*Artigo
da redação da AIS
‘Na atualidade, aproximadamente 215 milhões de cristãos são
perseguidos no mundo (Portas Abertas, 2017). A situação dos cristãos nos países
onde são uma minoria deteriorou-se muito e alastrou a mais locais e
protagonistas, conclui o documento intitulado Perseguidos e Esquecidos?
da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) sobre a perseguição religiosa no
mundo.
O relatório analisa a situação em treze países, entre Agosto de
2015 e Julho de 2017, concluindo que «houve
um declínio da liberdade de expressão da fé da comunidade cristã», que está
a ser vítima de uma perseguição «nunca vista na História», e de uma violência
sem precedentes. «A investigação revelou
provas de perseguição muito grave aos cristãos em termos de violações de
direitos fundamentais : violência, incluindo violação, detenção ilegal,
julgamento injusto, impedimento de encontro religioso e de expressão
(religiosa) pacífica» pode ler-se no documento.
O texto revela que o Cristianismo é «a comunidade religiosa mais oprimida do mundo, mas também que em muitos
casos o genocídio e outros crimes contra a Humanidade significam agora que a
Igreja em países e regiões fundamentais enfrenta a possibilidade da extinção
iminente». A fundação pontifícia defende que «cabe aos nossos governos usarem a sua influência para defender as
minorias, em especial os cristãos. Estes já não devem ser sacrificados no altar
da conveniência estratégica e da vantagem econômica».
Genocídio de cristãos
Destaca-se no relatório que os cristãos na Síria e no Iraque
foram vítimas de genocídio, segundo a definição da Convenção para a Prevenção e
Repressão do Crime de Genocídio adotada pelas Nações Unidas. «As provas são coerentes com uma ‘intenção de
destruir no todo ou em parte’ a comunidade cristã, e correspondem a todos os
indicadores estabelecidos pela convenção».
No Iraque, o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) e outros
grupos militantes islamitas tentaram eliminar o Cristianismo em áreas sob o seu
domínio, inclusive destruindo igrejas e por meio da conversão forçada. A
legislação do Governo central provocou o receio de que as crianças cristãs
poderiam ser forçadas a renunciar à fé. Os cristãos estão «à beira da extinção» e «a
possibilidade de uma das igrejas mais antigas do mundo desaparecer já não é uma
questão de especulação a longo prazo, mas uma realidade potencialmente iminente».
O mesmo está em risco de acontecer na Síria. Houve relatos
terríveis de atrocidades genocidas cometidas pelo Daesh durante este período.
Um número desproporcionalmente elevado de cristãos fugiu da Síria, até metade
da população cristã. «Embora os números
para o país como um todo sejam discutíveis, é digno de nota que, em Março de
2016, o bispo caldeu Antoine Audo, de Alepo, alegasse que os cristãos da Síria
eram então 500 mil, uma queda de 1,2 milhões, ou dois terços no período de
cinco anos». Em Novembro de 2016, o sacerdote católico Padre Patrick Desbois
descreveu as suas experiências de ajuda a famílias cristãs no Iraque e na Síria
dizendo : «Eles deslocam as famílias,
pegam os bebês recém-nascidos e colocam-nos em famílias islamitas»,
acrescentando que as crianças são treinadas para serem terroristas. O Padre
Desbois disse que «as raparigas que são
virgens são selecionadas pelos médicos e vendidas».
Lamenta-se no relatório que a falta de ação dos governos, de «darem os passos necessários para impedirem o
genocídio e levarem os agressores à justiça – tal como estabelecido na
convenção do genocídio – representou um significativo retrocesso para os
cristãos que sofrem». Se as organizações cristãs e outras instituições não
tivessem preenchido essa lacuna, a presença cristã já podia ter desaparecido do
Iraque e de outras regiões do Médio Oriente.
Opressão do Estado
Mas se no Médio Oriente a violência é exercida sobretudo por
grupos jiadistas, há casos em que os ataques contra a comunidade cristã são
realizados pelo próprio Estado. Acontece, por exemplo, na China e na Coreia do
Norte.
Na China, os cristãos totalizam 68,7 milhões, numa população de
1 bilhão 364 milhões. Os esforços do Governo para aumentar o controlo sobre a
Igreja ganharam novo impulso em Abril de 2016, após um discurso programático de
Xi Jinping numa conferência nacional sobre a abordagem do regime à religião.
