*Artigo de Manoel Cardoso
Livro que instiga inicialmente a curiosidade do leitor, pois tem como um
dos protagonistas um murídeo, através do recurso literário, personificação (age
como ser humano). Não é muito comum as narrativas utilizarem animais em seus
contextos, a não ser nos Contos de Fadas e em textos destinadas às crianças. Recorda-se que nos tempos atuais, depois da segunda
metade do século XX, apenas dois livros de maior destaque foram lançados empregando esse recurso : Fernão Capelo
Gaivota, de Richard Bach, e Cândido
Urbano Urubu, de Carlos Eduardo Novaes. Dom João Baptista pode inscrever
seu livro nesse cenário de simbologia, que prende muito o leitor, cuja
curiosidade é despertada, pois uma Ratinha, de nome Jennifer, participará de
todos as peripécias da obra, através da investigação, do abandono familiar, da
busca da luz, fugindo das trevas de
sua profunda cova.
O Autor, portador de invejável cultura, senhor de mil atributos, intima
o leitor a participar das peripécias desse pequeno roedor, toma-o pela mão e
vai conduzindo-o do jardim à intimidade de um mosteiro que tão poucos conhecem,
em profundidade. E travestido como um pequeno murídeo, o leitor penetra na fundura
daquele mundo, capela, refeitório, biblioteca, cela, pois a curiosidade se
aguça à medida que a narrativa se desenrola. Soma-se a Jennifer e convive mais
tempo junto ao protagonista, na biblioteca, seu espaço de atividade, e em todos
os demais lugares pelos quais transita o narrador.
Quando o leitor quase está certo de que o espaço da narrativa é um
Mosteiro Brasileiro, no capítulo VII, experimenta grande surpresa, ao constatar
que o espaço real é a Abadia de São Miguel, na Áustria, onde predomina a arte
barroca com toda a sua riqueza arquitetônica, em voga no século XVIII... E a
narrativa se faz grande, através das informações sobre o mundo sombrio, em
aparência, e luminoso na realidade, de um mosteiro. O leitor segue os passos do narrador e de Jennifer,
inteira-se das atividades diárias, do trabalho do bibliotecário, do encarregado
da cozinha, da horta e dos passos essenciais à espiritualidade, necessários ao
ingresso na Ordem.
O leitor é ainda seduzido pela rica cultura revelada, pelas armadilhas
que se lançam, através de uma narração dinâmica, de um vocabulário erudito, mas
plausível, e pelo profundo conhecimento de todos os recantos de uma Abadia,
espaço da obra, e onde se desenrola a vida monástica.
Aplausos ao autor que se inaugura num patamar bem alto no mundo da
literatura.
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