Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil
‘Congressos compõem a engenharia do conhecimento, a
oportunidade da troca de experiências com possibilidades de inovações nos
serviços e nas soluções que abrem caminhos. Podem ajudar, assim, instituições
no cumprimento de sua missão. Por isso mesmo, a Igreja também promove
congressos, de muitos modos, com variados alcances, a partir de suas muitas
instituições, particularmente aquelas dos campos educativo e científico. Desde
o dia 11 de novembro até o próximo dia 15, a Igreja Católica, no Brasil, sob o
patrocínio mais direto da Arquidiocese de Olinda e Recife, Pernambuco, com
envolvimentos significativos e de diferentes alcances, realiza o 18º Congresso
Eucarístico Nacional. Uma tradição que remonta ao ano de 1933, quando aconteceu
a primeira edição, em São Salvador da Bahia. O segundo Congresso, já em 1936,
foi acolhido em Belo Horizonte, seguido de outras importantes edições, em
diferentes regiões do Brasil. Cada encontro, configurado por densa programação
espiritual, artística, cultural, precedido de longo tempo de preparação,
oferece oportunidade para revisitar o centro e o ápice da vida cristã católica,
explicitação de incontestável verdade da fé : a Igreja nasce e vive da
Eucaristia. Verdade intocável, que reconhece a centralidade do sacrifício
redentor de Cristo, Senhor e Salvador, alicerce da identidade e missão da
Igreja.
Assim,
cada edição do Congresso Eucarístico é oportunidade de novos encontros que revitalizam
e fecundam a missão da Igreja, a partir de sua tradição bimilenar. Ao revisitar
suas fontes, a Igreja contribui para fazer emergir aquilo que é novo e
inovador, particularmente, no tecido experiencial e espiritual dos
participantes de cada Congresso, de suas comunidades de fé, revigorando a
missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Fundamental é compreender,
celebrar e vivenciar, sempre e cada vez mais, a Eucaristia - realidade
salvífica da doação que Jesus faz de si mesmo, revelando o amor infinito de
Deus por homens e mulheres, seus filhos e filhas. A entrega de Cristo na cruz,
sua morte e ressureição, devem se desdobrar, com fortes incidências no
compromisso de cada pessoa com a fraternidade.
A
Eucaristia - celebrada e professada - se alicerça no amor ininterrupto de
Jesus, que constitui parâmetros para a vida do mundo, a organização da
sociedade, a partir de gestos concretos de fraternidade universal, capazes de
consolidar um mundo de mais justiça e paz. Contracena no Congresso Eucarístico
Nacional o mesmo enlevo que deve ter se apoderado do coração dos discípulos nos
primórdios da Igreja, há mais de dois mil anos : o compromisso com uma vida
mais fraterna. Assim, o horizonte do Congresso Eucarístico Nacional no Recife
está emoldurado pelo tema ‘Pão em todas as mesas’. A vivência do mistério da
Eucaristia, com autenticidade, impulsiona na direção corajosa e profética de
lutar para que haja pão em todas as mesas. Meta concreta e muito pertinente
quando se considera o grave momento atual da sociedade brasileira, com milhões
de pessoas submetidas à fome ou à insegurança alimentar.
O
enlevo eucarístico, indispensável e insubstituível, incomparável a qualquer
outra experiência humana e espiritual, é caminho para efetivar verdadeiro e
duradouro sentido de solidariedade, que conduz o mundo em direção ao amor
fraterno. A Eucaristia, pois, na beleza do seu ritual, é a experiência de um
encontro transformador, que renova o coração humano, ao alimentá-lo com a
verdade.
A
Igreja testemunha que na Eucaristia está o seu centro vital, a partir também da
realização de um Congresso Eucarístico, para anunciar a todos que Deus é amor.
Cada dia, sempre e de novo, a Igreja se alimenta de Cristo, anunciando que o
Mestre se fez alimento, de verdade, para todos, um dom de Deus. A fé da Igreja
é essencialmente eucarística. E o mistério da Eucaristia tem inesgotável
fecundidade, remetendo a um caminho experiencial que se desdobra em mudanças
profundas, corajosas posturas, alicerçadas na generosidade e na solidariedade. Corajosas
posturas pedidas pela sociedade, para que seja garantido pão em todas as mesas,
desafio de instâncias governamentais que exige, ainda, corajosa lucidez das
instituições. A falta de pão a muitas pessoas revela a fragilidade da atual
organização social. Expõe a necessidade de uma lógica espiritual capaz de mudar
cenários, de resgatar a dignidade de cada ser humano.
Em
um momento delicado da sociedade, o Congresso Eucarístico Nacional pode
contribuir para a abertura de um novo ciclo nos entendimentos sociais e
políticos, pela iluminação de motivações que ultrapassam as estreitezas de
certas discussões, para fazer valer lógicas enraizadas na espiritualidade
eucarística. ‘Pão em todas as mesas’, tema do 18º Congresso Eucarístico
Nacional, convoca cristãos católicos a caminharem de mãos dadas com as pessoas
de boa vontade. Todos se iluminarem pelo mistério inigualável do amor de Deus.
Assim, podem ser superados estreitamentos preconceituosos e prejudiciais, para
a construção de um novo modo de se viver na casa comum, alicerçado no amor. A
convocação ‘pão em todas as mesas’ remeta a gestos fraternos e solidários,
dando novo vigor missionário à Igreja, novo rumo à sociedade brasileira, pela
força do amor de Deus.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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