quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Misericórdia e comprometimento : duas faces da mesma moeda

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Fabrício Veliq,
protestante, é mestre e doutorando em
teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG


‘As misericórdias do Senhor se renovam todas as manhãs. É comum aos cristãos tanto falar esse versículo quanto também ouvi-lo nos diversos sermões que se escutam aos domingos, bem como nos diversos eventos que celebram os rituais da vida, tais como o nascimento de uma criança ou o funeral de um ente querido. O fato de saber isso se torna, então, motivo de conforto e alegria para aqueles/as que creem.
Ainda que muito falada, muitas vezes não se reflete a respeito do significado que essa expressão tem. O termo central é a misericórdia. Essa, etimologicamente, é formada pela junção de duas palavras do latim, a saber, miseratio (compaixão) + cordis (coração), de tal forma que é possível entender misericórdia como significando um ‘coração compadecido’. Com isso em mente, não é difícil entender que o fato das misericórdias do Senhor se renovarem todos os dias tem a ver com sua bondade em olhar com compaixão em nossa direção.
Para o Cristianismo, a partir da vida de Jesus, a misericórdia do Senhor é entendida de uma maneira totalmente encarnada. Por meio da fé, a compaixão do Pai para com seus filhos chega ao seu ponto máximo ao se revelar como ser humano na pessoa do Cristo.
Dessa forma, a misericórdia não é vista somente como algo externo e transcendente, como uma espécie de mágica que vem do céu para a humanidade, mas é vista e experimentada na concretude da vida e na realidade do mundo.
Por sua vez, entender a pessoa de Cristo como a manifestação da misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo se dizer seguidor/a desse Cristo, implica em tratar a misericórdia também como algo que tem a ver com a concretude da vida, ou seja, como algo que precisa ser demonstrado no dia a dia para com todos/as que vivem nas diversas misérias do mundo.
A misericórdia, então, nas atitudes humanas, é uma virtude que deve ser desenvolvida. Contudo, muito comumente, aquilo que se chama misericórdia não tem a ver com o coração que se identifica e compadece, muito mais com o coração que se acha melhor que os miseráveis e que, por isso, sente que deve ajudá-los a sair da sua miséria. A ajuda e a atitude compassiva, nesse sentido, são demonstrações das relações de poder daquele/a que se considera superior na relação com outro. Com isso, essa ‘misericórdia’ não é virtuosa, antes, pseudomisericórdia e, por isso mesmo, vício a ser combatido.
À luz das narrativas evangélicas, a misericórdia passa pela identificação com o outro. Somente é possível ser compassivo com aquele/a com o/a qual nos identificamos e com o/a qual nos colocamos no lugar. Dessa forma, a misericórdia só é possível com empatia e somente pode ser virtuosa quando, ao olhar a miséria alheia seja possível pensar : ‘Poderia ser eu esse que passa fome, que pede moeda na rua, que está preso injustamente, que é vítima de violência etc’.
Com isso, a miséria do outro se coloca como aquela que nos interpela e demanda de nós uma resposta, não somente teórica frente às estruturas sociais, políticas e econômicas que causam as diversas misérias nessa terra, mas também de ordem prática, que atenda efetivamente a necessidade daquele/a que chega a nós com suas necessidades.
Compreender a categoria de misericórdia na perspectiva cristã implica em comprometimento com as questões da sociedade e encarnação na realidade do mundo. Essa misericórdia nunca deve ser vista como somente algo transcendente, que nada tem a ver com a realidade e afastada das condições miseráveis a que os poderosos dessa terra submetem humanos e natureza.
Misericórdia para com o outro nunca deve ser vista como uma atitude passiva ou de comodismo. Ao contrário, como fruto de um coração compadecido, demanda de nós uma atitude de luta em favor dos miseráveis, dos desumanizados e da natureza, assumindo suas questões como nossas questões.
Fazer isso é trazer para os dias atuais a mensagem de que as misericórdias do Senhor se renovam todas as manhãs e, por esse motivo, as lutas por uma sociedade melhor e mais digna também se renovam com ela diariamente.’

Fonte :


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

'O inferno na Terra'

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Lev Chaim
jornalista e colunista


