terça-feira, 9 de julho de 2019

O penitente fala a Deus


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Papa Francisco confissão
*Artigo de Silvonei José,
jornalista


‘O Vaticano voltou a reafirmar nesta semana a inviolabilidade do segredo da confissão em resposta a iniciativas legislativas de vários países para revelar casos de abuso sexual de padres conhecidos em confissões.

Numa nota da Penitenciaria Apostólica, a Santa Sé indicou que não admite exceções ‘nem no âmbito eclesial nem no âmbito civil’ ao segredo da confissão, porque ‘provém diretamente do direito divino revelado’ e ‘está enraizado na própria natureza da Santa Comunhão’.

De fato, a essência do cristianismo e da Igreja está encerrada no sacramento da Reconciliação’, acrescenta a nota assinada pelo penitenciário-mor, cardeal Mauro Piacenza, que foi aprovada no dia 21 de junho passado pelo Papa Francisco e divulgada nesta semana.

Aponta-se que ‘uma certa ânsia de informação se espalhou nas últimas décadas... até o ponto em que o 'mundo da comunicação' parece querer 'substituir' a realidade’.

Segundo a Penitenciaria, ‘ao invocar a opinião da opinião pública como último tribunal, muitas vezes são divulgadas informações de todos os tipos, inclusive em relação às esferas mais privadas e confidenciais’.

Isso inevitavelmente afeta a vida eclesial e induz a ‘julgamentos imprudentes, prejudicando de forma ilegítima e irreparável a boa reputação dos outros, bem como o direito de cada pessoa a defender sua privacidade’, observa a nota.

Fala-se da existência de um ‘preocupante preconceito negativo para com a Igreja Católica’, especialmente a partir dos escândalos de abusos, ‘horrivelmente perpetrados por alguns membros do clero’.

Por esta razão, acrescenta-se que, mesmo depois das declarações dos episcopados de países que tentam introduzir iniciativas contra o segredo da confissão, a Santa Sé intervém para reafirmar os princípios do segredo confessional.

O confessor, segundo o Código de Direito Canônico, nunca está autorizado, por qualquer razão, a trair o penitente com palavras ou de qualquer outra forma’, recorda.

É também ‘absolutamente proibido ao confessor fazer uso do conhecimento obtido com a confissão’.

O sigilo sacramental ‘deve ser mantido’ mesmo se o confessor não conceda a absolvição.

O cardeal Piacenza recordou ao Vatican News que ‘é oportuno destacar que o texto da Nota não pode e não quer ser de algum modo uma justificação ou uma forma de tolerância dos execráveis casos de abusos perpetrados por parte de membros do clero’. ‘Nenhum compromisso é aceitável no promover a proteção dos menores e das pessoas vulneráveis e na prevenção e combate a todas as formas de abuso, no espírito do que tem sido constantemente reafirmado pelo Papa Francisco e recentemente regulado com o Motu Proprio 'Vox estis lux mundi' (7 de maio de 2019)’.

Ao publicar a Nota sobre a importância do fórum interno e a inviolabilidade do sigilo sacramental - acrescenta -, é certa convicção da Penitenciaria de que ‘a defesa do sigilo sacramental e a santidade da confissão nunca poderão constituir alguma forma de conivência com o mal, ao contrário, representam o único verdadeiro antídoto ao mal que ameaça o homem e o mundo inteiro; são a real possibilidade de abandonar-se ao amor de Deus, de deixar-se converter, e transformar-se por este amor…’.

De acordo com o penitenciário-mor, além disso, no que diz respeito à ‘absoluta inviolabilidade do sigilo sacramental’, ‘é essencial insistir sobre a incomparabilidade do sigilo confessional com o sigilo profissional a que estão sujeitas certas categorias (médicos, farmacêuticos, advogados, etc.), a fim de evitar que as legislações seculares a apliquem ao sigilo - inviolável –, derrogações legitimamente previstas para o segredo profissional.’

O segredo da confissão ‘não é uma obrigação imposta a partir do exterior, mas uma exigência intrínseca do sacramento e, como tal, não pode ser cancelado nem mesmo pelo penitente’. O penitente não fala ao confessor-homem, mas a Deus, portanto tomar posse daquilo que é de Deus seria um sacrilégio.


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