Igreja do Santo Sepulcro. Crédito: Eduardo Berdejo / ACI
‘As
igrejas, os santuários e os mosteiros no Oriente Médio não são apenas destinos
de peregrinação, mas também lugares de identidade e esperança para os cristãos
locais que sofrem ameaças existenciais, manifestaram líderes religiosos locais.
‘Cristo
habitou entre nós em Belém, no Egito, na Galileia e, claro, em Jerusalém. E,
por seu Espírito Santo, Ele permaneceu presente ao longo dos séculos em
Jerusalém, no Oriente Médio e até os confins da terra’, disse o Patriarca
Theophilos III de Jerusalém, que acrescentou que ‘nossos locais sagrados contam
as histórias da história de Deus conosco’.
‘Ninguém
pode negar que esta região, o lugar do encontro divino-humano na história
sagrada, é de fato o centro da terra’, declarou o Patriarca da Terra Santa
em um evento no âmbito de uma reunião mundial sobre liberdade religiosa em
Washington, D.C., na semana passada.
Theophilus
III se dirigiu aos sacerdotes, líderes civis e religiosos em um evento sobre ‘Locais
sagrados cristãos e lugares sagrados no Oriente Médio’, por ocasião da
Conferência Ministerial para Promover a Liberdade Religiosa, organizada pelo
Departamento de Estado dos Estados Unidos de 15 a 19 de julho em Washington,
D.C..
A
reunião contou com a participação de líderes religiosos e civis de todo o
mundo, além de delegações de 106 países que se reuniram para discutir sobre a
perseguição religiosa e estratégias para promover a liberdade religiosa.
O
evento ‘Locais Sagrados’ foi patrocinado pela Comunidade Internacional
do Santo Sepulcro e pelo Grupo de Trabalho do Instituto Hudson sobre os
Cristãos e o Pluralismo Religioso no Oriente Médio.
Os
conferencistas se centraram não só no significado espiritual dos locais de
peregrinação em todo o Oriente Médio, mas também na importância vital que têm
para os cristãos que vivem lá.
Theophilos
é o patriarca número 141 da Igreja Ortodoxa Grega em Jerusalém,
portanto, o líder cristão mais importante na Terra Santa.
Além
disso, afirmou que ‘os atentados dos radicais contra as propriedades da
Igreja em Jerusalém continuam’ e que os grupos ‘sabem muito bem que cada
ataque contra um lugar sagrado representa outra ameaça à nossa identidade
cristã’.
Nesse
sentido, comentou que os locais sagrados estão ameaçados em várias frentes,
incluindo vandalismo, ‘intimidação de colonos radicais’ e políticas
hostis na legislatura do Knesset de Israel.
Segundo
o patriarca, essas políticas cobrariam impostos municipais sobre as
propriedades da Igreja em Jerusalém, como hospitais e escolas, o que poderia ‘arruinar’
as igrejas. Além disso, outro projeto de lei teria permitido ao Estado
confiscar, supostamente em defesa dos inquilinos, terras vendidas por igrejas a
compradores privados.
A
decisão dos líderes católicos, ortodoxos, gregos e armênios, de fechar
temporariamente a Igreja do Santo Sepulcro em fevereiro de 2018, foi por causa
destas políticas. ‘Já era suficiente e também a hora de estabelecer os
limites’, disse o Patriarca sobre o fechamento, afirmando também que ‘forças
fora do nosso controle ameaçavam a santidade e a integridade de nossos lugares
sagrados’.
‘Manter
um só peregrino’ fora da igreja ‘é uma tragédia’, disse. No entanto,
acrescentou que a solidariedade que milhões de pessoas em todo o mundo
mostraram com as Igrejas foi alentadora.
A
igreja reabriu depois que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel,
interveio nos esforços para impor a política fiscal e a cidade recuou nas
propostas. O Patriarca manifestou que, quando a solução foi encontrada, ‘a
luz da Ressurreição brilhou’.
