sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Cristãos perseguidos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo da redação da AIS


‘Na atualidade, aproximadamente 215 milhões de cristãos são perseguidos no mundo (Portas Abertas, 2017). A situação dos cristãos nos países onde são uma minoria deteriorou-se muito e alastrou a mais locais e protagonistas, conclui o documento intitulado Perseguidos e Esquecidos? da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) sobre a perseguição religiosa no mundo.
O relatório analisa a situação em treze países, entre Agosto de 2015 e Julho de 2017, concluindo que «houve um declínio da liberdade de expressão da fé da comunidade cristã», que está a ser vítima de uma perseguição «nunca vista na História», e de uma violência sem precedentes. «A investigação revelou provas de perseguição muito grave aos cristãos em termos de violações de direitos fundamentais : violência, incluindo violação, detenção ilegal, julgamento injusto, impedimento de encontro religioso e de expressão (religiosa) pacífica» pode ler-se no documento.
O texto revela que o Cristianismo é «a comunidade religiosa mais oprimida do mundo, mas também que em muitos casos o genocídio e outros crimes contra a Humanidade significam agora que a Igreja em países e regiões fundamentais enfrenta a possibilidade da extinção iminente». A fundação pontifícia defende que «cabe aos nossos governos usarem a sua influência para defender as minorias, em especial os cristãos. Estes já não devem ser sacrificados no altar da conveniência estratégica e da vantagem econômica».

Genocídio de cristãos
Destaca-se no relatório que os cristãos na Síria e no Iraque foram vítimas de genocídio, segundo a definição da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio adotada pelas Nações Unidas. «As provas são coerentes com uma ‘intenção de destruir no todo ou em parte’ a comunidade cristã, e correspondem a todos os indicadores estabelecidos pela convenção».
No Iraque, o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) e outros grupos militantes islamitas tentaram eliminar o Cristianismo em áreas sob o seu domínio, inclusive destruindo igrejas e por meio da conversão forçada. A legislação do Governo central provocou o receio de que as crianças cristãs poderiam ser forçadas a renunciar à fé. Os cristãos estão «à beira da extinção» e «a possibilidade de uma das igrejas mais antigas do mundo desaparecer já não é uma questão de especulação a longo prazo, mas uma realidade potencialmente iminente».
O mesmo está em risco de acontecer na Síria. Houve relatos terríveis de atrocidades genocidas cometidas pelo Daesh durante este período. Um número desproporcionalmente elevado de cristãos fugiu da Síria, até metade da população cristã. «Embora os números para o país como um todo sejam discutíveis, é digno de nota que, em Março de 2016, o bispo caldeu Antoine Audo, de Alepo, alegasse que os cristãos da Síria eram então 500 mil, uma queda de 1,2 milhões, ou dois terços no período de cinco anos». Em Novembro de 2016, o sacerdote católico Padre Patrick Desbois descreveu as suas experiências de ajuda a famílias cristãs no Iraque e na Síria dizendo : «Eles deslocam as famílias, pegam os bebês recém-nascidos e colocam-nos em famílias islamitas», acrescentando que as crianças são treinadas para serem terroristas. O Padre Desbois disse que «as raparigas que são virgens são selecionadas pelos médicos e vendidas».
Lamenta-se no relatório que a falta de ação dos governos, de «darem os passos necessários para impedirem o genocídio e levarem os agressores à justiça – tal como estabelecido na convenção do genocídio – representou um significativo retrocesso para os cristãos que sofrem». Se as organizações cristãs e outras instituições não tivessem preenchido essa lacuna, a presença cristã já podia ter desaparecido do Iraque e de outras regiões do Médio Oriente.

