*Artigo
do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Uma colega de trabalho no escritório voltou ao serviço depois
de alguns dias de ausência pela morte da sua mãe. Já durante a missa do funeral
me surpreendera pela coragem com que convidou os presentes a louvar a Deus pelo
modo como a mãe guiara a sua família e pelo tipo de relacionamento que
conseguia estabelecer com todos.
No dia do regresso, partilhando algo sobre a experiência que
estava ainda a viver e a tentar começar a compreender, contou que o seu filho
mais pequeno, quando regressaram a casa, se abraçou a ela a chorar e a
perguntar : «Mas para onde é que a avó
foi? Já tenho tantas saudades dela!». «E
eu disse-lhe – continuou a contar – que a avó tinha ido viver com os anjos, e
que lá, já não tinha a doença que lhe causara tanto sofrimento, que estava
contente porque de lá podia continuar a ver-nos todos, mesmo se nós não a
podemos ver.» Parou um momento, como para conter a emoção, olhou-me direito
nos olhos e perguntou : «É mesmo verdade,
não é?» «Claro que sim», respondi
para dar força à jovem mãe que precisava de reforçar a fé do filho e também
para consolar aquela filha que acabava de perder a sua mãe.
Mais tarde, pensei : que bom que é, quando podemos falar destas
experiências dolorosas usando a linguagem da fé que partilhamos e ajudando
também os mais novos a enfrentar, pouco a pouco, os aspectos mais difíceis da
nossa vida humana.
Na religiosidade tradicional de boa parte dos povos africanos, o
mistério do que as pessoas humanas vivem depois dessa passagem misteriosa que é
a morte é de uma grande riqueza.
Encontra-se frequentemente a convicção de que, depois da morte, o
que fica conosco são simples restos mortais que tratamos com respeito, mas a
pessoa inicia uma viagem em direção ao mundo espiritual onde encontrará Deus
(seja qual for o Seu nome) em companhia de todas as pessoas que partiram antes
e que já conseguiram lá chegar. A ‘duração
da viagem’ depende da vida que a pessoa viveu. Um dia, um senhor que tinha
perdido a sua esposa cerca de um mês antes, veio pedir-me que celebrasse uma
missa com toda a sua família para agradecer porque ela já tinha chegado à casa
de Deus. Era uma pessoa tão boa, que não precisava de uma viagem longa para se
purificar : na sua opinião, quando partiu já estava quase pronta para entrar no
mundo espiritual. Se a família e os amigos a lembrassem com frequência e
rezassem por ela, a viagem fazia-se ainda mais curta... E quando lá chegam?
Então começa uma vida verdadeiramente feliz, e quanto melhor tiver sido a vida
que viveram aqui conosco, mais feliz é a vida que agora vivem no mundo
espiritual. Aqueles e aquelas que foram verdadeiramente pessoas de grande
qualidade e que conseguiram transmitir o dom da vida a muitos outros, na
eternidade tornam-se estreitos colaboradores de Deus para ‘canalizar’ todo o tipo de bênçãos para quem ainda continua a viagem
da vida ‘cá deste lado’.
No fundo, estas crenças não estão longe do que acreditamos
também nós, cristãos, sobre a vida que nos espera do outro lado da morte. Como
diz uma oração de que gosto muito : «Para
os que acreditam em Deus, a vida não acaba, apenas se transforma.»
A minha colega estava a ajudar o seu filho mais pequeno a
começar a entender este mistério que é doloroso e bonito ao mesmo tempo.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EVEpkuykZAGONfZPuI
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