Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista
e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas
como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé
‘Desde
Pio IX, quando iniciaram a cultivar uma certa devoção ao papa após o período
conturbado marcado pela presença dos ‘papas-reis’ da Renascença, a
figura do sumo pontífice tem sido alvo de toda espécie de instrumentalização.
Tal empatia em relação a essa liderança - tida como positiva para a
consolidação e a unificação da Igreja Católica após a queda do Estado
Pontifício -, aos poucos foi dando lugar a um misto de sentimentos de rejeição
e aceitação provocados pela polarização que marcou o século XX, sobretudo no
período da guerra fria e que, pelo jeito, volta a compor o cenário social.
Do
papa soberano preocupado com os negócios do seu pequeno estado, ressurge, com
toda força, a figura do pastor universal salvaguardado por uma infalibilidade
que se transformou em dogma no século XIX.
Como
sabemos, o ultramontanismo teve um papel fundamental na instauração desse novo
papado, marcado pela tentativa de consolidar um monarquismo universal ‘mais
espiritual’. Com o poder temporal ruindo diante dos seus olhos, Pio IX
conseguiu, com êxito, restaurar a aquela autoridade espiritual perdida desde as
tensões do cisma do Ocidente.
Anos
depois, com menos ingerências externas de caráter político, João XXIII e Paulo
VI inauguram uma práxis diplomática marcada pelo diálogo e pela conciliação. A
partir disso, percorreu-se um caminho sem volta (ainda bem!). Não se condena
somente uma ideologia específica, mas todas elas. Não se demonizam mais
espectros políticos, mas tenta-se demonstrar que, independente do lado, é
possível lutar por uma sociedade mais justa a partir dos valores do Evangelho.
O proselitismo dá lugar à promoção do encontro com Deus. O debate torna-se
antídoto contra extremismos e polarizações.
Nas
reuniões que antecedem o conclave da atualidade, traça-se a figura do papa
capaz de dialogar com a sociedade e a corresponder aos sinais dos tempos.
Diálogo passa a ser a palavra de ordem e o caráter humanizador do Evangelho o
fio condutor.
O
papa João XXIII é associado ao comunismo por ter promovido a Ospolitik no
Concílio Vaticano II. Paulo VI, segundo os tradicionalistas da época que
assumiram uma postura de contra-conduta, foi quem destruiu ‘a missa de
sempre’ através de sua reforma litúrgica e, por consequência, a própria
Igreja Católica.
O
papa Francisco, por sua vez, é visto com um outro comunista por preocupar-se
demais com as questões sociais. Em um mundo que se polariza a cada ano que
passa, a interpretação é que o diálogo destrói em vez de agregar. E pensar que
uma das missões do papa é justamente a de promover o respeito mútuo e a de
lutar contra tudo aquilo não condiz com a fé que professa. Porém, pelo jeito,
para muitos não é o testemunho cristão que conta, mas transformar a fé no
cavalo de batalha de disputas ideológicas.’
Fonte
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