‘Nunca me esqueço o dia em que entrei abruptamente no escritório do meu pai, em casa, quando ele fazia a contabilidade dos pagamentos da fazenda. De um só fôlego, eu disse : - ‘Papai, não poder ir à matinê das 10 horas, dois domingos seguidos, fez da minha vida um inferno!’. Meu pai me olhou calmamente e disse : ‘O castigo aumenta para três domingos seguidos e exijo que vá fazer uma pesquisa na enciclopédia Britânica sobre a Segunda Guerra Mundial; talvez ai aprenda o que seja mesmo um inferno’. Tinha 10 anos de idade e fiquei curioso.
Hoje, lembrei-me do meu pai com saudades. Estava lendo vários artigos da imprensa europeia sobre a situação atual no Iêmen e quase todos eles classificaram a vida naquele país como ‘o inferno na Terra’. Dois anos de guerra, fome e uma epidemia de cólera. E segundo muitos, a situação ali é ainda pior do que na Síria e poucos notam a precária situação daquele país que já foi considerado pelo romanos ‘A Arábia Feliz’. Isto devido a suas terras férteis, em contraste com o resto da península Arábica. E foi ali, no século XI, que o famoso cafezinho foi inventado, pois este era um pais rico em plantações de café do tipo arábica.
A situação ali é vista pelos peritos como a mais dramática e miserável em todo o mundo. Ali, impera a fome e uma forte epidemia de cólera, cujas vítimas principais são as crianças, onde milhões delas estão desnutridas e não podem ir à escola porque elas fecharam. A total infraestrutura do país entrou em colapso. Da população de 28 milhões de iemenitas, 17 milhões não estão em estado de cuidarem de suas próprias famílias. E sete milhões de pessoas estão em situação de fome extrema. No momento, eles recebem a cada três semanas um caixa de alimentos das Nações Unidas.
Talvez vocês se perguntem : como tudo isto começou? Tudo teve inicio após ter falhado a famosa ‘Primavera Árabe’, em 2011. Como em outros países árabes, a população foi às ruas para pedir mais democracia. Eles obrigaram o presidente Ali Abdullah Saleh a deixar o poder após 21 anos no cargo. Depois de muito custo e influência externa, o Iêmen empossa o novo presidente, Abed Rabbu Mansour Hadi, com o apoio da Arábia Saudita e dos Estados Unidos. A população local xiita, não contente com o novo presidente, começou uma luta para derrubá-lo. O novo presidente tinha o apoio da minoria sunita do país e dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Com medo de que os xiitas pudessem retomar o poder no Iêmen e serem influenciados pelo Irã, país de maioria xiita, a Arábia Saudita iniciou um bombardeio do país que dura até hoje. E o mundo fecha os olhos, pois a Arábia Saudita é amiga do Ocidente e o Irã não.
Com tudo isto em jogo, sem contar a total falta de sensibilidade para com a situação do povo iemenita, a guerra no país segue em frente mas são poucas as manchetes nos jornais em todo o mundo. E como eu disse, com a infraestrutura do país toda desmantelada, a corrupção correndo solta, a fome matando, principalmente as crianças, e, agora, a epidemia de cólera se alastrando por todo o território iemenita, está longe daquela de imagem que um dia os romanos denominaram o Iêmen como a ‘A Arábia feliz’.  
Hoje, mais do que nunca, senti saudades do meu pai que me deu aquele castigo de 3 domingos seguidos sem a matinê das 10 horas da manhã, no Cine São Luís. A partir daquele dia, raivoso e curioso, fui pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial e  encontrei as notícias dos campos de concentração nazistas e de suas câmaras de gás, onde foram mortos 6 milhões de judeus, apenas porque eram judeus, e mais homossexuais e ciganos. Anos depois, li com mais cuidado sobre o assunto através de testemunhas vivas do ‘holocausto’, tal qual Elie Wiesel, Nobel da Paz, que descreveu em seus romances as atrocidades que ele presenciou nos campos de concentração nazistas.
Em seu romance ‘Noite’, Elie Wiesel, que faleceu há pouco tempo, conta que foi testemunha da morte de sua mãe e sua irmã nas câmaras de gás, assim que eles chegaram no campo de concentração. Mais tarde, transferidos de um local para outro, ele, o pai e muitos outros tiveram que caminhar e fazer todo o percurso a pé. Nesta caminhada, ele presenciou a morte do pai por total exaustão e fadiga. E no seu livro, ‘Todos os rios correm para o mar’, ele conta o seu casamento em Jerusalém e muito mais. Sua frase inicial foi esta : ‘Ontem à noite, em sonho, vi o meu pai.’
Por esta e por outras meus amigos, temos que tomar nossas posições na vida o mais cedo possível. Agradeço de coração ao meu pai que me deu aquele castigo e me obrigou a pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial. Desde então, sou contra os extremos, sejam eles de direita ou de esquerda. Sou contra as armas e contra a indústria armamentista que fomenta e financia guerras no mundo. Armas para mim são apenas para os profissionais : polícia e exército. ’

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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Papa Francisco tocou em assunto quase proibido – e a mídia fingiu que nem ouviu

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Francisco Vêneto


‘O Papa Francisco recordou neste domingo os cerca de 3,5 milhões de vítimas da fome provocada deliberadamentenos campos da Ucrânia pelas políticas do ditador comunista Joseph Stalin, da antiga União Soviética, entre 1932 e 1933, para ‘coletivizar’ fazendas de gado e terras agrícolas.
O abominável episódio, chamado hoje de Holodomor, foi o mais vultoso, mas não o único do gênero : 1,5 milhão de pessoas no Cazaquistão e quase outro milhão de habitantes do norte do Cáucaso e de regiões ao longo dos rios Don e Volga sofreram suplícios semelhantes, na mesma época, também causados propositalmente pelo governo comunista.

