domingo, 9 de junho de 2019

Papa aceita convite inusitado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Francisco repropôs uma expressão do teólogo suíço Hans Urs von Balthasar “A teologia se faz de joelhos”
*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘É oficial : o sumo pontífice será palestrante em um congresso de teologia. Parece inacreditável, mas Francisco integrará o grupo de congressistas de um evento que acontecerá em Nápoles, de 20 a 21 de junho. Segundo uma fonte, o papa não exitou e aceitou o pedido prontamente, deixando os organizadores do evento bastante surpresos. E não é para menos, afinal, é primeira vez na história que um papa aceita uma solicitação do tipo.

Geralmente, os papas abrem eventos oficiais ou são chamados a falar ao corpo docente de alguma universidade específica, não a integrar uma mesa redonda. O congresso cujo tema é ‘A teologia da Veritatis gaudium no contexto do Mediterrâneo’ contará com a participação de alguns estudantes e professores da Faculdade Teológica da Itália Meridional. Portanto, um público bastante restrito terá o privilégio de presenciar mais um momento histórico desse pontificado.

Durante a sua colocação, o pontífice falará sobre a Veritatis gaudium, a constituição apostólica que prevê a renovação dos cursos acadêmicos eclesiásticos, ampliando, por conseguinte, os horizontes também no campo da teologia. Sendo assim, a participação de Francisco colocará às claras que tipo de revolução teológica ele pretende realizar e será uma oportunidade para que todos possam entender como isso acontecerá na prática. No entanto, o que caracteriza a teologia de Francisco?

Era muito comum que, em 2013 – quando o primeiro papa latino-americano da história foi eleito –, ouvíssemos falar que, desta vez, ‘não teríamos um papa teólogo’. O uso impróprio do termo é a constatação de que muitos não entenderam qual a verdadeira missão da teologia, limitando o seu campo de reflexão à academia ou aos púlpitos das igrejas.

Em muitas ocasiões, Francisco repropôs uma expressão do teólogo suíço Hans Urs von Balthasar – A teologia se faz de joelhos’ – ao se referir à prática dessa disciplina humana que busca respostas em relação ao divino. Entretanto, o papa não quis demonstrar que a devoção sobrepõe o rigor científico, mas que a interioridade do teólogo e seu contato com a Divindade deve remetê-lo à sua humanidade e à humanização do ambiente que está a seu redor.

É por isso que podemos considerar Francisco muito mais teólogo da história – título que, merecidamente, deve ser atribuído a Bento XVI –, mas um teólogo que promove uma osmose constante entre experiência e pensamento. Na sua teologia não há espaço para centralizações e autorreferencialismos, mas para o diálogo e a partilha. Trata-se de uma teologia que se aplica na acolhida do estrangeiro que bate à nossa porta ao cuidado com a Casa Comum : uma teologia que se encarna e que humaniza; que não é ‘fabricada’, mas experimentada. É a teologia do povo, não do indivíduo.

O povo de Deus é peregrino ao longo das estradas da história, fazendo companhia aos homens e mulheres de todos os povos e culturas, de modo que possam iluminar, com a luz do Evangelho, o caminho da humanidade em direção à nova civilização do amor’, afirmou papa Francisco na Veritatis gaudium.


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