Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘Ninguém é autossuficiente. A humanidade
configura-se a partir das relações - cada pessoa depende da outra para
sobreviver. Em cada etapa de sua
história, as civilizações se constituem a partir do modo como os mais
diferentes processos são conduzidos. É a partir dessa condução que se configuram
culturas e dinâmicas no âmbito da política, da economia e, inclusive, das
religiões. Por isso, a regência qualificada dos processos fecunda respostas
novas. Na direção oposta, quando a condução é equivocada, perpetuam-se atrasos,
com graves prejuízos. Assim é importante reconhecer : é fundamental investir na
regência dos processos, atitude determinante para cuidar da vida em suas muitas
formas, do próprio planeta, nossa Casa Comum.
Todos os processos socioculturais, econômicos,
administrativos e humanitários dependem de atitudes individuais. Nesse sentido,
cada pessoa, no cumprimento de suas próprias responsabilidades, deve assumir o
compromisso de sempre agir de modo eficaz. E isso significa promover relações
mais humanizadas, capazes de cultivar a solidariedade – remédio determinante e,
sem exageros, o mais necessário, para se construir um mundo melhor.
Para compreender essa situação, vale recorrer a um
contexto próximo a todos : a realidade doméstica. Imagine duas pessoas. Uma
prepara o alimento. A outra se dedica a cuidar do ambiente onde a família se
reunirá para a refeição. No fim, o lugar está perfeitamente arrumado. Porém, o alimento não foi preparado
adequadamente – ficou com gosto de ‘cabo de guarda-chuva’, conforme o dito
popular. Percebe-se que uma das pessoas conseguiu reger, com qualidade, um dos
processos. A outra, não foi bem-sucedida. E, no fim, ambas perderam, sem
conseguir deliciar-se com uma boa refeição.
Obviamente, não se pode esperar que todos os
indivíduos reúnam, desde sempre, os requisitos necessários para desempenharem
bem os seus papéis. Mas, deve ser a meta de cada pessoa buscar as condições
para cuidar, de modo qualificado, das próprias responsabilidades. Isso inclui
dedicar-se ao indispensável exercício da autocrítica, para avaliar se, de fato,
as próprias atribuições estão sendo exercidas de modo responsável e apropriado.
Todos devem se reconhecer, como pessoas que integram uma sociedade,
construtoras do conjunto de processos que impactam a rede de relações.
Desenvolver a competência para conduzir processos é
fundamental na conquista de avanços, em diferentes áreas e instituições. De
modo contrário, uma pessoa com fraco desempenho na regência de dinâmicas pode
dizimar uma organização. Por isso se diz que uma instituição assimila traços da
feição de seu dirigente. Pode ser inovadora ou de conservação, não importa, vai
refletir o perfil do gestor. Lamentavelmente, por vezes, é marcada por
retrocessos, refletindo a incapacidade de seu dirigente. Vale, pois, rever
sempre os métodos de gestão, buscando identificar e superar os vícios que ferem
a moralidade, a corrupção, a falta de vontade política, particularmente quando
inviabiliza conquistas para o povo.
Qualificar a ação humana na regência de processos
exige considerar, especialmente, as influências de aspectos ambientais e da
interioridade na conformação da conduta de cada pessoa. Deve-se cuidar dos
muitos aspectos exteriores que ajudam a constituir as pessoas – os ambientes
familiar, educativo e cultural, por exemplo, promovendo práticas pedagógicas e
organizacionais arejadas, e até ousadas, capazes de impulsionar a evolução
humana, inspirar a elaboração de respostas adequadas aos desafios
contemporâneos.
Ao mesmo tempo, a atuação qualificada na gestão das
muitas dinâmicas da vida depende do que vem da interioridade : as atitudes, as
escolhas, as decisões e os modos de agir. Cada pessoa precisa se orientar pelos
parâmetros da moralidade e da ética. Se todos agissem dessa forma, muitos
passivos poderiam ser evitados, pois ninguém iria candidatar-se a determinada
função sem antes realizar um necessário exercício de autocritica e avaliar, com
honestidade, se, de fato, está preparado para assumir os desafios do cargo que
deseja ocupar. Consequentemente, as instituições estariam livres das cegueiras
que impedem o seu desenvolvimento e cada pessoa ocuparia o lugar adequado às
suas características individuais. Ao mesmo tempo, com o contínuo processo de
autocrítica, os indivíduos poderiam se desenvolver, conquistando novas
competências. O crescimento pessoal, orientado para a promoção do bem comum,
levaria as instituições a ampliarem os processos de participação, determinantes
para se alcançar sucesso em diferentes projetos. Afinal, uma grande rede de
agentes focados em um objetivo partilhado confere mais inteligência às
dinâmicas institucionais.
Oportuno
lembrar que o cérebro humano é um território extenso, com conexões equivalentes
ao número de astros de uma galáxia. Cada cidadão dispõe, assim, de todas as
condições para evoluir e, dessa forma, oferecer contribuições na edificação de
um mundo melhor. Sem esse compromisso com o próprio desenvolvimento pessoal,
todos perdem, não por falta de condições, mas pela incapacidade de gerenciar as
próprias responsabilidades. É tarefa de cada pessoa capacitar-se para a
regência de processos, dedicando-se à própria qualificação, para contribuir na
defesa da vida e do planeta, a nossa Casa Comum.’
Fonte :
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