Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘Levantar a voz em defesa da vida é uma obrigação
moral e cidadã de todos. Calar significa agir de modo conivente com os
processos que estão ameaçando a vida humana, em diferentes etapas e
circunstâncias. E as consequências são graves. Não poupam ninguém, nem mesmo os
que se acham seguros porque possuem bens, vivem com conforto e residem em
lugares bem vigiados. Os descompassos que ameaçam a vida, dom sagrado, conduzem
toda a sociedade rumo a cenários de dizimação. Basta olhar o mundo atual para
reconhecer os muitos contextos desse tipo - verdadeiras feridas em diferentes
civilizações.
É espantoso ver, por exemplo, o renascimento e o
fortalecimento de certas dinâmicas ditatoriais, que sufocam populações com
perspectivas desconexas de um sentido pleno a respeito do que é viver.
Verifica-se, como consequência, o recrudescimento de entendimentos
político-partidários. Consolidam-se totalitarismos e radicalismos que ofendem,
vergonhosamente, a dignidade do ser humano. Nações são submetidas ao horizonte
estreito de falsos líderes políticos. Tudo em razão do descompromisso com a
vida, que alimenta uma egoísta convicção : o importante é o interesse pessoal,
desconsiderando que o outro merece respeito. Essa situação explica também a
razão de não haver, na sociedade brasileira, uma reforma política, capaz de
gerar a renovação e a recuperação da credibilidade nas instâncias do poder.
Quando não se assume a tarefa de defender e promover
a vida, navega-se, mais facilmente, na mediocridade, contentando-se, por
exemplo, com representantes que nada têm a oferecer. São pessoas incapazes de
propor soluções ou promover as transformações requeridas pelo mundo
contemporâneo. E uma das consequências é a endêmica prática da corrupção na
sociedade brasileira. Outro desdobramento que pode ser destacado é o fenômeno
de se escolher a mediocridade menos incômoda. Essa situação apenas beneficia
pessoas que buscam o poder, mesmo sendo incapazes de gerar as mudanças
esperadas. Assim, conseguem alcançar
certo patamar sem muito esforço. Quem se deixa orientar pela mediocridade –
aquela que menos incomoda - não raramente dedica-se, por exemplo, a apoiar os
radicais - sempre distantes da dinâmica dialógica imprescindível na sociedade.
Apegam-se às mentalidades retrógadas, admiram ‘caçadores de bruxas’.
A presença de indivíduos em postos de decisão, nas
mais variadas instâncias, que só buscam benesses e ancoram-se no comodismo é
outra consequência daqueles que nunca valorizam o ser humano. Deixam, assim, de
reconhecer que estar a serviço dos outros é o único sentido do poder que se
exerce. Urgente é, pois, recuperar a competência humanística capaz de
qualificar as diferentes formas de se exercer a cidadania. O ponto de partida é
reconhecer que o ser humano tem uma vida que ultrapassa a sua existência
terrena. Para isso, vozes precisam ecoar, corajosamente, de muitos modos – nas
ruas ou no ambiente digital, em contextos educativos e no exigente testemunho
da fé, anunciando que viver é dom sagrado e inviolável.
Esse clamor pró-vida há de chegar às urgentes
intervenções e reconfigurações das dinâmicas sociais, políticas e econômicas.
Deve-se reconhecer que a vida precisa ser respeitada em todas as suas etapas -
da fecundação à morte com o declínio natural. Isto significa, entre outros
aspectos, compreender como abominável e demolidora a cultura pró-aborto, que se
espalha na sociedade brasileira. O desrespeito ao nascituro é lamentável
sintoma da perda do apreço em relação à vida. É um verdadeiro abismo, de onde a
sociedade brasileira se aproxima quando passa a ser mais permissiva com certas ‘legislações abortistas’.
Uma sociedade pró-aborto relativiza o valor
intocável e inviolável da vida. E o caminho longo da recomposição do tecido
social – com a conquista de equilíbrio, equidade e justiça – é justamente a
direção oposta : comprometer-se com a vida, em todas as suas etapas. O atual
momento pede atitudes diversas, nos mais variados lugares, com a organização de
manifestações pacíficas, simpósios e outras atividades formativas, para que se
consolide o entendimento a respeito do significado da vida. Pessoas, grupos e
segmentos levantem as vozes pró-vida. Assim será possível reacender a esperança
de um tempo novo.’
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