Parte da narrativa apresentada pelo presidente foi que o Cristianismo é uma
forma de «infiltração estrangeira» na
China. Reconhecendo a influência da prática religiosa na sociedade, insistiu na
necessidade de tornar a vida religiosa autenticamente chinesa (isto é,
comunista) – e «autonomizar» a
religião – ou seja, libertá-la do domínio estrangeiro. Isto refletiu-se na reação
do Governo aos grupos religiosos que funcionam fora do controlo estatal, as
chamadas «Igrejas na clandestinidade».
Verificou-se a remoção cada vez mais generalizada de cruzes das igrejas e a
destruição de edifícios religiosos. Algumas autoridades regionais proibiram as
árvores de Natal e os cartões de boas festas.
Na Coreia do Norte, um país com 24 milhões de habitantes, os
cristãos não chegam a 500 mil (2% da população). Neste país, o grande infrator
no que diz respeito à liberdade religiosa, a percepção de que a religião é um
meio de infiltração estrangeira também se reflete. Nos campos de detenção as
condições vividas são extremas. Os relatos descrevem «atrocidades inomináveis» sofridas pelos cristãos nos campos – sendo
frequentemente destacados para receberem pior tratamento porque são
prisioneiros religiosos –, como trabalhos forçados, tortura, perseguição, fome,
violação, aborto forçado, violência sexual e morte extrajudicial.
Extremismo religioso em África
Também na África há cada vez mais extremismo religioso. A Nigéria
é o país mais populoso da África (168,8 milhões de habitantes). Os cristãos são
quase metade da população, mas a sua vida é ensombreada pela ameaça do Boko
Haram. O grupo terrorista filiado do autoproclamado Estado Islâmico lançou uma
campanha de violência para garantir que os fiéis «não vão conseguir ficar». Pastores islamitas da etnia fulani,
acusados de conluio com a ‘organização
irmã’ Boko Haram, levaram a cabo uma campanha de carnificina, profanação de
edifícios religiosos, violação e expulsão em massa de cristãos. Em Março de
2017, os líderes religiosos entregaram um dossiê à AIS que revelava que numa só
diocese – Kafanchan –, em cinco anos, 988 pessoas tinham sido assassinadas e 71
aldeias majoritariamente cristãs tinham sido destruídas, além de 2712 casas e
20 igrejas. Em Maiduguri, antigo centro nevrálgico do Boko Haram, os
responsáveis diocesanos reportaram que 1,8 milhões de pessoas tinham sido
deslocadas, 5000 mulheres tinham enviuvado e 15 000 crianças eram agora órfãs.
Além disso, tinham sido danificadas 200 igrejas e capelas, além de 35 presbitérios
e centros paroquiais.
No Sudão, a Constituição restringe a liberdade religiosa,
estipulando a lei islâmica como fonte preponderante da legislação,
articulando-a de tal maneira que infringe necessariamente os direitos dos não
muçulmanos. No período de 2015-2017, o presidente do Sudão, Omar al-Bashir,
seguiu uma agenda islamita de linha dura, profundamente hostil para com os
cristãos, que resultou em «igrejas
destruídas todos os meses», cristãos detidos por alegado proselitismo e
mulheres multadas por usarem roupas «obscenas».
Quando o Governo retirou direitos de cidadania a pessoas com origem fora do
país, isso desencadeou um êxodo em massa de cristãos, que foram forçados a ir
para as suas terras natais ancestrais no vizinho Sudão do Sul, apesar de terem
vivido no próprio Sudão durante trinta anos ou mais.
As organizações de direitos humanos alegam que na Eritreia os
presos são maltratados na prisão de Nakura, sendo alguns amarrados e as suas
Bíblias queimadas à sua frente. Até 33 mulheres cristãs foram encarceradas numa
prisão-ilha conhecida por torturar os presos.'
SÍRIA
Desde o início do actual conflito na Síria, cerca de 40 % dos
cristãos deixaram o país.
IRAQUE
Nos anos 90, cerca de 1,4 milhões de cristãos viviam no Iraque.
Agora, este número é menor que 250 mil.
ERITREIA
Cristãos vivem presos em contentores com condições precárias.
Alguns permanecem na prisão durante mais de 11 anos.
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EVEpkuVEkZczJmrSZP
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