seguinte, passaram a constituir uma autêntica ordem militar. Expandiram-se pela Europa, onde foram fundando províncias religiosas que exerceram notável influência através dos séculos. Em 27 de novembro de 1929, foi dada uma nova regra à ordem, que conserva caráter religioso.

c)    Os Templários

Os Fratres Militiae Templi foram uma ordem propriamente militar desde os seus inícios. Seu histórico e sorte final a transformaram na mais legendária e fascinante de todas as ordens da história em termos de imaginário popular e, pela complexidade da sua trajetória e de tudo o que se diz a seu respeito, tanto verdadeiro quanto fantasioso, falaremos dela em outro artigo especialmente dedicado.

4.    Outras ordens militares

Além das três grandes ordens militares recém-citadas, é importante considerar outras de menor projeção.

A Península Ibérica conheceu grande número de tais fundações, o que bem se entende ao se levar em conta a multissecular ocupação muçulmana que ali pesou sobre os cristãos.

Na Espanha :

  • A Ordem de Calatrava, instaurada em 1158 sob a Regra de Cister e aprovada em 1164 pelo Papa Alexandre III;
  • A Ordem de São Tiago da Espada ou de Compostela, instituída em 1170 aproximadamente, com o fim de proteger os fiéis que peregrinavam ao santuário de Compostela; 
  • A Ordem de Alcântara, cujos inícios datam de 1176, sob a Regra de Cister; 
  • A Ordem de Montesa, que foi fundada pelo rei de Aragão em 1317, após a supressão dos Templários, com o fim de defender o litoral nacional contra os sarracenos. Herdou parte dos bens dos Templários e permaneceu sob a tutela da Ordem de Calatrava. 
A administração destas quatro ordens, assim como o título de grão-mestre das mesmas, passaram, por disposição do Papa Adriano VI, para o rei da Espanha em 1523, sem que, contudo, tais sociedades perdessem seu caráter religioso. Aos cavaleiros de Calatrava, São Tiago e Alcântara, o Papa Paulo III concedeu, em 1540, a licença para contraírem matrimônio.

Em Portugal :

A Ordem de Aviz foi fundada em 1147 e aprovada pela Santa Sé em 1162, sendo incorporada à Ordem de Cristo, instituída em 1318, após a supressão dos Templários, pelos reis Diniz e Elisabete, e aprovada pelo Papa João XXII em 1319. À semelhança da Ordem de Calatrava, a de Cristo visava a defesa das fronteiras do reino contra os mouros, que ameaçavam a Algárvia; o seu grão-mestre veio a ser o monarca de Portugal.

Outros países :

Também na Itália, na França e na Alemanha se registraram semelhantes fundações, destinadas a atender a necessidades religiosas e civis da população nacional.


Fonte :

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Uma graça

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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 *Artigo do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano


‘Conheço um missionário que, aqui há uns anos, caiu numa emboscada. Ao passar por uma zona de guerrilha, o comboio de carros e caminhões em que viajava foi atacado e, enquanto os soldados da escolta e os guerrilheiros trocavam rajadas de metralhadora, ouviam-se as balas a assobiar por perto. O estrondo que faziam quando batiam no ferro dos caminhões ou dos carros era impressionante.

Houve quem morreu, e quem ficou ferido. Durante todo o tempo, o missionário, encolhido no fundo do carro, pensava que «a sua bala» podia chegar de um momento para o outro; o melhor era agradecer a Deus a vida que tinha vivido : era bonita e tinha valido a pena! Uma paz extraordinária enchia o seu coração e uma serenidade que só a presença de Deus podia explicar.

Mais tarde pensou : foi um momento em que tocou muito de perto a presença de Deus. Um verdadeiro momento de graça!

