‘Mulheres e meninas representam 71% das
vítimas do tráfico de pessoas, uma forma de ‘escravidão moderna’ que atinge também crianças, um terço dos casos.
O Papa Francisco,
repetidas vezes, definiu o tráfico de pessoas como ‘uma chaga’ dos tempos modernos. Em agosto deste ano, visitou a
Comunidade João XXIII, em Roma, que acolhe 30 jovens que foram vítimas da
prostituição e tráfico de pessoas.
A denúncia faz
parte do Informativo Global sobre
Tráfico de Pessoas 2016 do Escritório da ONU contra a Droga e o Delito (ONUDD), divulgado em Viena, com base
nos relatos de quase 63 mil vítimas, entre os anos de 2012 e 2014, em mais de
cem países.
Modalidades do tráfico
O tráfico de
pessoas consiste em transportar e reter um pessoa pela força ou coerção, com o fim de explorá-la, não somente com fins de trabalho ou sexuais,
mas também para mendigar ou, até mesmo, para o tráfico de órgãos ou matrimônios forçados.
‘A exploração sexual e o trabalho forçado
seguem sendo as modalidades mais detectadas de tráfico, porém as vítimas também
sofrem com o tráfico para a mendicância, os matrimônios forçados, as fraudes
nos serviços públicos, ou a pornografia’, explica Yuri Fedotov, Diretor
Executivo da ONUDD.
O relatório indica
que em 54% dos casos, a exploração sexual é o delito mais comum, sendo
observada no entanto uma tendência à diminuição desde 2007.
Enquanto as
mulheres e meninas representam a maior parte das vítimas de abusos sexuais ou
matrimônios forçados, para os homens e meninos a maior incidência é de
exploração no trabalho (85% dos casos), principalmente na indústria da
mineração, da pesca ou como soldados.
Exploração infantil
A exploração
infantil também varia segundo as regiões e continentes, revela o relatório da
ONU. Enquanto a média global em relação à exploração de menores gira em torno
dos 30%, na África subsaariana este percentual aumenta para 64% e na América
Central e Caribe, 62%.
Impunidade
As máfias por trás
do tráfico ganham cerca de 32 milhões de dólares anuais. Os baixos índices de
condenação, segundo a ONU, não fazem outro que incentivar este tipo de crime.
A maioria das
pessoas condenadas por tráfico são homens (seis em cada dez) e geralmente são
do mesmo ambiente das vítimas, o que é essencial para ganhar a sua confiança,
embora exista, cada mais uma vez, grandes variações regionais. Na Europa de
Leste 54% dos supostos traficantes investigados são mulheres e na África
Subsaariana representam metade dos suspeitos.
O relatório revela
que as mulheres tem uma maior taxa de condenação pelo tráfico de pessoas em
relação a outros delitos e aponta também que, em alguns casos, as próprias
vítimas passam a fazer parte de uma organização criminosa, cooptando novas mulheres
e meninas.
A ONU alerta não
existir nenhum país imune ao tráfico e que somente na Europa Ocidental foram
detectadas vítimas oriundas de 137 países. A ONU chama a atenção, ademais, para
o fato de que os dados documentados no informe representam somente ‘a ponta do iceberg’.
Guerras, migrações e
pobreza
O documento não
arrisca um número global de pessoas afetadas por este crime contra os direitos
humanos, limitando-se a analisar estes 63.000 casos documentados nos últimos
dois anos, embora o próprio Fedotov disse em mais de uma ocasião que as vítimas
totalizaram ‘milhões’.
No relatório, o
Diretor Executivo do ONUDD destacou a ligação entre a presença de grupos
armados e o tráfico de pessoas, que muitas vezes exploram sexualmente mulheres
e enviam os homens para o trabalho forçado ou para combater.
‘As pessoas que fogem de guerras e
perseguição são particularmente vulneráveis ao tráfico’, ressaltou Fedotov no
relatório, recordando que os atuais movimentos migratórios e de refugiados são
os maiores no mundo desde a Segunda Guerra Mundial. Outros fatores que aumentam
a vulnerabilidade a este tipo de crime é o crime organizado e a pobreza.
Penalização do tráfico
O relatório também
detalha que houve avanços significativos nos últimos anos : se em 2003 apenas
18% dos países penalizava o tráfico, agora são 85%, um total de 158 países.
Também foi ampliado o espectro do delito, já que as forças de segurança de
muitos países agora detectam melhor os casos de trabalhos forçados ou
exploração no trabalho.
No entanto,
novamente voltam a existir grandes diferenças entre os países, e os Estados
mais pobres são aqueles que têm mais dificuldades para garantir uma
investigação e proteção adequada às vítimas. Nesse
sentido, a ONU afirma que o grau de impunidade por este crime continua a ser
elevada, em parte devido à investigação deficiente para resolver um crime
transnacional tão complexo.
O documento
salienta que são necessários mais recursos para identificar e ajudar as
vítimas, assim como para melhorar as ações do sistema de justiça para
investigar e processar os responsáveis.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://br.radiovaticana.va/news/2016/12/27/mulheres_e_meninas,_as_maiores_v%C3%ADtimas_do_tr%C3%A1fico/1281991
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