Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Aqui há umas semanas, estava em Nazaré, Israel,
com um grupo de escoteiros. Pediram-me que lesse a introdução à procissão do
Santo Rosário, sábado à noite, à volta da Basílica da Anunciação. Claro que
aceitei com alegria. Enquanto eu lia o texto ao microfone, na grande escadaria
externa que dá para a estrada, começou a ouvir-se distintamente também a voz do
muezim que, da torre da mesquita ali ao lado, convidava os fiéis para a oração.
Não, não me senti incomodado. Éramos duas vozes diferentes com um objetivo
comum : o convite a voltar-se para Deus e rezar.
Eu e o muezim, duas vozes que, à mesma hora,
naquele lugar tão especial, exprimiam em nome de duas grandes tradições
religiosas, a cristã e a muçulmana, a necessidade que todos sentíamos de olhar
para o Alto e para diante, e rezar.
Dois dias antes, estava a celebrar a santa missa
com o meu grupo de escoteiros peregrinos na Gruta dos Pastores, nas colinas
perto de Belém. Também ali se ouviram duas vozes ao mesmo tempo : a nossa voz,
que contava a história dos anjos de Deus que anunciavam o nascimento de Jesus e
cantavam com alegria «Glória a Deus nas
alturas, e paz na terra aos homens...», e a outra voz bem forte, o estrondo
dos aviões de guerra que cruzavam aqueles mesmos céus a velocidades supersônicas.
Vozes celestes de anjos de paz e vozes de guerra. Interromper a missa? Nem
pensar!
É nossa responsabilidade continuar a dar voz à voz
dos anjos que anunciam a paz, mesmo se os motores dos caças de guerra parecem
falar mais alto.
Num mundo onde se multiplicam as vozes da guerra
que parecem anunciar o fim da nossa esperança, é preciso que as vozes que falam
de paz em nome de Deus não se calem, e continuem a dizer, alto e bom som, que a
paz é uma tarefa possível que Deus coloca nas nossas mãos.
As vozes da paz serão vozes diferentes, não há
dúvida. Cada uma delas fala a partir de uma tradição diversa. Mas, no fim de
contas, foi Deus quem inventou a variedade em todos os aspectos da vida deste
mundo. E quanto mais alargamos os horizontes da nossa visão, maior e mais rica
é a variedade que descobrimos. Se todas as religiões, cada uma com a sua voz
distinta, conseguissem aliar-se em favor da paz, teríamos um coro de vozes
potentíssimo, capaz de abafar os rugidos da guerra com a certeza de um mundo
onde podemos aceitar a nossas diferenças e viver em paz.
As vozes que chamam para Deus e para os seus
valores podem ser muitas, e às vezes parecem mesmo contrárias umas às outras. É
que temos muita dificuldade em escutar mais de uma voz ao mesmo tempo... e
perceber a harmonia de fundo. E às vezes escutamos só a nossa! O importante é
que essas vozes apontem na mesma direção : aquela paz que Deus quer construir
com a colaboração de todos nós.
Por agora, todos, cada um pelo caminho que vai
percorrendo com a ajuda de Deus, precisamos de nos habituar a escutar vozes
diferentes da nossa, sem pensar logo que são contra nós só porque são
diferentes.
Por detrás das nossas duas vozes, a minha e a do
muezim, naquele sábado à noite, na cidade onde Jesus viveu com a sua família
uns bons trinta anos, não poderemos ver o mesmo Deus que é Pai de todos e atrai
toda a humanidade para si, mesmo se por caminhos diferentes?
Deus nos irá mostrando o caminho a seguir para que
as muitas vozes que se ouvem em Seu nome possam harmonizar-se num coro polifônico
que convida à paz.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EVkAFEuyVytFpBXEaB
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