Ao pensar nesta história (verdadeira!), penso que muitos de nós, crentes, podemos lembrar momentos especiais da nossa vida em que sentimos Deus tão perto de nós que, gostamos de dizer, ‘tocamos com mão’ a sua presença benfazeja, a sua graça. São momentos preciosos que marcam para sempre a história da vida de cada um.

Pergunto a mim mesmo : para nós, são momentos excepcionais, mas, da parte de Deus, haverá momentos em que Ele está conosco e outros momentos em que não está? Certo, Deus não muda de um momento para o outro, Ele está sempre presente; é bonito pensar que a sua graça acompanha cada momento da nossa vida. O que muda é a nossa capacidade de nos sintonizarmos com Ele e com a sua graça. Certas experiências particulares da nossa vida levam-nos a perceber essa presença de maneira mais ou menos forte. Alguns santos parece que viviam sempre sintonizados com Deus. É, talvez, por isso que São Paulo convidava os cristãos a «rezar sempre sem cessar».

Uma outra pergunta : se Deus é Pai de todos os membros da família humana, de qualquer tempo e lugar, e se Cristo deu a sua vida por toda a humanidade, e não só por aqueles que acreditam nele, podemos pensar que essa sua presença benfazeja, a sua graça, é oferecida a todos os homens?

O Concílio Vaticano II (1965) deu uma resposta corajosa a essa pergunta : «E o que fica dito (o cristão é salvo por Cristo), vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos morreu Cristo [...], devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido» (Gaudium et spes, n.º 22).

Assim, fica claro que a graça de Deus – que recebemos sempre «por Cristo Nosso Senhor» – e que acompanha a vida de cada um de nós, cristãos, está sempre presente como oferta também na vida de todas as outras pessoas, mesmo os crentes de outras religiões ou os não-crentes. Não admira que em outras religiões se encontrem experiências maravilhosas da presença de Deus!

O centro de todos os trabalhos dos missionários e missionárias está aqui mesmo : através do anúncio do Evangelho, ajudamos as pessoas a descobrir essa graça que as acompanha desde sempre, e a conhecer Aquele que nos abriu essa possibilidade de viver com Deus cada dia da nossa vida, Jesus Cristo.


Fonte :

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O mito sobre as catacumbas


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Catacumba de Priscilla, em Roma.
Catacumba de Priscilla, em Roma

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Um dia li em uma rede social : ‘Pelo jeito, voltaremos ao período das catacumbas’. E é muito comum que as pessoas associem os primeiros cristãos a esses cemitérios subterrâneos, ativos entre os séculos II e V e redescobertos só no século XVI. Primeiro entendamos o que são essas galerias repletas de sepulturas para depois desfazermos alguns mitos.

Antes de mais nada, devemos salientar que a descoberta desses lugares emblemáticos revolucionou o estudo a respeito da história dos primeiros cristãos. Como muitos sabem, foi possível conhecer grande parte da iconografia cristã e alguns costumes dos primeiros seguidores de Cristo através das várias inscrições deixadas nas paredes dessas galerias. As figuras do bom pastor, do ‘orante’, do monograma de Cristo e do peixe podem ser vistas ainda hoje pelos visitantes.

O ‘R.I.P’, por exemplo, sigla bastante propagada hoje nas redes sociais, significa ‘Descanse em paz’, Requiescant in pace em latim. Tal saudação foi encontrada pela primeira vez em uma lápide cristã do século IV.  E como não falar das invocações ‘Paule et Petre petite…’, voltadas aos mártires mais importantes da cristandade, as quais atestam que os cristãos do século III já acreditavam na comunhão e na intercessão dos santos?

Missas e perseguições

A indústria do cinema, baseada nas primeiras cartilhas da história do cristianismo, retrata que os primeiros cristãos, no período das perseguições, se escondiam nas catacumbas e lá realizavam suas celebrações litúrgicas. E tais afirmações entraram em cheio no imaginário popular.