Em mensagem ao povo ucraniano, o Papa Francisco mencionou ‘a tragédia do Holodomor, a morte por fome provocada pelo regime estalinista que deixou milhões de vítimas. Rezo pela Ucrânia, para que a força da paz possa curar as feridas do passado e promover caminhos de paz’.

genocídio ucraniano começou devido à resistência de muitos camponeses do país à coletivização forçada, uma das bases do regime comunista por implicar a supressão da propriedade privada. Os soviéticos confiscaram maciçamente o gado, as terras e as fazendas dos ucranianos e lhes impuseram punições que iam de trabalhos forçadosao assassinato sumário, passando por brutais deslocamentos de comunidades inteiras.

Apesar de ter-se tratado do extermínio sistemático de um povo, ainda não há, na assim chamada ‘comunidade internacional’, um reconhecimento amplo e claro do genocídio ucraniano. Algumas correntes ideológicas evitam o termo genocídio alegando que o Holodomor teria sido, a seu ver, uma consequência de ‘problemas logísticos’ associados às radicais alterações econômicas da União Soviética. Ou seja, uma coisa deixaria de ser essa coisa porque chegou a ser essa coisa como efeito colateral de alegadas boas intenções…

É bastante interessante observar que, recorrente e teimosamente, são confeccionadas teorias suavizantes e condescendências ‘técnicaspara driblar a verdade sobre o comunismo : essa aberração histórica jamais passou, nem poderia, de uma monstruosidade tão odiosa e criminosa quanto o nazismo.

Aliás, falando em nazismo, praticamente todo o mundo já ouviu falar do Holocausto. Muitíssimo menos gente já ouviu falar do Holodomor. Não se trata de comparar os horrores, mas de questionar o relativo silêncio em torno a este em comparação com a ampla divulgação que se dá àquele, sem que qualquer desses episódios atrozes seja ‘menos grave’ ou ‘mais grave’ que o outro. Só há relativização moral do extermínio humano, afinal, na mente de quem o instrumentaliza.

Mas é fato que praticamente todo o mundo que tem acesso à mídia já ouviu dizer que Hitler matou 6 milhões de judeus nos campos nazistas de concentração e extermínio entre 1933 e 1945 (embora se dê menos atenção ao fato de que esse extermínio sistematizado também se estendeu a minorias menos recordadas, como ciganos, poloneses, prisioneiros de guerra soviéticos, deficientes físicos e mentais, homossexuais, além de minorias clamorosamente ‘esquecidas’, como as vítimas católicas – São Maximiliano Kolbe e Santa Teresa Benedita da Cruz são dois exemplos ilustres dentre muitos outros quase ignorados, mas bastam para questionar a campanha de desinformação orquestrada por quem acusa a Igreja de ter sido ‘cúmplice’ daquela carnificina).

Sem que se diminua em nada, portanto, a necessidade imperiosa de reconhecer o horror a que foram submetidos covardemente o povo judeu e as outras minorias perseguidas pelo nazismo, é preciso observar em paralelo que, comparativamente, muitíssimo menos gente já ouviu dizer que Stalin matou, pouco antes, 6 milhões de ucranianos, cazaques e outras minorias soviéticas mediante a imposição da fome massiva. E também são ainda muito poucos os que sabem dos outros 14 milhões de pessoas que foram assassinadas pelo comunismo só na União Soviética, para nem falar do restante de vítimas em uma lista estarrecedora de seres humanos exterminados pelo mesmo comunismo no mundo todo ao longo do século XX :

·         65 milhões na República Popular da China
·         1 milhão no Vietnã
·         2 milhões na Coreia do Norte
·         2 milhões no Camboja
·         1 milhão nos países comunistas do Leste Europeu
·         1,7 milhão na África
·         1,5 milhão no Afeganistão
·         150 mil na América Latina
·         10 mil como resultado das ações do movimento internacional comunista e de partidos comunistas fora do poder.
Esta soma petrificante de 94,4 milhões de pessoas exterminadas pelos regimes comunistas é estimada pelos autores de ‘O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão’, uma obra coletiva de professores e pesquisadores universitários europeus encabeçados pelo francês Stéphane Courtois. Como o livro é de 1997, ele obviamente não computa as mortes cometidas de lá para cá nas regiões que continuaram sujeitas a esse regime e aos seus métodos essencialmente opressivos, como a China e a Coreia do Norte; nem, é claro, nas regiões que retrocederam na sua trajetória democrática para reeditar essa aberração histórica – como a Venezuela de Chávez, Maduro e seus comparsas do Foro de São Paulo.

Numa época em que as farsas de viés socialista voltam a se apresentar ao mundo como ‘libertadoras do povo’ (novamente, vide Venezuela, mas vide também as modalidades de ‘fatiamento da riqueza’ praticadas por governos de ideologia socialista em países como Cuba, Argentina e mesmo o Brasil), a verdade sobre o comunismo costuma ser evitada nas TVs e nos ‘grandes’ jornais e revistas a serviço desse mesmo projeto de poder – que não é exatamente um poder ‘do proletariado’, como prega, descaradamente, a sua propaganda (a este propósito, nunca é demais recordar o magistral resumo feito por George Orwell sobre a ‘igualdade’ realizada pelo comunismo : Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros).

