terça-feira, 11 de junho de 2019

O silêncio como um lugar de encontro

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 A prática espiritual mais básica talvez seja a de aprender o silêncio.
*Artigo de Carlos César Barbosa


‘O ruído constante é algo característico de nossa sociedade. Há barulho por toda a parte, sem interrupção. Nas ruas, nas casas, no comércio, nos transportes públicos... Nem as nossas Igrejas escapam. A teologia do espetáculo segue ganhando adeptos. Como Adélia Prado, poetisa mineira, as vezes a gente também sai da Igreja com vontade de procurar um lugar para rezar.

É fato que nos tornamos reféns do ruído. Nosso ritmo acelerado e quase sem limites não poucas vezes nos faz caminhar pela superfície da vida sem dedicar um justo tempo para cuidar do nosso interior. A constante ebulição em que vivemos afasta de nós a consciência de ter que dar atenção ao barulho que vem de dentro. Faz-nos falta parar em meio a tanta correria. Além de não ser fácil, pode soar estranho falar em parar ou fazer silêncio, sobretudo, quando a gente constata que estamos correndo a todo instante e sendo levados a acreditar que vale mais o que fazemos do que aquilo que realmente somos.

O silêncio e a solidão se tornaram experiências ameaçadoras. Talvez por que elas propiciam o encontro consigo mesmo, e isso assusta. Mas é libertador. Faz parte do amor próprio, sentir-se à vontade para estar só. Afinal, um grande mandamento é ‘amar o próximo como a si mesmo’ e quanto maior a dificuldade em amar a si, aceitar-se e estar bem consigo mesmo, maior será a dificuldade para amar, aceitar e estar bem com o próximo.

Desacelerar é um privilégio que deveríamos, de tempos em tempos, buscar. Silenciar é a oportunidade que nós temos de olhar por dentro. Mais ainda, significa sair do círculo perverso de viver sempre por fora de nós mesmos. Quem se esforça para buscar e cultivar o silêncio tem aí um lugar de encontro consigo e com Deus e, quanto mais fecundo este encontro, mais fecunda serão as nossas relações com os outros.

A prática espiritual mais básica talvez seja a de aprender o silêncio. Porém, mesmo sendo uma prática inicial e básica não significa que seja fácil. Silenciar é difícil. Por vezes, confuso. Por isso, é normal, ao se dispor entrar em silêncio, demorar um pouco para se situar. Afinal, é natural pensar nas infinitas coisas que precisam ser feitas em casa, no trabalho, nos estudos e, portanto, silenciar torna-se algo que requer de nós esforço e empenho. É preciso disciplina e coragem para atravessar todas as pequenas coisas que distraem as nossas mentes e os nossos corações. Aos poucos conseguiremos chegar a um silêncio profundo e produtivo. É um processo e o primeiro passo precisa ser dado.

Se olharmos para a vida Jesus, vemos que ele costumava passar as noites em oração, a sós, em diálogo com o Pai. Se quisermos compreender as palavras e os gestos de Jesus, de modo justo e profundo, teremos que adentrar também em seu silêncio e em seu recolhimento. Pois, Deus é aquele que está na palavra e no silêncio e esse é o seu segredo e o seu mistério.

Certamente, o silêncio para quem não sabe acolhê-lo pode ser constrangedor. Mas para quem se dispõe a encontrá-lo e cultivá-lo, pode se tornar eloquente. Por que não dispormos, então, ao silêncio? Por que não dar uma chance de estar a sós consigo mesmo? Por que não fazer do silêncio um lugar de encontro consigo e com Deus? Quando descemos ao mais profundo de nós, encontramos com nossa verdade última e, ao mesmo tempo, nos encontramos com Deus, pois, como afirmava Santo Agostinho, Deus é o mais íntimo que o mais íntimo de cada um de nós. Busquemos a ousadia do silêncio. Feito isso, nossas palavras e nossa voz farão cada vez mais eco e mais sentido.’


Fonte :

Nenhum comentário:

Postar um comentário