*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista
e mestre em História da Igreja
‘O papa Francisco tomou uma medida que
já pode ser considerada um dos grandes marcos da sua reforma, iniciada em 2013.
Uma mudança importante que, pelo menos no Brasil, passou despercebida. Esta
semana, o pontífice criou uma constituição (Episcopalis communio) para
o Sínodo dos bispos, órgão de caráter consultivo que auxilia o papa em questões
específicas. Na prática, isso dá mais poder a essa instituição criada por Paulo
VI, em 1965. Quando foi fundado, representou uma das respostas imediatas a um
tema espinhoso e bastante debatido durante o Concílio Vaticano II : a
colegialidade dos bispos.
Os especialistas, pautados pelas experiências dos
pontificados anteriores, consideravam que a revolução curial proposta pelo papa
argentino se limitaria à criação de órgãos ou à fusão de alguns deles. Porém,
papa Francisco tem feito isso e muito mais. E é algo tão revolucionário quanto
o que aconteceu à época de Paulo VI. A grande reforma da cúria romana de papa
Montini, logo após o Concílio Vaticano II - a qual se refletiu em toda a igreja
- começou efetivamente com a criação do Sínodo dos Bispos. Francisco, às portas
de lançar uma nova constituição sobre a reforma da Cúria - algo previsto para o
ano que vem -, fortalece ainda mais o sínodo. Tudo isso porque, a partir de agora,
o documento de conclusão da assembleia, uma vez aprovado pelo papa, passará a
fazer parte do magistério ordinário. Antes, os participantes do sínodo
apresentavam ao papa uma série de propostas a respeito do que havia sido
discutido durante a assembleia, as quais, após criteriosa avaliação, se
transformavam posteriormente na chamada exortação apostólica pós-sinodal.
Agora, essas mesmas proposições, já reunidas em um documento final, poderão ser
publicadas imediatamente como material conclusivo do sínodo a partir do placet papal.
A prática, agora prevista oficialmente pela nova constituição, começou a ser
adotada pelo último Sínodo para as famílias, ocorrido em 2014.
Este ano, publicamos um artigo sobre a
descentralização da igreja proposta pelo C9 - conselho de cardeais criado por
papa Francisco - para que ‘as
conferências episcopais sejam concebidas como órgãos com atribuições concretas,
incluindo também uma autêntica autoridade doutrinal’. Unindo essa proposta
à reestruturação do sínodo dos bispos, é provável que, mais cedo ou mais tarde,
os ares da revolução também atinjam a congregação para os bispos. Há duas
constatações que conduzem a essa possibilidade : a primeira é de que o
episcopado vive uma das maiores crises de sua história por causa dos escândalos
ligados à pedofilia em várias partes do mundo e também porque esse dicastério,
cuja metade dos membros foram substituídos em 2013, ainda conta com a presença
dos cardeais Donald William Wuerl (americano) e George Pell (australiano),
ambos suspeitos de terem acobertado padres abusadores de menores em suas
respectivas dioceses. Além disso, o cardeal Marc Ouellet é o responsável pelo
órgão desde o pontificado de Bento XVI. Apesar de ele estar alinhado com
algumas das aberturas de Francisco, como por exemplo o apoio a uma participação
maior das mulheres na formação dos sacerdotes, talvez a crise force a sua
substituição.
Papa Francisco canonizará Paulo VI e o bispo
salvadorenho Oscár Romero no encerramento do sínodo dos bispos para os jovens,
em outubro. Esses dois pastores são bastante admirados por Bergoglio por causa
do estilo pastoral que adotaram, além de considerá-los figuras proféticas do
seu tempo. Será que a diplomacia de Paulo VI unida à coragem de Romero
impulsionarão o papa argentino a traçar o novo perfil do bispo católico? Quem
será o bispo da reforma de Francisco? Aguardemos as próximas nomeações e,
inevitavelmente, as remoções.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1294991/2018/09/o-grand-finale-da-reforma-de-francisco/
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