Missionário
Comboniano
‘O nome do
pregador já se me varreu da memória. Mas o lugar, esse ficou : era em Fátima. E o tema daquele
retiro também ficou para sempre : era «Pão para todos».
Eram os
primeiros anos em que se começava a projectar dispositivos durante encontros
daquele tipo, e a nossa imaginação de jovens ficou aos saltos quando, para
entendermos a Missa, víamos no ecrã uma foto de um pão fresco. A imagem era tão
realista que até me pareceu sentir, ali na sala, aquele odor agradável do pão
acabadinho de sair de um forno a lenha.
As outras
coisas, que o senhor padre disse naquele dia, já não as lembro. Mas saber que
aquele Pão da Eucaristia é, ainda hoje, alimento para tão pouca gente nunca
deixou de me incomodar.
Ainda ontem, foi
a Missa da primeira comunhão na paróquia romana onde celebro aos domingos : é
lindo ver a alegria e o ar de festa das crianças que recebem pela primeira vez
o Pão da Eucaristia; mas que pena ver tantos dos familiares deles que ficam a
olhar, de longe... O Papa Francisco bem disse, um destes dias, na sua homilia
que «o altar da nossa Eucaristia é uma mesa de almoço». Não pode deixar de
preocupar-nos a todos ver esse «banquete» em que tantos membros da família
ficam sem comer...
Enquanto vou
seguindo com interesse as várias discussões sobre como podemos admitir este ou
aquele tipo de pessoas à sagrada comunhão, discussões certamente importantes,
fica-me às vezes a impressão de que acabam por ficar «afastados da mesa»
precisamente aqueles que são espiritualmente «débeis e doentes», aqueles que
mais precisariam deste pão que é «remédio que cura e alimento que dá força»,
como gosta de dizer o nosso papa.
A solução? Não
será fácil, mas gostei de ler, nestes dias, a carta de um católico, publicada
numa revista inglesa. Dizia mais ou menos assim :
Em vez de
estarmos para aqui a decidir quem tem ou não tem direito a receber a Eucaristia,
como se fosse propriedade nossa, porque não perguntamos simplesmente: «Jesus, a
quem gostaria de a dar, quem eram os seus comensais preferidos?»
A verdade é que
ninguém tem méritos suficientes para pensar que tem direito a sentar-se e comer
à mesa da Eucaristia. Como bem dizemos todos, mais ou menos sinceramente, antes
da comunhão : «Senhor, eu não sou digno...» Não poderíamos, simplesmente,
deixar de nos preocupar com «quem pode, ou quem tem direito, a receber a
Eucaristia», e deixar isso a Deus e à consciência das pessoas? Não seria mais
importante para nós trabalharmos para que a Eucaristia, esse remédio e
alimento, possa de facto ser recebido, antes de mais, por quem mais dele
precisa?
Desde aquele dia
de retiro em Fátima, sempre me atraiu esta possibilidade bonita : que a
Eucaristia de Jesus possa mesmo ser «Pão para todos»’.
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EupEZllFkytRGohyyQ
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