Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Cientistas creem em teorias que ainda não podem ser provadas,
como a teoria das cordas, e isso também é fé,
algo que não é exclusividade de religiosos.
*Artigo de Libby Osgood,
noviça, C.N.D.
Tradução :
Ramón Lara
‘Dez.
Nove. Oito. Sete. Eu estava na sala de controle do Centro de Voos Espaciais
Goddard da NASA, em Maryland, em 11 de junho de 2008, com meus colegas
engenheiros e cientistas, contando os segundos finais até o lançamento do nosso
satélite. ‘Por favor, Deus’, implorei. ‘Que dê certo tudo!’
Seis.
Cinco. Quatro. Vestindo saltos e uma saia preta trabalhada com apenas um
detalhe rosa, aos 25 anos, eu era a pessoa mais jovem em uma sala cheia de
calças e gravatas. ‘O que estou fazendo aqui?’ Eu me maravilhei. ‘Como
posso estar falando em um fone de ouvido para o Cabo Canaveral?’
Três.
Dois. Um. Lançamento. Eu estava colada ao monitor do meu computador, observando
simultaneamente os sinais vitais do satélite e um vídeo ao vivo da plataforma
de lançamentos na Flórida. Como engenheira de sistemas, meu papel era encontrar
e consertar problemas e ser um ponto de conexão entre os outros engenheiros.
Suspirei de alívio quando a fumaça saiu dos motores e o foguete desapareceu da
tela. Agora, o trabalho real pode começar : as operações no espaço que o
satélite foi planejado para executar.
A
maioria das pessoas só ouve os últimos 10 segundos da contagem regressiva antes
do lançamento de um foguete. Na realidade, dura horas e requer vários dias de
ensaio. Os poucos minutos estimulantes são precedidos por meses de trabalho
tedioso. Minha jornada de engenheira aeroespacial até me tornar uma irmã
religiosa seguiu um cronograma semelhante. Não há uma versão de 10 segundos da
minha história de vocação. Incluiu anos de questionamento e trabalho de base,
culminando em alguns minutos mágicos de clareza, seguidos pelas operações
reais, até um milhão de ‘sins’ que devem ser dados repetidamente após o
compromisso inicial com a vida religiosa.
Osgood
diz que sempre separou seu trabalho como engenheira e sua conexão com a Igreja.
Logo
após o lançamento de 2008, eu me vi trabalhando em um ritmo mais lento com uma
construtora que trabalha para a NASA em Phoenix. O ritmo era mais devagar,
cheio de reuniões e cubículos. Comecei a me sentir inquieta e, depois de dois
anos, decidi ir ao Quênia com uma organização chamada Mikinduri Children of
Hope, para ajudar a fornecer serviços médicos, odontológicos e
oftalmológicos em uma pequena aldeia. Nesse momento, estava certa de que, mesmo
sem qualquer treinamento médico, estaria bastante ocupada; e depois de
incontáveis horas olhando para um satélite de metal imóvel, fiquei ansiosa e
comecei a querer trabalhar com as pessoas.
Eu
me apaixonei pelo Quênia. O campo era exuberante e verde em alguns lugares;
havia cores brilhantes pintadas nos edifícios simples de lata com anúncios das
fraldas Huggies e de uma marca de preservativos. Eu vi no povo queniano o que
significa irradiar o amor de Deus. Isso era algo que eu não tinha visto ou
sentido em Phoenix. Antes de partir do Quênia, resolvi deixar meu emprego,
desistir do salário confortável e cada vez maior e tirar um ano sabático para
buscar alegria.
Depois
de um ano de atividades em família, fotos, yoga e viagens de carro, comecei a
trabalhar como professora de engenharia na University of Prince Edward Island.
Por seis anos, orientei alunos na descoberta do design de engenharia, enquanto
fazia meu Ph.D. Eu voltava ao Quênia todo mês de fevereiro e envolvi meus
alunos nas viagens o máximo possível para que pudessem desenvolver suas
habilidades enquanto ajudavam pessoas que realmente precisavam.
Tornei-me
uma pessoa cada vez mais envolvida com a Igreja e ativa em um novo grupo jovens
adultos de uma paróquia diocesana. Íamos à missa, participávamos das refeições
e debatíamos questões teológicas. Mas eu via esse meu lado católico como algo
que fazia apenas nos finais de semana. Considerava minha religião e minha
profissão como duas partes distintas de mim, em vez de um todo integrado.
Em
2015, fiz uma viagem de fim de semana com alguns amigos do grupo de jovens
adultos da minha igreja, incluindo uma irmã da Congregação de Notre Dame.
Passamos uma noite em cabanas rústicas em Meat Cove, Nova Escócia, sem
eletricidade ou água corrente, rodeados por um oceano cheio de baleias e um céu
cheio de estrelas. Sentada na varanda, tentando resolver os problemas do mundo,
a discussão passou para o tópico do ministério. Mas eu nunca senti que essa
palavra se aplicava a mim. Quando expressei minha frustração com a palavra,
meus amigos olharam assustados.
