*Artigo
de Carlos César Barbosa
‘O
ruído constante é algo característico de nossa sociedade. Há barulho por toda a
parte, sem interrupção. Nas ruas, nas casas, no comércio, nos transportes
públicos... Nem as nossas Igrejas escapam. A teologia do espetáculo segue
ganhando adeptos. Como Adélia Prado, poetisa mineira, as vezes a gente também
sai da Igreja com vontade de procurar um lugar para rezar.
É
fato que nos tornamos reféns do ruído. Nosso ritmo acelerado e quase sem
limites não poucas vezes nos faz caminhar pela superfície da vida sem dedicar
um justo tempo para cuidar do nosso interior. A constante ebulição em que
vivemos afasta de nós a consciência de ter que dar atenção ao barulho que vem
de dentro. Faz-nos falta parar em meio a tanta correria. Além de não ser fácil,
pode soar estranho falar em parar ou fazer silêncio, sobretudo, quando a gente
constata que estamos correndo a todo instante e sendo levados a acreditar que
vale mais o que fazemos do que aquilo que realmente somos.
O
silêncio e a solidão se tornaram experiências ameaçadoras. Talvez por que elas
propiciam o encontro consigo mesmo, e isso assusta. Mas é libertador. Faz parte
do amor próprio, sentir-se à vontade para estar só. Afinal, um grande
mandamento é ‘amar o próximo como a si mesmo’ e quanto maior a
dificuldade em amar a si, aceitar-se e estar bem consigo mesmo, maior será a
dificuldade para amar, aceitar e estar bem com o próximo.
Desacelerar
é um privilégio que deveríamos, de tempos em tempos, buscar. Silenciar é a
oportunidade que nós temos de olhar por dentro. Mais ainda, significa sair do
círculo perverso de viver sempre por fora de nós mesmos. Quem se esforça para
buscar e cultivar o silêncio tem aí um lugar de encontro consigo e com Deus e,
quanto mais fecundo este encontro, mais fecunda serão as nossas relações com os
outros.
A
prática espiritual mais básica talvez seja a de aprender o silêncio. Porém,
mesmo sendo uma prática inicial e básica não significa que seja fácil.
Silenciar é difícil. Por vezes, confuso. Por isso, é normal, ao se dispor
entrar em silêncio, demorar um pouco para se situar. Afinal, é natural pensar
nas infinitas coisas que precisam ser feitas em casa, no trabalho, nos estudos
e, portanto, silenciar torna-se algo que requer de nós esforço e empenho. É
preciso disciplina e coragem para atravessar todas as pequenas coisas que
distraem as nossas mentes e os nossos corações. Aos poucos conseguiremos chegar
a um silêncio profundo e produtivo. É um processo e o primeiro passo precisa
ser dado.
Se
olharmos para a vida Jesus, vemos que ele costumava passar as noites em oração,
a sós, em diálogo com o Pai. Se quisermos compreender as palavras e os gestos
de Jesus, de modo justo e profundo, teremos que adentrar também em seu silêncio
e em seu recolhimento. Pois, Deus é aquele que está na palavra e no silêncio e
esse é o seu segredo e o seu mistério.
Certamente,
o
silêncio para quem não sabe acolhê-lo pode ser constrangedor. Mas para quem se
dispõe a encontrá-lo e cultivá-lo, pode se tornar eloquente. Por que não dispormos, então, ao
silêncio? Por que não dar uma chance de estar a sós consigo mesmo? Por que não
fazer do silêncio um lugar de encontro consigo e com Deus? Quando descemos ao
mais profundo de nós, encontramos com nossa verdade última e, ao mesmo tempo,
nos encontramos com Deus, pois, como afirmava Santo Agostinho, Deus é o mais
íntimo que o mais íntimo de cada um de nós. Busquemos a ousadia do silêncio.
Feito isso, nossas palavras e nossa voz farão cada vez mais eco e mais sentido.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1360868/2019/05/a-historia-sangrenta-das-primeiras-traducoes-da-biblia/
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