Há uma confusão enorme a respeito dessa interpretação, pois as catacumbas, para início de conversa, eram locais públicos para o sepultamento dos mortos, chamadas posteriormente de coemeterium (cemitério - dormitório) pelos primeiros cristãos. Alguns desses terrenos eram de propriedade privada e funcionavam com o aval do império. Seguindo um costume da época, os mortos deveriam ser enterrados fora dos muros da cidade. Daí a origem do nome ‘Basílica de São Paulo fora dos muros’, a igreja onde foram depositados os restos mortais do apóstolo Paulo, que fica localizada em Roma.

Sendo assim, é no mínimo impensável que um cristão se escondesse em um lugar que era conhecido por todos. O que podemos dizer é que era um local de peregrinação, uma vez que os primeiros mártires foram sepultados e, consequentemente, cultuados nesses lugares. Só em São Calisto, estima-se que centenas de cristãos tenham sido enterrados, dentre os quais 9 papas.

Já em relação aos cultos religiosos, eles eram realizados sobretudo nas casas dos primeiros cristãos, as chamadas domus ecclesiae. Alguns desses lugares foram doados à Igreja e, por conseguinte, preservaram o nome de seus proprietários, como o caso da Basílica de São Clemente, em Roma, cujo dono era Clemente.

Não há fontes que atestem que os cristãos celebravam missas nas catacumbas. No entanto, sabe-se que eles celebravam o refrigerium, uma prática de origem pagã que consistia na realização de um banquete em honra ao morto. E daqui nasce a confusão de que, nas catacumbas, os cristãos celebrassem o banquete da Eucaristia. Na famosa catacumba de São Sebastião, por exemplo, havia um espaço reservado para isso. No local, foram encontradas várias inscrições At Paulum et Petrum refrigeravi, uma vez que os corpos dos dois apóstolos teriam sido transportados provisoriamente para lá.

É interessante confrontarmos os mitos que criamos com os estudos mais recentes a respeito da história do cristianismo. Ao contrário do que muitos pensam, o interesse pelas fontes nos leva a viver uma fé mais enraizada e menos ‘espetacularizada’. A melhor propaganda do cristão é seu testemunho, não o proselitismo do ‘vale-tudo’, repleto de informações infundadas. Sigamos em frente na busca e no amor pela verdade.


Fonte :

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Por que desisti do meu trabalho na NASA para ser freira?


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Cientistas creem em teorias que ainda não podem ser provadas, como a teoria das cordas, e isso também é fé, algo que não é exclusividade de religiosos.
Cientistas creem em teorias que ainda não podem ser provadas,
como a teoria das cordas, e isso também é fé,
algo que não é exclusividade de religiosos.

*Artigo de Libby Osgood,
noviça, C.N.D.
Tradução : Ramón Lara



‘Dez. Nove. Oito. Sete. Eu estava na sala de controle do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, em Maryland, em 11 de junho de 2008, com meus colegas engenheiros e cientistas, contando os segundos finais até o lançamento do nosso satélite. ‘Por favor, Deus’, implorei. ‘Que dê certo tudo!

Seis. Cinco. Quatro. Vestindo saltos e uma saia preta trabalhada com apenas um detalhe rosa, aos 25 anos, eu era a pessoa mais jovem em uma sala cheia de calças e gravatas. ‘O que estou fazendo aqui?’ Eu me maravilhei. ‘Como posso estar falando em um fone de ouvido para o Cabo Canaveral?

Três. Dois. Um. Lançamento. Eu estava colada ao monitor do meu computador, observando simultaneamente os sinais vitais do satélite e um vídeo ao vivo da plataforma de lançamentos na Flórida. Como engenheira de sistemas, meu papel era encontrar e consertar problemas e ser um ponto de conexão entre os outros engenheiros. Suspirei de alívio quando a fumaça saiu dos motores e o foguete desapareceu da tela. Agora, o trabalho real pode começar : as operações no espaço que o satélite foi planejado para executar.