Dentro desse contexto ideológico e da tergiversação dos fatos que é uma sua característica indissociável, é digno de aplausos que o Papa Francisco tenha dado nome aos bois – assim como já deu a outro genocídio amplamente ‘esquecido’ pelo mundo até recentemente : aquele que a Turquia otomana perpetrou contra a Armênia cristã em 1915.’

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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O que é normal?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor


‘Depois de três dias chuvosos, a manhã permitiu que o sol brilhasse preguiçoso, entre nuvens. Em minha caminhada matinal, alguém comentou comigo : ‘Parece que hoje teremos um dia normal’.  Sua frase ficou martelando em minha cabeça : o que seria um dia normal? Por acaso, a chuva, assim como o sol brilhante, não seriam coisas normais em um dia? E a normalidade do dia, não seria o conjunto de fatos ‘normais’ a compô-lo?
A partir desse questionamento interior, comecei a percorrer um tortuoso caminho de reflexões. A todo momento ouvimos alguém afirmar; ‘Fulano não é normal!’ Ou então : ‘Isso que está acontecendo não é normal!’ E me veio então a pergunta fundamental : e o que é normal? Que parâmetros usamos para fazer tais avaliações tão sérias? Afinal, se digo que algo ou alguém não é normal, estou afirmando que aquilo, ou ele, é anormal. Será justo esse julgamento?
Resolvi procurar uma definição de normal, e entre tantas encontrei estas : ‘Normal é um adjetivo que qualifica algo como comum, regular e usual, significando que não foge aos padrões ou a norma’; e : ‘Normal vem de norma que significa regra. Na maioria dos casos, ser normal quer dizer estar dentro da média’. E por aí vai. Contudo, chamou-me a atenção uma coisa comum em quase todas as definições que encontrei : normal é seguir as regras. E então surgiu outra dúvida : e que são as regras? Quem as define, se considerarmos que somos uma multidão de indivíduos, miríades de crenças, milhares de ideologias? Nessas situações, a estatística passa a ser o recurso mais comumente utilizado : verifica-se o que é padrão na maior parte do grupo em estudo, e o que ganhar torna-se a regra, e consequentemente o parâmetro para se definir a normalidade.  Com isso verificamos que não será possível definir uma normalidade universal. Hábitos milenares no oriente, são absurdos totais no ocidente. Como definir então quem é normal, eles ou nós? A saída será dizer que eles são normais lá, não aqui. Com isso estabelecemos uma indesejável postura agressiva, belicosa. Afinal, não aceitamos que nos considerem anormais, se para nós os anormais são eles. Muitas guerras tiveram início, e desastrosos fins, por essa razão.
Criei esta barafunda mental, propositadamente, para abordar a situação hoje vivida no mundo inteiro : o conflito entre normais, chegando as raias da agressão e até do ódio homicida. Cada pessoa se acredita normal e pretende condenar o outro que tem aparência física, comportamento, etnia, ou gostos e opções diferentes. A intolerância para com o diferente está atingindo níveis assustadores em nosso tempo. Quanto mais civilizados nos acreditamos, mais bestiais e ferozes nos tornamos.
Não vou me deter em nenhuma condição particular onde isso acontece, mesmo porque a lista seria vasta, e portanto maçante. Por outro lado, a simples menção à alguma condição de diferença já provocaria, nos dois lados, uma forte animosidade, inclusive contra esse escriba. Afinal, por mais normal que cada um se julgue, ele sempre será taxado de anormal por algum outro com pensamentos diversos dos seus, o que certamente provocará reações imprevisíveis. 
Contudo, permito-me fazer algumas observações, sem a menor intenção de atingir quem quer que seja. A primeira, é a importância de suspendermos nossos julgamentos sempre que vier à nossa mente que aquilo, ou aquele, é anormal. A normalidade é uma utopia, algo inalcançável. Uso uma citação de Freud : ‘Um ego normal é como a normalidade geral, uma ficção ideal’. Portanto, classificar alguém de anormal é a suprema pretensão de se julgar normal. Afinal, eu me estarei usando como padrão para julgar o outro. O que já será uma anormalidade deplorável.
A segunda, é não se julgar no direito de ter comportamentos bizarros, considerando não o conceito de normalidade, mas de habitualidade do meio em que se vive, ou em que se encontra. Na grande maioria das vezes, esses comportamentos são apenas uma manifestação de agressividade contra os outros, estatisticamente considerados normais. Agindo em público, de modo escandaloso, fora dos padrões majoritariamente seguidos por aquela comunidade, quase sempre isso será feito de modo totalmente artificial, e portanto com o intuito precípuo de provocar reações alheias. Imagine a saída de torcidas de um estádio, e um torcedor do time A, vestindo seu uniforme e portando bandeiras ou assemelhados do seu clube, ostensivamente entrando no meio da torcida do time B, e ainda gritando loas ao time A. Será um comportamento bizarro, agressivo e provocativo aos demais, o que certamente lhe trará consequências drásticas. Não caberá aqui qualquer classificação de normal ou anormal, mas simplesmente de uma tremenda e estúpida provocação. O pior é quando, para justificar tal procedimento, as pessoas recorrem ao artigo 5º alínea XV da Constituição brasileira, que fala do direito da livre locomoção, ou seja, o desgastado direito de ir e vir, esquecendo-se de que todo direito é bilateral, e sempre traz deveres consigo. Muitas das agressões, divergências, e até homicídios a toda hora ocupando espaços da mídia, têm raiz nessa luta pela conquista do direito de ser e agir como ‘normal’. Normalidade que realmente não existe, como já vimos, e que só se justifica recorrer a ela, quando se está respeitando o direito do outro, de também querer ser ‘normal’.’

