Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa
da Santa Sé
‘A Praedicate Evangelium, a constituição de reforma da
Cúria Romana, que entrou em vigor em junho deste ano, é, sem dúvida, um dos
documentos mais importantes do pontificado do Papa Francisco. É o fruto
material do conclave de 2013, quando os cardeais votaram no então cardeal Jorge
Mario Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, delegando-lhe a missão de
mexer na estrutura governamental da Igreja.
E Francisco foi além. Ele não só redimensionou o
organograma da Cúria Romana como continua lutando para que a Igreja Católica
retome sua identidade sinodal e se torne uma instituição mais humana e
acolhedora.
Muito embora o documento tenha sido publicado este
ano, a verdade é que, em muitos aspectos, ele representou somente a
formalização de uma transformação que Francisco já vinha realizando desde que
assumiu o governo da Igreja Católica, há 9 anos.
O bispo de Cachoeiro do Itapemirim (ES), Dom Luíz
Fernando Lisboa, que participa da sua segunda ad limina, disse à nossa equipe
de reportagem que consegue identificar essa mudança.
‘O que mais me impressionou é que, dessa vez, se
percebia que todos os dicastérios da Cúria Romana tinham a mesma linguagem.
Deixaram claro que esses organismos estavam ali para servir o Papa e os bispos’.
O prelado, que por mais de 20 anos atuou na diocese de
Pemba (Moçambique), primeiro como missionário passionista, depois como bispo,
chegou a ser ameaçado de morte pelo governo do país africano após denunciar a
guerra em Cabo Delgado, que por muito tempo vinha sendo abafado pelas
autoridades locais. A Igreja, segundo ele, era a única instituição que se
manifestava sobre a situação.
Agora, atuando no Brasil, Dom Luíz Fernando recorda o
quanto que Francisco sempre está a par dos desafios vividos pelas igrejas
locais. Ele recordou as palavras do pontífice no discurso dirigido ao grupo de
bispos brasileiros no último dia 20 de outubro :
‘Sejam pastores. Nunca negociem o Evangelho. Sejam
firmes, falem aquilo que tem que ser falado a partir do Evangelho. E não tenham
medo’, reforçou o pontífice.
O bispo de Divinópolis (MG), Dom José Carlos, explicou
o que seria, na visão dele, esse impulso sinodal que Francisco tem proposto não
só para a Cúria Romana, mas para toda a Igreja.
‘Significa uma mudança de mentalidade. Precisamos
pensar diferente sobre nós mesmos, ter um olhar diferente sobre nosso ofício,
sobre nosso ministério. E aquilo que o Papa quer, agora, para toda a Igreja
(que é a sinodalidade), não é algo de agora. Infelizmente isso se perdeu e o
Papa está reforçando isso, retornando algo antigo que foi esquecido’,
ressaltou.
O bispo também vê essa reforma, cuja constituição é
restrita à Cúria Romana, como modelo que pode ser aplicado em outras
realidades.
‘É certo que se o poder central vive isso de modo
exemplar, será mais fácil até usar esse poder central como estímulo para que na
base aplique-se o mesmo’, explanou.
Os bispos dos regionais Leste II e II concluíram, esta
semana, a visita ad limina apostolorum, um evento que ocorre a cada 5 anos, por
meio do qual os bispos do mundo todo, em espírito de peregrinação, têm a
oportunidade de visitar o túmulo dos apóstolos, os vários dicastérios da Cúria
Romana e participar de uma audiência privada com o Papa. É uma oportunidade única
para que os membros do colégio episcopal tenham um contato mais direto com o
governo central da Igreja Católica. Eles foram o penúltimo grupo da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) a visitar o Papa Francisco este
ano.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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