A maioria das pessoas só ouve os últimos 10 segundos da contagem regressiva antes do lançamento de um foguete. Na realidade, dura horas e requer vários dias de ensaio. Os poucos minutos estimulantes são precedidos por meses de trabalho tedioso. Minha jornada de engenheira aeroespacial até me tornar uma irmã religiosa seguiu um cronograma semelhante. Não há uma versão de 10 segundos da minha história de vocação. Incluiu anos de questionamento e trabalho de base, culminando em alguns minutos mágicos de clareza, seguidos pelas operações reais, até um milhão de ‘sins’ que devem ser dados repetidamente após o compromisso inicial com a vida religiosa.

Osgood diz que sempre separou seu trabalho como engenheira e sua conexão com a Igreja.

Logo após o lançamento de 2008, eu me vi trabalhando em um ritmo mais lento com uma construtora que trabalha para a NASA em Phoenix. O ritmo era mais devagar, cheio de reuniões e cubículos. Comecei a me sentir inquieta e, depois de dois anos, decidi ir ao Quênia com uma organização chamada Mikinduri Children of Hope, para ajudar a fornecer serviços médicos, odontológicos e oftalmológicos em uma pequena aldeia. Nesse momento, estava certa de que, mesmo sem qualquer treinamento médico, estaria bastante ocupada; e depois de incontáveis horas olhando para um satélite de metal imóvel, fiquei ansiosa e comecei a querer trabalhar com as pessoas.

Eu me apaixonei pelo Quênia. O campo era exuberante e verde em alguns lugares; havia cores brilhantes pintadas nos edifícios simples de lata com anúncios das fraldas Huggies e de uma marca de preservativos. Eu vi no povo queniano o que significa irradiar o amor de Deus. Isso era algo que eu não tinha visto ou sentido em Phoenix. Antes de partir do Quênia, resolvi deixar meu emprego, desistir do salário confortável e cada vez maior e tirar um ano sabático para buscar alegria.

Depois de um ano de atividades em família, fotos, yoga e viagens de carro, comecei a trabalhar como professora de engenharia na University of Prince Edward Island. Por seis anos, orientei alunos na descoberta do design de engenharia, enquanto fazia meu Ph.D. Eu voltava ao Quênia todo mês de fevereiro e envolvi meus alunos nas viagens o máximo possível para que pudessem desenvolver suas habilidades enquanto ajudavam pessoas que realmente precisavam.

Tornei-me uma pessoa cada vez mais envolvida com a Igreja e ativa em um novo grupo jovens adultos de uma paróquia diocesana. Íamos à missa, participávamos das refeições e debatíamos questões teológicas. Mas eu via esse meu lado católico como algo que fazia apenas nos finais de semana. Considerava minha religião e minha profissão como duas partes distintas de mim, em vez de um todo integrado.

Em 2015, fiz uma viagem de fim de semana com alguns amigos do grupo de jovens adultos da minha igreja, incluindo uma irmã da Congregação de Notre Dame. Passamos uma noite em cabanas rústicas em Meat Cove, Nova Escócia, sem eletricidade ou água corrente, rodeados por um oceano cheio de baleias e um céu cheio de estrelas. Sentada na varanda, tentando resolver os problemas do mundo, a discussão passou para o tópico do ministério. Mas eu nunca senti que essa palavra se aplicava a mim. Quando expressei minha frustração com a palavra, meus amigos olharam assustados.

Sua vida é um ministério’, disseram eles.

Eu recusei: ‘Eu ensino engenharia, isso é tudo.’

Como se estivesse me vendo pela primeira vez, a irmã religiosa perguntou : ‘Você sabe o que fazemos?’ Quando não respondi, ela explicou que a ‘educação libertadora’, o carisma das religiosas de Notre Dame, encoraja irmãs a empoderar e educar em qualquer forma que libere o espírito humano.