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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Avanços e retrocessos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

O país naufraga no lamaçal da corrupção, da indiferença com os mais pobres, dos interesses que favorecem oligarquias.
 *Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


‘A sociedade sofre com as consequências das mentalidades equivocadas de seus cidadãos, particularmente dos atores políticos, formadores de opinião e líderes diversos. Incontestavelmente, as percepções, interpretações e juízos definem dinâmicas e rumos, determinam avanços e retrocessos. E as perdas não são poucas, pesam sobre a vida de todos. Esse passivo relaciona-se com graves problemas na articulação entre conhecimentos, informações, interesses, sentido social e político, exercício da cidadania. Por subjugar-se a mentalidades questionáveis, a sociedade brasileira não aproveita todo o seu potencial, considerando o privilégio das riquezas naturais que integram o tesouro do Brasil. Perde-se a chance de edificar uma nação mais solidária, fraterna, com apreço à justiça e à cultura da paz.
Na contramão dessas possibilidades todas, a sociedade brasileira desconsidera suas riquezas naturais, culturais, artísticas e relacionadas à religiosidade, que poderiam qualificar sua identidade. Com isso, naufraga no lamaçal da corrupção, da indiferença com os mais pobres, dos interesses que favorecem oligarquias. As mentalidades oligárquicas - um sentido falso de cidadania - impedem o surgimento de novos cenários no contexto nacional. Não há compromisso com a igualdade e, desse modo, convive-se passivamente com situações de miséria. A doença da ganância limita entendimentos, impede que demandas urgentes sejam consideradas, gerando, assim, incompetência para que se dê um passo novo no caminho que leva ao bem de todos.
A falta de dinâmicas capazes de imprimir velocidade no desenvolvimento integral do conjunto da sociedade não se deve à carência de referências tecnológicas ou de recursos intelectuais. Um percurso acadêmico, a conquista de conhecimentos técnicos, pouco valem para promover avanços sociais se não houver também qualificada mentalidade, pois se torna inviável o lúcido entendimento do contexto atual, da cultura e das oportunidades para que o bem de todos seja alcançado. Se o conhecimento técnico não se alicerça em valores, princípios e inventividades que configurem o compromisso com o bem comum, os retrocessos são inevitáveis. Esse conhecimento permanece enjaulado nos interesses mesquinhos ou na leitura equivocada da realidade. 
Fenômeno estarrecedor é a distorcida visão de indivíduos que não conseguem enxergar ‘para além de um palmo adiante do nariz’, conforme o dito popular. Essa cegueira causa impactos não apenas no âmbito pessoal, mas também no contexto familiar, na comunidade religiosa, nas dinâmicas de uma cidade - grande ou pequena.  Sem enxergar o que está para além dos próprios interesses, todos permanecem na mediocridade e sacrificam o bem comum. E diante dessa situação, a sociedade continua a conviver de forma apática com os retrocessos.
A falta de lucidez tem sérias consequências que requerem muito tempo e esforço para serem reparadas. Urge um tratamento sistêmico da mentalidade vigente, sobretudo no mundo da política e em todos os outros segmentos que deveriam ser construtores de uma sociedade pluralista. Trata-se de caminho que leva à clarividência necessária para compreender o verdadeiro sentido de desenvolvimento integral. Trilhá-lo permitirá conquistar práticas e legislações que poderão tirar o Brasil da obscuridade.
Muitas situações devem ser ponto de partida para romper com a mediocridade, que se manifesta, claramente, nas dificuldades que a representação política tem para elaborar as reformas, a exemplo da trabalhista, para que sejam vetores de avanços, e nunca de retrocessos, no respeito à dignidade humana. Entre muitos parâmetros e princípios, a mentalidade contemporânea precisa orientar-se pela busca do bem comum. Esse é o fundamento da ética social, que possibilita o respeito à vida humana, o reconhecimento de sua sacralidade. A ética social, quando assumida como princípio, resulta no desabrochar da competência para a criatividade e o discernimento, permitindo o aproveitamento das oportunidades que levam a novas e esperadas respostas. Por isso, desafiadora e muito necessária é a tarefa de retrabalhar mentalidades para que, em lugar de retrocessos, a sociedade deslize sobre os trilhos dos avanços.’

