*Artigo de Vanderlei de Lima,
eremita na Diocese de Amparo
eremita na Diocese de Amparo
‘O livro de 160 páginas que agora
apresentamos foi escrito por Dom Lucien Regnault, monge beneditino da Abadia de
Saint-Pierre de Solesmes e especialista em Padres (= Pais) do Deserto.
É fruto de um programa de rádio que o
autor apresentou, em 1984, de manhã, por um semestre, com o nome de ‘Abba, diga-me uma palavra’, em uma
emissora do sul da França, lendo o ensinamento de um Padre do Deserto e
comentando-o brevemente. Dessa série de programas nasceu esse livro que,
traduzido para o português e publicado pelas Edições Subiaco, de Juiz de Fora
(MG), já está na segunda edição.
Por ‘Padres do Deserto’ se entende, aqui, eremitas (monges sem
comunidade) que viviam em regiões pouco habitadas e dividiam seu tempo entre a
oração e o trabalho, no silêncio quase perpétuo. Este só era minimamente
quebrado quando o monge tinha de tratar algo com alguém que o procurava para
uma ‘direção espiritual’.
Isso é o que chama a atenção. Aqueles
homens quase não falavam, mas ao dizerem algo, via de regra, em sentenças
(=Apoftegmas) curtas, revelavam uma sabedoria ímpar. Mereceram, portanto, a
partir do século IV, o título de Abba (Pai) ou Padres (sem serem sacerdotes)
por sua paternidade espiritual, sabiamente, exercida.
Escolhemos uma passagem da obra para
apresentar a fim de que cada leitor(a) tenha breve noção de sua riqueza
temática que muito pode ajudar a cada homem e mulher do século XXI, sedento de
boas fontes capazes de amenizar sua sede do Absoluto. Eis uma sentença
comentada, na página 135, com o título Três coisas capitais. ‘Abba Poimén disse : Há três coisas capitais
que são úteis: temer o Senhor, rezar sem cessar e fazer o bem ao próximo’
(Alph 734).
A esta afirmação Dom Regnault oferece
o seguinte comentário : ‘É bom lembrar
que os Pais quando falam de temor de Deus, não pretendem de modo algum excluir
o amor. Não é o temor de um escravo, mas o temor de um filho que tem receio de
desagradar ou aborrecer o Pai, seja no que for. É a base de todas as nossas
relações com Deus’.
‘Rezar
sem cessar não é um sonho nem uma quimera. Significa rezar tão frequentemente
quanto possível, nas diversas situações em que nos encontramos. Quando estamos
absorvidos por uma discussão de negócios, ou durante uma refeição de família,
não é tão fácil rezar como na solidão de nosso quarto. A continuidade de nossa
oração depende muito do primeiro pensamento do dia, ao sair da cama, e do
último, quando estamos prestes a dormir. Pode-se também rezar mesmo dormindo,
mesmo sonhando.’
‘Os
Pais, na solidão, não esquecem o próximo. Não estão egoisticamente voltados
para si mesmos. No deserto, sem dúvida, tinham menos ocasiões de ajudar os
outros; mas há mil maneiras de fazer o bem ao próximo pelo pensamento, pela
palavra, pelos atos, e principalmente pela oração. A boa ação diária dos
escoteiros não deve ser a única do dia, mas deve multiplicar-se na medida do
nosso amor por nossos irmãos e irmãs.’
Esta página já dá uma ideia do valor
espiritual e vivencial contido no livro de Dom Lucien Regnault, traduzido pelas
monjas beneditinas do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, de Belo Horizonte
(MG), e publicado pela Edições Subiaco. Vale, portanto, a pena lê-lo de forma
orante e meditativa ou até usá-lo para preparar formações e homilias.’
(Mais informações : publicacoesmonasticas@yahoo.com.br)
Fonte :
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