Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Luiz Antonio Lopes Ricci Lopes Ricci,
Bispo de Nova Friburgo, RJ
‘A definição filosófica de verdade, como ‘adequação do
pensamento à realidade’, serve para constatar, com pesar, um perigoso
distanciamento entre pensamento e realidade em vários setores e pessoas,
especialmente nos pronunciamentos de alguns políticos e ‘comunicadores’
digitais. Constata-se uma espécie de ‘esquizofrenia’ culposa, porque com
conhecimento e consentimento fazem questão de dissociar e separar o mundo real
de suas próprias ideologias, que ofuscam o pensamento reto e verdadeiro. Sem
contar aqueles que vão além, disseminando as destrutivas fake news e
o ódio, manipulando a dignidade da consciência dos indivíduos. Não se acaba
jamais de procurar a verdade, porque algo de falso sempre se pode insinuar,
mesmo ao dizer coisas verdadeiras. De fato, uma argumentação impecável pode
basear-se em fatos inegáveis, mas, se for usada para ferir o outro e
desacreditá-lo à vista alheia, por mais justa que pareça, não é habitada pela
verdade. A partir dos frutos, podemos distinguir a verdade dos vários
enunciados : se suscitam polêmica, fomentam divisões, infundem resignação ou
se, em vez disso, levam a uma reflexão consciente e madura, ao diálogo
construtivo, a uma profícua atividade, como afirma o Papa Francisco.
A emoção desmedida
não pode colocar a verdade em segundo plano. As ideologias prejudicam
grandemente a racionalidade. Urge colaborar, como exigência da fé em Cristo,
para a superação de todas as formas de violência, especialmente a digital, que,
infelizmente, ainda persiste. O cristão é chamado a agir de modo diferente :
entre vocês não deverá ser assim (cf. Mt 20,26), já advertia Jesus.
A realidade é mais
importante do que a ideia, afirma o Papa Francisco : ‘Existe uma tensão bipolar
entre a ideia e a realidade : a realidade simplesmente é, a ideia elabora-se.
Entre as duas deve-se estabelecer um diálogo constante, evitando que a ideia
acabe por separar-se da realidade. É perigoso viver no reino só da palavra, da
imagem, do sofisma. Isso supõe evitar várias formas de ocultar a realidade’
(Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 231). A realidade deve ser
iluminada pelo pensamento. Dessa forma, evitam-se idealismos ineficazes e
autorreferencialidade, que pode levar a uma forma de narcisismo estéril, a uma
perigosa ‘autoverdade’. Precisamos de frutos concretos para uma realidade
concreta! ‘Produzir frutos no amor, para a vida do mundo’ (Decreto Optatam
Totius, 16).
Nesta nossa reflexão,
cabe recordar o conceito de pós-verdade : ‘Que se relaciona ou denota
circunstâncias, nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a
opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais’ (Universidade de
Oxford, 2016). A verdade é o que corresponde à opinião pessoal ou modo de
pensar. Ocorre assim, infelizmente, a perda do senso crítico e a assimilação de
uma ideologia.
Pós-verdade não é a
mesma coisa que mentira. Os políticos, afinal, mentem desde o início dos
tempos. O que a pós-verdade traz de novo ‘não é a desonestidade dos políticos,
mas a resposta do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença e, por
fim, à convivência’ (M. D’Ancona, 2018). Massacrado por informações verossímeis
e contraditórias, o cidadão desiste de tentar discernir a agulha da verdade no
palheiro da mentira e passa a aceitar, ainda que sem consciência plena disso,
que tudo o que resta é escolher, entre as versões e narrativas, aquela que lhe
traz segurança emocional.
A verdade, assim,
perde a primazia epistemológica nas discussões públicas e passa a ser apenas um
valor entre outros, relativo e negociável, ao passo que as emoções, por outro
lado, assumem renovada importância. Na base do fenômeno, argumenta D’Ancona,
está o colapso da confiança nas instituições tradicionais’ (Editores,
Pós-verdade, 2018).
Enfrente com
serenidade! Em frente com fé, fortaleza e esperança! Com o meu abraço virtual,
gratidão e bênção.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/verdade-e-realidade-o-real-se-impoe.html
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