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terça-feira, 21 de novembro de 2017

17 cientistas que eram também sacerdotes católicos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Albert Einstein e Padre Geoges Lemaître, Califórnia, 1933

*Artigo da Redação da Aleteia


‘A ciência e a  são parceiras que só andam separadas na cabeça de quem quer negar alguma parte da essência humana, aberta naturalmente ao conhecimento, à busca de significado e à exploração de hipóteses que possam ser confirmadas ou refutadas. Não há verdadeira ciência sem abertura ao mistério, nem fé autêntica sem abertura à investigação científica. Faz todo o sentido, por isso, que alguns dos grandes cientistas da história da humanidade tenham sido também sacerdotes.
Conheça 17 deles :

1 – São Silvestre II (945-1003)
O primeiro Papa francês da história da Igreja era matemático e foi um dos primeiros divulgadores dos numerais indo-arábicos na Europa cristã.

2 – Guido d’Arezzo (992 a 1050)
Este monge medieval é um dos responsáveis pelo sistema de notação musical moderna : foi ele quem criou o tetragrama e batizou as notas musicais (a partir das primeiras sílabas de um hino em latim a São João Batista).

3 – Santo Alberto Magno (1193-1280)
Sacerdote dominicano, bispo e Doutor da Igreja, foi também o químico a quem se credita a descoberta do arsênio.

4 – Roger Bacon (1214-1294)
Frade franciscano conhecido como ‘Doutor Admirável’, fez estudos e pesquisas em áreas importantes do conhecimento como a mecânica, a ótica e a geografia, além da filosofia.

5 – Jean Buridan (1300-1375)
Padre francês, foi um dos pioneiros da Teoria do Ímpeto, que abriu caminho para a dinâmica de Galileu e para o princípio da inércia de Isaac Newton.

6 – Nicolau Oresme (1323-1382)
Teólogo e bispo de Lisieux, fez estudos e pesquisas não apenas como filósofo, psicólogo e musicólogo, mas também como economista, matemático, físico e astrônomo, e, graças a esse conjunto de conhecimentos, descobriu a refração atmosférica da luz.

7 – Nicolau Copérnico (1475-1543)
Embora seja famosíssimo, ainda há muita gente que não sabe que este matemático e astrônomo polonês, pai da teoria heliocêntrica e da astronomia moderna, era sacerdote. E também era jurista, político, líder militar, diplomata e economista.

8 – Francesco Maria Grimaldi (1618-1663)
Padre jesuíta italiano, físico e matemático, ele construiu instrumentos para medir características geológicas da lua e foi pioneiro nos estudos sobre a difração da luz.

9 – Giovanni Battista Riccioli (1598-1671)
Também sacerdote jesuíta, foi o primeiro a medir a aceleração de um corpo em queda livre e é reconhecido como pioneiro da astronomia lunar.

10 – Athanasius Kircher (1602-1680)
Outro jesuíta cientista, inventor, poliglota e especialista em cultura oriental, contribuiu também com a medicina ao usar um microscópio rudimentar para examinar doentes de peste : um projetor de imagens conhecido como ‘lanterna mágica’, criado por ele próprio, possibilitou importantes avanços na compreensão da peste bubônica. Além disso, escreveu mais de quarenta livros, entre eles o famoso ‘Mundus Subterraneus’ (1665), para expor o conhecimento da época sobre o interior da Terra.

11 – Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724)
Este padre é um dos precursores da aviação, área em que a sua importância é relevante a ponto de que a Força Aérea Brasileira conceda todos os anos, a pessoas que prestaram serviços importantes para a aeronáutica, um prêmio que traz o nome dele : a Medalha Bartolomeu de Gusmão.

12 – Ruder Boskovic (1711-1787)
Mais um jesuíta que, além de sacerdote, era poeta, físico, astrônomo, filósofo e matemático. Influenciou na obra de nomes tão relevantes como Faraday, Kelvin e Einstein.

13 – Gregor Mendel (1822-1884)
Agostiniano austríaco e pai da genética, legou ao mundo as assim chamadas ‘leis de Mendel’ sobre a transmissão dos caracteres hereditários.

14 – James B. Macelwane (1833–1956)
Todos os anos, a União Geofísica Americana concede a medalha James B. Macelwane a um cientista de até 36 anos de idade que tenha prestado contribuições significativas à Geofísica. O nome da medalha é uma homenagem a este padre jesuíta que se dedicou com grande empenho à formação de jovens cientistas que contribuíssem com o progresso da humanidade.

15 – Jean-Baptiste Carnoy (1836-1899)
Fundador da citologia, é dele a criação da importante fórmula da medicina conhecida como ‘solução de Carnoy’. Nascido na Bélgica, foi ordenado sacerdote em 1861 e se doutorou em Ciências Naturais em 1865.

16 – Georges Lemaître (1894-1966)
Padre católico belga, era astrônomo, cosmólogo e físico. Propôs a ‘hipótese do átomo primordial’ para estudar a origem do universo, o que veio a se popularizar como a teoria do Big Bang. Na foto que ilustra este artigo, vemos o padre Lemaître com Albert Einstein na Califórnia em 1933.

