Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Pedro Nascimento,
Leigo Missionário Comboniano
‘Deus conhece-nos pelo nome, chama-nos! Mas nem sempre
compreendemos o que quer de nós, a que nos chama, porque passamos por situações
dramáticas! Necessitamos de conhecer Deus, de O escutar, compreender o que
espera de nós, o que nos pede. Tal como aconteceu com Samuel, Deus vem até nós
e chama! Compreender a voz de Deus implica abertura, perceber que Deus nos ama
e que nos quer bem, que nos convida à santidade.
Samuel, apesar de
servir o Senhor no templo, não conhecia a Sua voz! Quantas vezes Deus nos
chama, nos interpela mas não sabemos, não estamos preparados para O Escutar…
São tantas as distrações, a vida familiar, o trabalho, os amigos, os nossos
momentos de descanso, andamos tão absorvidos por tantos compromissos, que não
existe espaço para Deus na nossa vida… Mas Ele está lá!
Apesar de Samuel não
ter compreendido que Deus o chamava, o Senhor continuou a chamar e não desistiu
até que Samuel compreendesse a Sua voz! Deus não desiste de ti, nem de mim! E
continuará a chamar até estarmos disponíveis para O acolher no nosso coração,
na nossa vida.
Depois de compreender
que Deus lhe falava, a resposta de Samuel foi clara e assertiva : «Fala,
Senhor, que o teu servo escuta» (1 Sm 3, 10). E a sua vida foi de serviço e
dedicação a Deus, sendo um profeta extremamente importante!
Abrir o coração a Deus
Precisamos de parar!
Precisamos de ‘perder tempo’ para encontrar Deus, para compreender a vontade do
Senhor. Samuel encontrou Deus no templo, no silêncio, na noite. Nós
necessitamos de espaços na nossa vida para O acolher, para rezar, para ler a
palavra de Deus, para encontros de intimidade com Deus, em que lhe falamos da
nossa vida, dos nossos problemas e das nossas alegrias, em que desabafamos as
vezes em que não O compreendemos…
O testemunho de
Samuel deve servir de exemplo para todos nós! Quando se escuta Deus, quando se
percebe a vocação a que somos chamados, devemos seguir Deus, que não nos trata
como mais um, que não nos considera dispensáveis, mas um Deus amoroso que
conhece cada um pelo nome e que é capaz de guardar noventa e nove ovelhas e ir
em busca de uma ovelha perdida (Mt 18, 10-14, Lc 15, 4-7). Ser chamados e
amados por Deus é um dom maravilhoso, que tu e eu recebemos!
Da escuta atenta de
Deus, nasce uma intimidade com Ele, no nosso coração, que nos permite viver e
servir o Senhor na nossa vida, com simplicidade, generosidade e autenticidade!
Viver Deus em
plenitude não significa que deixaremos de pecar, que passaremos apenas a ter
qualidades ou que somos seres perfeitos! Viver Deus implica conhecê-lo,
experimentá-lo, amá-lo, e saber que apesar das nossas limitações, das nossas
imperfeições, Deus nos ama e nunca desiste de nós!
Na vocação de Samuel
é extremamente importante compreender o papel de Ana, sua mãe, e de Eli, o
sacerdote.
A sua mãe ofereceu o
menino a Deus, cheia de confiança que o Amor de Deus é o maior Dom que podemos
ter, um Amor tão grande que dá a Sua vida por nós! Uma mãe quer o melhor para o
Seu filho quer-lhe bem! Samuel foi um dom de Deus para sua mãe e, por isso, o
entregou a Deus, cumprindo a sua promessa ao Senhor.
De igual modo, Eli
ajudou Samuel a escutar e a compreender a voz de Deus; com a sua sabedoria, foi
um verdadeiro acompanhante espiritual para o jovem Samuel.
A vocação é um dom
único e pessoal. Contudo, continuamente, Deus serve-se dos outros para nos
falar! Precisamos de viver Deus em comunidade, nas nossas comunidades em que
nos identificamos como irmãos e irmãs na fé; precisamos de ser luz para os
outros e ajudar quem passa por nós a ir ao encontro de Deus; precisamos de
testemunhar Deus com o nosso exemplo; precisamos de ver Deus nos outros, nos
seus exemplos, na sua vida.