Por alguns segundos estimulantes, vi toda a minha vida claramente integrada. Percebi que não precisava evangelizar ou mencionar Deus no trabalho, pois estava exercendo um ministério junto aos meus alunos e colegas simplesmente amando-os e tratando-os como pessoas dignas e santas. Esse foi o momento do lançamento.

A noção de educação libertadora e a potencial promessa que ela tinha para o meu futuro como uma irmã religiosa abalou todo meu mundo. Depois de quase duas semanas sentindo uma alegria intensa, entendi que esse sentimento era mais do que apenas isso. Apareci na porta da irmã e pedi que me ‘explicasse essa coisa de freira’. Ela riu, conversamos, e eu fui embora com respostas às minhas perguntas. Quase quatro anos depois, estou chegando ao final do meu noviciado e farei meus primeiros votos neste verão.

É quando o trabalho real acontece, após os emocionantes segundos finais da contagem regressiva. Além de oração, aulas e ministérios, minhas tarefas foram atípicas : consertar banheiros, substituir pias, instalar pisos e pintar paredes. Antes disso, sentia vergonha quando estava na igreja (porque não estava fazendo mais pelo reino de Deus) e quando estava no trabalho (porque achavam que estava tentando fazer proselitismo).

Embora eu nunca tenha sido desencorajada a falar sobre religião no trabalho ou na escola, ninguém fazia isso e eu também não faria. Quando trabalhamos sem parar nos últimos meses antes do lançamento do satélite em 2008, nenhum dos outros engenheiros pediu folga aos domingos para frequentar a igreja, então eu também nunca fiz isso.

Minha censura auto imposta significava sacrificar o sono para encontrar uma missa durante minhas poucas horas de folga. Ao longo do meu último semestre no Ph.D., tinha que justificar minha ausência porque não estava conseguindo participar na conferência de pesquisa de estudantes - um pré-requisito para a pós-graduação. Estava muito envergonhada de dizer que estava indo em peregrinação a Medjugorje, então murmurei : ‘É uma coisa religiosa!’.  A religião era um tema tão tabu no departamento que a questão foi desconsiderada sem comentários.

O vazio onde a vergonha uma vez se assentou é agora um vaso aberto, preenchendo-se lentamente com buscas espiritualmente científicas, permitindo-me mergulhar na ciência desde uma perspectiva espiritual e na espiritualidade dentro de uma perspectiva científica. Teilhard de Chardin, S.J., Ilia Delio, O.S.F., e Kathleen Deignan, C.N.D., foram meus primeiros professores nessa integração e deram-me uma nova maneira de admirar o universo.

Ainda no noviciado, descobri cientistas que examinam suas crenças como se estivessem sob um microscópio, explorando como sua fé informa sua ciência e sua ciência informa sua fé. Li todos os livros que a biblioteca poderia oferecer sobre física quântica, para entender melhor o desdobramento do grandioso design de nosso Deus invisível, mas palpável.

Aprendi que a fé não é exclusiva daqueles que se consideram religiosos : acredito em um Deus de amor, e os físicos quânticos acreditam que sua teoria específica é verdadeira, seja a teoria das cordas ou a teoria dos laços quânticos, embora não tenham nenhuma evidência concreta.

Muitas vezes, as pessoas ficam intrigadas com a transição do trabalho nos satélites para o noviciado, mas a jornada pareceu natural para mim. Eu sempre confiei que Deus me deu a bússola e as ferramentas que preciso – e às vezes um empurrão na direção certa. Como aconteceu com o paleontólogo Teilhard de Chardin, conforme ele disse : ‘Deus está na ponta da minha caneta, da minha pá, da minha escova, da minha agulha – no meu coração e nos meus pensamentos’. Eu agora posso confortavelmente atestar que Deus está na ponta do meu marcador de quadro branco, na minha barra de espaço, na minha chave inglesa, no meu fone de ouvido – no meu coração e sempre em meus pensamentos.




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