quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Frutos da conversão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém, PA


‘Há um convite provocante que percorre os séculos, onde quer que chegue a proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo, o chamado à conversão. E este faz parte dos chamados ‘mistérios da alegria’, quando a Igreja reza o Rosário, contemplando, com os olhos de Maria, os acontecimentos de nossa salvação. Sempre é possível acolher de novo e de modo mais decisivo o chamado à mudança de vida, e só estaremos prontos no final de nossa caminhada terrena. E as mudanças decorrentes da conversão interferem, pouco a pouco, a sociedade e o relacionamento entre as pessoas. É hora de abrir os olhos, acolhendo com alegria a linguagem poética que a Igreja oferece neste tempo do Advento.

Alegrem-se o deserto e a terra seca, dance o chão duro, florido como a palma. Que se cubra de flores, dance e comemore, pois Deus lhe deu o esplendor do Líbano, a beleza do Carmelo e do Saron. Eles hão de ver a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus. Fortalecei esses braços cansados, firmai os joelhos vacilantes. Dizei aos aflitos : ‘Coragem! Nada de medo! Aí está o vosso Deus, é a vingança que chega, é o pagamento de Deus, ele vem para vos salvar!’ Então, os olhos dos cegos vão se abrir e abrem-se também os ouvidos dos surdos. Então os aleijados vão pular como cabritos e a língua dos mudos entoará um cântico, porque águas vão correr no deserto, rios na terra seca. O chão duro vai se mudar em pântano e o seco vai se encher de minas d’água, o lugar onde dormiam os chacais será lavoura de juncos e papiros. Haverá aí uma estrada, um caminho, que será chamado de caminho santo. Nenhum impuro passará por ele. Será para eles um caminho reto : nele nem os tolos se perderão. Aí não haverá leão, nem qualquer animal selvagem poderá alcançar esse caminho, ou nele será encontrado. Por ele só andarão os que foram libertados. Os que foram resgatados pelo Senhor voltarão e chegarão a Sião cantando louvores, cobertos de alegria sem fim. Alcançaram a felicidade e o prazer, a dor e a tristeza foram-se embora’ (Is 35, 1-10).

O sonho é alto demais, parece irrealizável! No entanto, a Igreja o proclama de novo no tempo do Advento. É a estação espiritual da esperança, dos projetos de um mundo possível, com a graça de Deus!

Ouvimos dizer : ‘Alegrem-se o deserto e a terra seca. O chão duro vai se mudar em pântano e o seco vai se encher de minas d’água!’ Recolhemos os desejos de porções imensas da humanidade que experimentam a secura dos desertos, sinais do valor da água para a natureza e para a humanidade. A terra seca fez o povo da Bíblia compará-la com o desejo de Deus! Sabemos também o quanto o povo da Aliança transformou deserto em estrada de esperança, pensando na terra desejada, onde deveria manar leite e mel, fruto de plantações irrigadas até com um rio nascido do lado direito do templo! O feliz jogo de palavras chegou até à Cruz, quando nasceram o sangue e a água do lado de Cristo. E foi o mesmo Senhor que prometeu rios de água viva a nascerem daqueles que acreditassem.

Sem medo de sonhar, ouvimos que ‘os braços cansados são fortalecidos e os joelhos vacilantes se firmam’. Que bela oportunidade para ir ao encontro de um mundo de gente, em torno a nós, pessoas esmorecidas, sem força para caminhar. De fato, a experiência da fé vivida com decisão muda o coração das pessoas e infunde nelas novas energias. E precisamos disso urgentemente!

As imagens das limitações físicas se tornam as mais eloquentes para propor a todos uma nova vida : ‘Os olhos dos cegos vão se abrir e abrem-se também os ouvidos dos surdos. Os aleijados vão pular como cabritos e a língua dos mudos entoará um cântico’. Já ouvi pessoas amigas que não enxergam expressarem todos os seus desejos num só lampejo possível de luz, nem que fosse por um momento. E Deus concede a luz vinda de dentro, quando se acolhe a novidade do Evangelho!

Coragem! Nada de medo!’ Num tempo de crises proclamadas por toda parte, ressoe esta voz, que só pode vir de Deus. A fonte da coragem não está em nossos parcos recursos humanos, mas será resultado da confiança, a aposta da vida nas promessas de Deus. É do Senhor Jesus que ouvimos : ‘Tende coragem! Eu venci o mundo’ (Jo 16, 33). Se olharmos a vida a partir do seu ângulo, muda tudo, mas o risco é nosso, pois será necessário escapar das aparentes razões, que julgamos mais lógicas do que a lógica de Deus!

Haverá aí uma estrada, um caminho, que será chamado de caminho santo Por ele só andarão os que foram libertados. Os que foram resgatados pelo Senhor voltarão e chegarão a Sião cantando louvores’. Ah! O sonho de Deus, que se faz humano na Encarnação do Verbo, cujo mistério celebramos neste tempo, é uma estrada nova, e esta é santa. Não dá para negociar ou pedir descontos! Deus é realista, concreto. Seu Filho amado, Caminho, Verdade e Vida, há de ser acolhido e seguido. Pode parecer distante do que pensam os grandes do mundo, mas, até agora, sabemos os resultados das escolhas que distanciam de Jesus Cristo. Só nele existe a verdadeira e única esperança!

João Batista (Cf. Mt 3, 1-12), voz daquele que grita para preparar nos desertos da vida o caminho do Senhor e endireitar suas veredas, mesmo para seu tempo andava contra a correnteza, pelos seus hábitos e palavras. No entanto, seus apelos são plenamente atuais, e passam por alguns gestos irrenunciáveis. As pessoas, ao ouvirem sua pregação, confessavam seus pecados, reconheciam ser ‘raça de cobras venenosas’. Que ousadia em suas palavras! Pedia frutos capazes de provar a conversão, vida nova e diferente!

Sabia João Batista ser apenas capaz de preparar o caminho. Aquele que o supera em força traz o Batismo com o Espírito Santo e com o fogo. E nós, geração da crise de hoje, cujos perigos rondam de modo permanente, somos chamados a transformá-la em grande oportunidade.

Peçamos confiantes : ‘Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Amém!’’


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