17 – Bonaventura Thürlemann (1909–1997)
A este padre beneditino e professor de matemática e física na escola do mosteiro de Engelberg, na Suíça, é reconhecida a invenção dos medidores eletromagnéticos de fluxo. Ele publicou, em 1941, um trabalho intitulado ‘Methode Zur Elektrischen Geschwindigkeitsmessung Von Flüssigkeiten’ (Método Elétrico para a Medição da Velocidade em Líquidos).

E mais:

Para não alongar muito, sugerimos este artigo sobre a contribuição tanto histórica quanto atual da Igreja ao conhecimento científico do mundo : Harmonia entre a Ciência e a Igreja, de Alexandre Zabot, que é físico, doutor em Astrofísica, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e católico.

MAS…

Apesar de toda a contribuição da Igreja nos diversos campos científicos e culturais, do filosófico ao psicológico, do social ao literário, do artístico ao jurídico, do médico ao astronômico, do químico ao físico, do musical ao pedagógico (e poderíamos continuar  detalhando longamente…), ainda é grande (e surpreendente) o número de laicistas intelectualmente desonestos que teimam em pré-julgar uma Igreja que sequer conhecem – muito em desacordo com seu próprio mantra de se livrar de boatos infundados em vez de engoli-los cegamente…

Ao se fecharem arrogantemente ao que não conseguem entender, esses pseudo-cientistas incorrem no mesmo dogmatismo cego que, ironicamente, atribuem à Igreja; ou, prescindindo de toda ética, se comportam como deuses e causam catástrofes criminosas em nome de uma ciência que não passa de ideologia irresponsável; ou se alinham à prepotência eugenista do nazismo; ou deixam de enxergar a beleza que vai muito além da estreitez dos seus conceitos anticientíficos disfarçados de progresso humano – e propõem genuínas barbaridades.

Ah, mas e Galileu? Aqui. E a Inquisição? Aqui. E as Cruzadas? Aqui. E… e… e…

Não existem nem cem pessoas que odeiam a Igreja católica. Mas existem milhões de pessoas que odeiam o que eles pensam que é a Igreja católica’ (Fulton Sheen).’

Fonte :

