*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista
e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas
como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé
‘É
oficial : o sumo pontífice será palestrante em um congresso de teologia. Parece
inacreditável, mas Francisco integrará o grupo de congressistas de um evento
que acontecerá em Nápoles, de 20 a 21 de junho. Segundo uma fonte, o papa não
exitou e aceitou o pedido prontamente, deixando os organizadores do evento
bastante surpresos. E não é para menos, afinal, é primeira vez na história que
um papa aceita uma solicitação do tipo.
Geralmente,
os papas abrem eventos oficiais ou são chamados a falar ao corpo docente de
alguma universidade específica, não a integrar uma mesa redonda. O congresso
cujo tema é ‘A teologia da Veritatis gaudium no contexto do
Mediterrâneo’ contará com a participação de alguns estudantes e professores
da Faculdade Teológica da Itália Meridional. Portanto, um público bastante
restrito terá o privilégio de presenciar mais um momento histórico desse
pontificado.
Durante
a sua colocação, o pontífice falará sobre a Veritatis gaudium, a
constituição apostólica que prevê a renovação dos cursos acadêmicos
eclesiásticos, ampliando, por conseguinte, os horizontes também no campo da
teologia. Sendo assim, a participação de Francisco colocará às claras que tipo
de revolução teológica ele pretende realizar e será uma oportunidade para que
todos possam entender como isso acontecerá na prática. No entanto, o que
caracteriza a teologia de Francisco?
Era
muito comum que, em 2013 – quando o primeiro papa latino-americano da história
foi eleito –, ouvíssemos falar que, desta vez, ‘não teríamos um papa teólogo’.
O uso impróprio do termo é a constatação de que muitos não entenderam qual a
verdadeira missão da teologia, limitando o seu campo de reflexão à academia ou
aos púlpitos das igrejas.
Em
muitas ocasiões, Francisco repropôs uma expressão do teólogo suíço Hans Urs von
Balthasar – ‘A teologia se faz de joelhos’ – ao se
referir à prática dessa disciplina humana que busca respostas em relação ao
divino. Entretanto, o papa não quis demonstrar que a devoção sobrepõe o rigor
científico, mas que a interioridade do teólogo e seu contato com a Divindade
deve remetê-lo à sua humanidade e à humanização do ambiente que está a seu
redor.
É
por isso que podemos considerar Francisco muito mais teólogo da história –
título que, merecidamente, deve ser atribuído a Bento XVI –, mas um teólogo que
promove uma osmose constante entre experiência e pensamento. Na sua teologia
não há espaço para centralizações e autorreferencialismos, mas para o diálogo e
a partilha. Trata-se de uma teologia que se aplica na acolhida do estrangeiro que
bate à nossa porta ao cuidado com a Casa Comum : uma teologia que se encarna e
que humaniza; que não é ‘fabricada’, mas experimentada. É a teologia do
povo, não do indivíduo.
‘O
povo de Deus é peregrino ao longo das estradas da história, fazendo companhia
aos homens e mulheres de todos os povos e culturas, de modo que possam
iluminar, com a luz do Evangelho, o caminho da humanidade em direção à nova
civilização do amor’, afirmou papa Francisco na Veritatis gaudium.’
Fonte
:
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