Chamados a partir
Cada um de nós, como
Samuel, recebe um chamamento de Deus. Escutar a sua voz, discernir a vocação e
seguir o projecto que Ele tem para nós é o que dá sentido à nossa vida e nos
permite encontrar a felicidade. Assim acontece com a Maria Augusta Pires, leiga
missionária comboniana, que no mês passado partiu para Moçambique e nos
partilha o seu testemunho.
«Sou leiga
missionária comboniana, chamo-me Maria Augusta, nasci numa família católica. O
meu desejo de partir em missão começou em Agosto de 1994 ao participar numa
semana missionária em Fátima. Nessa altura já tinha 39 anos. Durante essa
semana ouvi testemunhos missionários fascinantes, que me cativaram muito.
Conheci o padre Dário, missionário comboniano, e comecei a fazer formação para
a missão.
Em Dezembro de 1997,
parti para a minha primeira aventura missionária em Moçambique. Fui para a
Missão de Alua na diocese de Nacala, onde tive um acolhimento excepcional de
todos os missionários e do povo macua. Fui descobrindo a missão. Trabalhei
sempre na escola pública, leccionando Português, e à tarde tirava dúvidas aos
alunos que precisavam e queriam. As condições da maioria dos alunos eram muito
precárias, tendo muitas dificuldades na aquisição dos materiais e para pagarem
o que fosse preciso. Muitos deles percorriam grandes distâncias para chegarem
diariamente à escola, mais ou menos 15 km e, muitos deles só tinham uma
refeição diária. Aumentaram também as meninas, que começaram a estudar devido à
insistência dos missionários junto das famílias.
Decorridos cinco
anos, fui chamada para a missão de Mueria para ser responsável do lar feminino,
com 52 meninas dos 11 aos 18 anos. Foi uma tarefa difícil, mas deveras
gratificante. Conseguimos, com muita ajuda e protecão de Deus, fazer uma grande
família onde havia a discussão e a zanga, mas depois existia o diálogo e o
pedir perdão.
No dia 6 de Setembro
de 2006, tive de voltar para Portugal a fim de leccionar o último ano antes de
me reformar.
Em Fevereiro de 2008
parti outra vez, não para Mueria, mas para uma nova aventura, desta vez na
República Centro-Africana. Fui, pela primeira vez, viver numa comunidade de
Leigas Missionárias Combonianas, composta por uma italiana e duas portuguesas.
Neste país existem dois povos : os Bantos e os Pigmeus. É com os Pigmeus que
colaboramos mais, pois estes são muito pobres, marginalizados e explorados
pelos Bantos. Os Pigmeus são nómadas que vivem na floresta e que, antigamente
viviam daquilo que caçavam, pescavam e colhiam. Com a desflorestação, já não
encontram tudo o necessário, sentindo dificuldades no acesso aos serviços
básicos de saúde e de educação e a serem julgados como qualquer cidadão do
país. O nosso trabalho é ajudá-los a integrarem-se na sociedade, irem ao
hospital, à escola… e serem acolhidos e tratados como qualquer centro-africano.
Neste país era
responsável pelas escolas da missão e quando era necessário apoiava no
dispensário. Sentia grande alegria quando ia acompanhar a escola que ficava num
acampamento dentro da floresta. As crianças, todas pigmeias, ficavam muito
contentes com a nossa visita! Estudávamos, fazíamos jogos, cantávamos…
Em Julho de 2010, vim
a Portugal de férias, mas o Senhor, mais uma vez, mudou os meus planos e
permaneci até Novembro de 2015. Durante este tempo trabalhei na animação missionária
em escolas e paróquias. Também cuidei da minha mãe até Deus Pai a chamar a Si.
Em 2015, voltei à
missão de Mongoumba, onde servi os Pigmeus e os Bantos. Depois regressei a
Portugal e nos anos de 2022 e 2023 estive em Camarate (Loures), numa missão,
com crianças filhas de emigrantes africanos.
Em Março passado,
parti novamente. Desta vez para Carapira, Moçambique. Sinto que Deus me chama a
partir, mas não é fácil, pois ouvem-se tantas vozes a dizer para ficar. Que o
Senhor me ajude a continuar a amá-Lo e servi-Lo nos irmãos mais pobres e
abandonados.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/1168/escutar-a-voz-de-deus/
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