Da
mesma forma, expressou sua gratidão a Netanyahu e ao presidente israelense
Reuven Rivlin por seus esforços para proteger os Lugares Sagrados, assim como ‘a
contínua e fiel custódia dos lugares sagrados’ do rei Abdullah II da
Jordânia. Do mesmo modo, agradeceu o apoio dos legisladores dos Estados Unidos
e do Reino Unido.
Além
disso, destacou a vigília de oração de 11 de julho, que contou com a
participação de outros patriarcas e líderes da Igreja na Porta de Jaffa, em
Jerusalém, após a decisão da Suprema Corte de Israel contra a Igreja Ortodoxa
Grega em um controverso acordo de terras que remonta a 2005.
O
acordo envolveu a venda por parte da Igreja, mais tarde disputada, de hotéis
dentro do Bairro Cristão da cidade para os colonos israelenses, uma
transferência de propriedade que o patriarca disse que poderia afetar a ‘integridade’
do Bairro Cristão de Jerusalém, e possivelmente impedir o acesso de peregrinos
a locais sagrados.
Uma
declaração conjunta dos patriarcas e dos chefes das igrejas locais em Jerusalém
qualificou o acordo de ‘infrutífero’ e disse que ameaçava o acordo de
Status Quo da cidade.
Desta
forma, Theophilos III disse que pediu aos funcionários locais que se unissem
para apoiar Netanyahu e seu trabalho ‘para manter a rota de peregrinação
aberta a todos e para manter o tecido histórico, multiétnico, multicultural e
multirreligioso de nossa grande cidade, Jerusalém’.
No
evento, discutiu-se sobre a preservação dos lugares sagrados na Terra Santa,
assim como na Síria, Iraque e Egito.
Pe.
Alexi Chehadeh, do Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e Todo o Oriente,
contou que centenas de igrejas e mosteiros ‘em toda a Síria’ foram total
ou parcialmente destruídos durante a guerra civil que afetou o país, e que isso
significou bilhões de dólares para a sua reconstrução.
‘Não
se pode ignorar a importância simbólica da reconstrução dos lugares sagrados’,
reforçou o Patriarca e outros líderes cristãos.
Segundo
Pe. Chehadeh, muitos locais sagrados do Patriarcado são igrejas que datam do
século II ou III, e que reconstruí-los é ‘cuidar das raízes do cristianismo’
e ‘sinal de um ambiente pacífico’ que encoraje os cristãos a retornarem
à Síria. Cerca de metade das comunidades cristãs sírias deixaram o país durante
a guerra civil.
Pe.
Salar Kajo, sacerdote em Teleskov, expressou que o Cardeal Louis Raphael I
Sako, chefe da Igreja Católica Caldeéia, deu ordens para iniciar o processo de
reconstrução na região de Nínive (Iraque), principalmente nas casas dos
sobreviventes do genocídio cristão.
No
entanto, o presbítero afirmou que ‘as pessoas insistiam em começar com os
lugares sagrados, igrejas e mosteiros’. ‘Este é o único sinal de
esperança que temos, e vamos voltar a esses lugares’, disse.
Por
sua parte, a fundadora do grupo de órfãos coptos, Nermien Riad, comentou que
depois da derrubada do presidente Hosni Mubarak, em 2011, no Egito, a Irmandade
Muçulmana ‘veio depois das igrejas’.
Por
que eles se dirigiram às igrejas? ‘Reconhecemos que há uma redução gradual
do espaço público para os cristãos no Egito, porque os extremistas querem
eliminar os ícones e as estátuas públicas’, disse Riad.
Também
expressou que a exclusão dos cristãos dos espaços públicos possivelmente chegou
ao esporte; atletas cristãos denunciaram atos de discriminação ao se associarem
a clubes e à seleção nacional de futebol.
Nesse
sentido, afirmou que ‘as igrejas se tornaram o centro da comunidade cristã e
servem como um centro de apoio vital e um local de refúgio para os cristãos, o
que os ajuda a enfrentar as mensagens insidiosas que os chamam ‘cidadãos de
segunda classe’’.
‘O
mais importante é o último vestígio de que existimos’, concluiu.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://www.acidigital.com/noticias/igrejas-sao-mais-do-que-lugares-de-peregrinacao-na-terra-santa-72452
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