Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘No coração da França renascentista, na prestigiada
Universidade de Sorbonne, em Paris, dois jovens espanhóis cruzaram caminhos que
mudariam não apenas suas vidas, mas também o curso da história espiritual da fé
cristã. Inácio de Loyola, um ex-soldado ferido em batalha, e Francisco Xavier,
um nobre ambicioso, encontraram-se em circunstâncias que pouco prometiam para
uma amizade duradoura. Inicialmente, Francisco nutria uma antipatia por Inácio,
cuja presença lhe era desagradável. Contudo, após viver a experiência inaciana
dos exercícios espirituais propostos por Inácio, Francisco experimentou uma
transformação profunda, abandonando sua vaidade e aspirações mundanas.
Em que consiste a
experiência inaciana para transformar tanto a vida de uma pessoa? A aventura da
experiência espiritual inaciana consiste em amar e deixar-se amar com coragem e
generosidade. Deixar-se amar é acolher o dom do perdão, da cura e da
misericórdia para a aceitação de si e do amor que nos alcança sem mérito ou
merecimento. É o que nos tira do fechamento em nós mesmos e nos abre ao
entendimento de nossa dignidade inalienável de filhos de Deus. É o que cria
condições para que verdadeiramente possamos amar. Amar é missão; é, portanto, o
mandamento de que Jesus fala no Evangelho. Não se trata de uma obrigação
imputada pela lei, mas um estilo de vida, isto é, o seguimento ao modo de vida
de Jesus. O discípulo, ao contemplar o jeito de Jesus, seu trato com as pessoas
e seu projeto de vida, deseja assumir em sua vida e ao seu modo esse mesmo modo
de proceder que lhe encanta, portanto, amar e deixar-se amar são duas atitudes
e disposições interiores que estabelecem as bases para uma relação de confiança
e de entrega na comunhão. Assim, o discípulo e o Mestre possuem um vínculo
amoroso que é mais forte do que a morte. A generosidade é a força e a vontade
do discípulo amado que contempla na vida de Jesus a entrega que Ele faz de sua
vida ao anúncio e chegada do Reino de Deus, demonstrando muito amor aos menos
amados. Esse amor generoso é paixão pelo gênero humano criado à imagem e
semelhança do Deus, que é amor. Essa paixão ganha uma forma radical na paixão
da cruz em que Jesus vive dando a vida pelo amor aos seus amigos. A coragem é a
realidade da ressurreição, que leva o discípulo a superar a experiência de
morte e o medo de seguir amando profundamente. Na coragem do Ressuscitado, o
discípulo ousa construir mais vida a partir da aposta no amor generoso.
Em 1540, a Ordem dos
Jesuítas foi erigida sob a bênção do Papa Paulo III, com Inácio de Loyola como
seu primeiro superior-geral. Francisco Xavier, por sua vez, embarcou em uma
jornada missionária que o levaria às terras distantes da Índia e do Japão. Os
dois amigos nunca mais se viram pessoalmente. Foi nesse período que a expressão
‘amigos no Senhor’ ganhou vida, usada por Inácio para descrever a profunda
ligação espiritual que compartilhava com seus companheiros de ordem,
especialmente com Francisco.
Xavier, em suas
viagens, carregava consigo, costurados em sua batina junto ao coração, os nomes
de seus companheiros jesuítas, mantendo Inácio em um lugar de destaque. Essa
prática simbolizava a conexão inquebrantável que transcendia as barreiras
geográficas. As cartas trocadas entre eles eram o cordão umbilical que mantinha
viva essa amizade, servindo como um meio vital de comunicação e apoio mútuo,
mesmo separados por milhares de quilômetros.
A história de Inácio
e Francisco é um testemunho do poder da convivência e do conhecimento mútuo
para superar mal-entendidos e julgamentos precipitados. De estranhos com
impressões erradas um sobre o outro, eles se tornaram ‘amigos no Senhor’, um
exemplo luminoso de como o tempo e a experiência compartilhada podem
transformar relações e fortalecer laços de amizade verdadeira. Eles nos ensinam
que as primeiras impressões podem ser enganosas e que é no convívio que se
revela a verdadeira essência das pessoas, permitindo que a amizade floresça e
cresça em profundidade e significado.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/companheiros-de-jesus-a-conexao-espiritual-de-inacio.html
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