Opressão do Estado
Mas se no Médio Oriente a violência é exercida sobretudo por grupos jiadistas, há casos em que os ataques contra a comunidade cristã são realizados pelo próprio Estado. Acontece, por exemplo, na China e na Coreia do Norte.
Na China, os cristãos totalizam 68,7 milhões, numa população de 1 bilhão 364 milhões. Os esforços do Governo para aumentar o controlo sobre a Igreja ganharam novo impulso em Abril de 2016, após um discurso programático de Xi Jinping numa conferência nacional sobre a abordagem do regime à religião. Parte da narrativa apresentada pelo presidente foi que o Cristianismo é uma forma de «infiltração estrangeira» na China. Reconhecendo a influência da prática religiosa na sociedade, insistiu na necessidade de tornar a vida religiosa autenticamente chinesa (isto é, comunista) – e «autonomizar» a religião – ou seja, libertá-la do domínio estrangeiro. Isto refletiu-se na reação do Governo aos grupos religiosos que funcionam fora do controlo estatal, as chamadas «Igrejas na clandestinidade». Verificou-se a remoção cada vez mais generalizada de cruzes das igrejas e a destruição de edifícios religiosos. Algumas autoridades regionais proibiram as árvores de Natal e os cartões de boas festas.
Na Coreia do Norte, um país com 24 milhões de habitantes, os cristãos não chegam a 500 mil (2% da população). Neste país, o grande infrator no que diz respeito à liberdade religiosa, a percepção de que a religião é um meio de infiltração estrangeira também se reflete. Nos campos de detenção as condições vividas são extremas. Os relatos descrevem «atrocidades inomináveis» sofridas pelos cristãos nos campos – sendo frequentemente destacados para receberem pior tratamento porque são prisioneiros religiosos –, como trabalhos forçados, tortura, perseguição, fome, violação, aborto forçado, violência sexual e morte extrajudicial.

Extremismo religioso em África
Também na África há cada vez mais extremismo religioso. A Nigéria é o país mais populoso da África (168,8 milhões de habitantes). Os cristãos são quase metade da população, mas a sua vida é ensombreada pela ameaça do Boko Haram. O grupo terrorista filiado do autoproclamado Estado Islâmico lançou uma campanha de violência para garantir que os fiéis «não vão conseguir ficar». Pastores islamitas da etnia fulani, acusados de conluio com a ‘organização irmã’ Boko Haram, levaram a cabo uma campanha de carnificina, profanação de edifícios religiosos, violação e expulsão em massa de cristãos. Em Março de 2017, os líderes religiosos entregaram um dossiê à AIS que revelava que numa só diocese – Kafanchan –, em cinco anos, 988 pessoas tinham sido assassinadas e 71 aldeias majoritariamente cristãs tinham sido destruídas, além de 2712 casas e 20 igrejas. Em Maiduguri, antigo centro nevrálgico do Boko Haram, os responsáveis diocesanos reportaram que 1,8 milhões de pessoas tinham sido deslocadas, 5000 mulheres tinham enviuvado e 15 000 crianças eram agora órfãs. Além disso, tinham sido danificadas 200 igrejas e capelas, além de 35 presbitérios e centros paroquiais.
No Sudão, a Constituição restringe a liberdade religiosa, estipulando a lei islâmica como fonte preponderante da legislação, articulando-a de tal maneira que infringe necessariamente os direitos dos não muçulmanos. No período de 2015-2017, o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, seguiu uma agenda islamita de linha dura, profundamente hostil para com os cristãos, que resultou em «igrejas destruídas todos os meses», cristãos detidos por alegado proselitismo e mulheres multadas por usarem roupas «obscenas». Quando o Governo retirou direitos de cidadania a pessoas com origem fora do país, isso desencadeou um êxodo em massa de cristãos, que foram forçados a ir para as suas terras natais ancestrais no vizinho Sudão do Sul, apesar de terem vivido no próprio Sudão durante trinta anos ou mais.
As organizações de direitos humanos alegam que na Eritreia os presos são maltratados na prisão de Nakura, sendo alguns amarrados e as suas Bíblias queimadas à sua frente. Até 33 mulheres cristãs foram encarceradas numa prisão-ilha conhecida por torturar os presos.'
  
SÍRIA
Desde o início do actual conflito na Síria, cerca de 40 % dos cristãos deixaram o país.
 IRAQUE
Nos anos 90, cerca de 1,4 milhões de cristãos viviam no Iraque. Agora, este número é menor que 250 mil.
 ERITREIA
Cristãos vivem presos em contentores com condições precárias. Alguns permanecem na prisão durante mais de 11 anos.

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