domingo, 19 de novembro de 2017

O fascínio do poder

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor
  
‘Quando se conversa com um jovem sobre seus projetos para o futuro, é comum ouvir dele que seu sonho é ter uma profissão bem rentável, proporcionando-lhe recursos que lhe dê vida farta e confortável. Bem, é verdade que nem sempre a resposta é tão direta assim, todavia nas linhas e entrelinhas o que, com facilidade se deduz, é esta obviedade de seus anseios. Ter dinheiro, muito dinheiro, é a síntese dos sonhos de muitos jovens e adultos.
Permitindo-me um pequeno deslize para lugar comum, nos dias atuais os ocupantes de cargos políticos são, talvez com raríssimas exceções, exemplos típicos dos caçadores de tesouros, cujo objetivo máxime é exatamente este : grandes fortunas. Disputam cargos eletivos sem qualquer motivação altruística, pouco se importando com a fome e a miséria dos que os cercam, muitos deles seus futuros eleitores. Estão com os olhos dilatados em busca de polpudos ganhos, não importando a forma, a origem, nem as retribuições que por eles terão de dar. Há muito ouvi de um familiar, já falecido, e na época bastante envolvido com a política, que a única coisa importante na vida é o dinheiro. Afirmava, com insistência e convicção, que o dinheiro é a força única que move o mundo. E por dinheiro, muitos fazem qualquer coisa, sem qualquer escrúpulo. Vendem seu corpo, sua alma, sua dignidade, sua família e, se preciso for, matam pessoas, mesmo sendo pais, irmãos, parentes e amigos, bastando para isso que eles obstaculizem os seus ambicionados projetos de polpudos ganhos. Na verdade, o fazem até mesmo por modestos estipêndios...
Contudo, hoje tenho absoluta convicção de que o dinheiro não é o objetivo final dessas pessoas. Se assim fosse, ao chegar a um certo teto – digamos, bastante elevado – certamente parariam com sua fúria conquistadora para poder desfrutar, da melhor maneira possível, dos milhões arrecadados, sem outras preocupações. Mas, observando bem, elas não se contentam com teto algum. Algumas, nem sequer usufruem das benesses proporcionadas pelas grandes fortunas amealhadas. Querem mais, sempre mais, muito mais do que lhes será possível gastar, por mais perdulários que sejam, por mais longa que imaginem suas vidas. Basta observar as cifras levantadas por esta avalanche moralista que está sendo a ‘Operação Lava jato’. Montantes de dinheiro que nem sequer ousávamos pensar existir em qualquer corporação, são abocanhadas insaciavelmente por deputados, senadores, seus asseclas e outros ocupantes de cargos públicos. Tudo à custa de manobras sujas, das quais sequer se envergonham quando desveladas as suas safadezas, e são conduzidos coercivamente por policiais federais fortemente armados. Basta observar o cinismo com que os seguem. Como explicar então essa ganância? Respondo que é pelo verdadeiro objetivo final de sua fome insaciável : o poder. O que realmente almejam é o poder, e este não tem limites. Para conseguir todo o poder que desejam, em níveis insanamente sonhados, somente através do dinheiro, muito dinheiro. Daí a sua necessidade, sempre crescente, de arrecadar mais e mais, permitindo-lhes comprar pessoas, cargos, e tudo o mais que representa ou que lhes possa proporcionar o poder com que sonham.  
Vem então uma pergunta crucial : para que se quer, ou se precisa de tanto poder? Pesquisando a história descobrimos que nenhuma pessoa, mesmo conquistando poderes em níveis inimagináveis, logrou alcançar a felicidade, esta sim o desejo oculto no fundo dos corações e mentes de todos os humanos. Para quem goza de poder extremo, extremos também são os riscos que corre. Sua vida é uma constante caminhada em corda bamba, equilibrando-se no tênue fio da navalha, sem poder nem conseguir viver plenamente a vida. Seus prazeres são fugazes, sempre com o sabor amargo da insegurança que os cerca e que fingem ignorar. Vaidosos e arrogantes, vivem enquistados num mundo de iguais, com os quais compete e por vezes são por eles traídos. Afinal, a luta pelo pódio não tem quartel nem condescendência. Tudo é válido para sobrepujar o outro, ou para se livrar das perdas que lhes acontecem. Exemplos evidentes eram as lutas de gângsteres nos anos 30, e são as dos grupos de traficantes nos dias atuais; entre os coronéis da política no passado e a larga safra de políticos desnudados pela ‘Lava jato’ na atualidade. A delação premiada é hoje a arma de dois gumes para tentar se safar, ao mesmo tempo em que destroem os concorrentes. Cabeças raspadas, tornozeleiras eletrônicas, escolta da Federal, apontam os poderosos em declínio.
Curiosamente, o símbolo do poder total é Deus. Não é sem razão o que dizem dos poderosos : ‘Eles se julgam deuses!’ Mas poucos têm a consciência de que Deus, aquele que É, não tem, não precisa, nem quer poder algum. Se assim fosse, seríamos todos marionetes sem vontade própria, manipulados por um ser todo poderoso. Quem tem poder sempre quer dominar os mais fracos, exercendo sobre eles a força que acreditam possuir, ampliando seus próprios benefícios, espoliando os dominados, insensíveis às suas penúrias e aos seus sofrimentos.  
Deus, na sua imensidade infinita, jamais precisou nem buscou dominar ninguém, pois se assim fosse ele não seria amado, e sim temido. Condição incompatível com a perfeição de um Ser supremo. Nós é que distorcemos o que desconhecemos, como o frequentemente referido ‘temor de Deus’, usado para amedrontar e ameaçar os crentes mais ingênuos. O sentido real dessa expressão é o profundo respeito que devemos ter à Deus, resultado do máximo amor que lhe temos, em retribuição ao amor infinito que Ele nos dedica. Assim como o temor dos pais e mestres, hoje tão fora de moda, nunca deve ser o medo, mas o respeito indispensável a quem devemos tanto, se não tudo. Onde existe verdadeiro amor, certamente o poder jamais encontra lugar ou guarita.’

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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O impressionante milagre que aconteceu no deserto egípcio

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Philip Kosloski


‘Nos séculos III e IV, muitos homens e mulheres se inspiravam no exemplo de um humilde eremita – agora conhecido como Santo Antônio Abade – e deixavam tudo o que tinham para levar uma vida de oração e contemplação no deserto egípcio.
Um dos centros principais deste tipo radical de vida monástica foi uma região conhecida como Scetis, localizada ao noroeste do Delta do Nilo. Segundo antigos registros, lá viveu um monge que tinha dúvidas sobre a presença de Jesus na Eucaristia.
Ele costumava dizer aos seus irmãos monges que ‘o Pão que recebemos não é o Corpo de Cristo, mas um símbolo desse Corpo’.
Questionado por membros da comunidade monástica, ele retrucou : ‘Se vocês não me mostrarem provas, não mudarei a minha opinião’.
Mais tarde, durante uma Missa de domingo, quando o desconfiado monge disse as palavras de consagração sobre a hóstia eucarística, um menino apareceu em suas mãos, no lugar do pão consagrado. Ficou claro para o monge que era o Menino Jesus. No momento em que ele foi colocar a hóstia na boca, a hóstia tomou novamente a forma do pão consagrado. Diante deste inesperado milagre, o monge declarou : ‘Senhor, creio que o teu Pão é o Teu Corpo e que o Teu Sangue está no cálice’.
Esse milagre evoca uma conexão similar que muitos santos e santas expressaram ao longo dos séculos. Eles acreditavam que cada Missa é como o Natal, quando cristo desce dos céus para ficar em nossos altares. Desta maneira, todos os dias são ‘Natais’, pois Jesus ‘está entre nós’ sob a aparência do pão.’

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