‘Sua
vida é um ministério’, disseram eles.
Eu
recusei: ‘Eu ensino engenharia, isso é tudo.’
Como
se estivesse me vendo pela primeira vez, a irmã religiosa perguntou : ‘Você
sabe o que fazemos?’ Quando não respondi, ela explicou que a ‘educação
libertadora’, o carisma das religiosas de Notre Dame, encoraja irmãs a
empoderar e educar em qualquer forma que libere o espírito humano.
Por
alguns segundos estimulantes, vi toda a minha vida claramente integrada.
Percebi que não precisava evangelizar ou mencionar Deus no trabalho, pois
estava exercendo um ministério junto aos meus alunos e colegas simplesmente
amando-os e tratando-os como pessoas dignas e santas. Esse foi o momento do
lançamento.
A
noção de educação libertadora e a potencial promessa que ela tinha para o meu
futuro como uma irmã religiosa abalou todo meu mundo. Depois de quase duas
semanas sentindo uma alegria intensa, entendi que esse sentimento era mais do
que apenas isso. Apareci na porta da irmã e pedi que me ‘explicasse essa
coisa de freira’. Ela riu, conversamos, e eu fui embora com respostas às
minhas perguntas. Quase quatro anos depois, estou chegando ao final do meu
noviciado e farei meus primeiros votos neste verão.
É
quando o trabalho real acontece, após os emocionantes segundos finais da
contagem regressiva. Além de oração, aulas e ministérios, minhas tarefas foram
atípicas : consertar banheiros, substituir pias, instalar pisos e pintar
paredes. Antes disso, sentia vergonha quando estava na igreja (porque não
estava fazendo mais pelo reino de Deus) e quando estava no trabalho (porque achavam
que estava tentando fazer proselitismo).
Embora
eu nunca tenha sido desencorajada a falar sobre religião no trabalho ou na
escola, ninguém fazia isso e eu também não faria. Quando trabalhamos sem parar
nos últimos meses antes do lançamento do satélite em 2008, nenhum dos outros
engenheiros pediu folga aos domingos para frequentar a igreja, então eu também
nunca fiz isso.
Minha
censura auto imposta significava sacrificar o sono para encontrar uma missa
durante minhas poucas horas de folga. Ao longo do meu último semestre no Ph.D.,
tinha que justificar minha ausência porque não estava conseguindo participar na
conferência de pesquisa de estudantes - um pré-requisito para a pós-graduação.
Estava muito envergonhada de dizer que estava indo em peregrinação a
Medjugorje, então murmurei : ‘É uma coisa religiosa!’. A religião
era um tema tão tabu no departamento que a questão foi desconsiderada sem
comentários.
O
vazio onde a vergonha uma vez se assentou é agora um vaso aberto,
preenchendo-se lentamente com buscas espiritualmente científicas, permitindo-me
mergulhar na ciência desde uma perspectiva espiritual e na espiritualidade
dentro de uma perspectiva científica. Teilhard de Chardin, S.J., Ilia Delio,
O.S.F., e Kathleen Deignan, C.N.D., foram meus primeiros professores nessa
integração e deram-me uma nova maneira de admirar o universo.
Ainda
no noviciado, descobri cientistas que examinam suas crenças como se estivessem
sob um microscópio, explorando como sua fé informa sua ciência e sua ciência
informa sua fé. Li todos os livros que a biblioteca poderia oferecer sobre
física quântica, para entender melhor o desdobramento do grandioso design de
nosso Deus invisível, mas palpável.
Aprendi
que a fé não é exclusiva daqueles que se consideram religiosos : acredito em um
Deus de amor, e os físicos quânticos acreditam que sua teoria específica é verdadeira,
seja a teoria das cordas ou a teoria dos laços quânticos, embora não tenham
nenhuma evidência concreta.
Muitas
vezes, as pessoas ficam intrigadas com a transição do trabalho nos satélites
para o noviciado, mas a jornada pareceu natural para mim. Eu sempre confiei que
Deus me deu a bússola e as ferramentas que preciso – e às vezes um empurrão na
direção certa. Como aconteceu com o paleontólogo Teilhard de Chardin, conforme
ele disse : ‘Deus está na ponta da minha caneta, da minha pá, da minha escova,
da minha agulha – no meu coração e nos meus pensamentos’. Eu agora posso
confortavelmente atestar que Deus está na ponta do meu marcador de quadro
branco, na minha barra de espaço, na minha chave inglesa, no meu fone de ouvido
– no meu coração e sempre em meus pensamentos.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1373229/2019/07/por-que-desisti-do-meu-trabalho-na-nasa-para-ser-freira/
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