Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
‘É
uma expressão forte, carregada de interpelação, um alerta no horizonte da
campanha anual vivida neste mês – o Janeiro Branco –, indicando a importância
do cuidado com a saúde mental. Hoje, torna-se particularmente importante cuidar
das emoções, pois a Covid-19 escancara, de modo singular, a condição frágil de
toda a humanidade. A pandemia amplia descompassos em diferentes países,
desafiando instituições, famílias e cidadãos. O distanciamento social deste
tempo, as mudanças de hábitos, com o espectro atemorizante do adoecimento,
agravado pelo luto imposto a muitas famílias, acentuam a fragilidade emocional
da humanidade. Mas é preciso ter presente que o agravamento das doenças
psíquicas é fenômeno que antecede a pandemia. Em uma civilização que convive com
acelerados processos de mudança, referências são perdidas, com comprometimento
de narrativas que geram equilíbrio para o ser humano. Consequentemente, ocorre
progressiva e cada vez mais generalizada deterioração da saúde emocional, que é
indispensável.
A saúde
psíquica é importante para se conquistar bem-estar, felicidade, alegria de
viver, alicerces primordiais do sentido da vida. Quando a saúde emocional é
perdida, reflexos são percebidos em diferentes campos existenciais, com
incidências terríveis e demolidoras nas relações, na política, na cultura, na
religião e na economia. Por isso mesmo, é preciso recuperar a dimensão psíquica
da humanidade. Com a urgência e a indispensabilidade da vacinação contra a
Covid-19 está a também emergencial necessidade de se promover a saúde mental e
emocional. Essa urgência e necessidade tornam-se evidentes quando são
percebidos os desvarios de muitas pessoas. Desvarios em pronunciamentos
inconsequentes que, de modo lamentável, ecoam fortemente. O nível de adoecimento
da mente, em toda a sociedade, é tão expressivo que discursos e narrativas
equivocados têm mais repercussão e adesão que as perspectivas construtivas,
educativas, capazes de desencadear qualificada configuração social, política e
emocional.
A
fragilização emocional constatável em toda sociedade hospeda discursos
obscurantistas, sem contribuições para a solução de problemas da civilização
contemporânea, mas que contraditoriamente seduzem, atraindo a atenção de
muitos. Por isso, a humanidade, ainda mais dolorida pela Covid-19, é convocada
a pensar sobre si, avaliar seus erros e acertos, motivando-se a contribuir com
novas luzes para dissipar as sombras que a impedem de encontrar novo rumo.
Particularmente, é preciso qualificar e promover o humanismo, superando tudo
que gera o adoecimento mental e emocional das pessoas. É a falta de humanismo
que faz com que o desenvolvimento civilizacional esteja em descompasso com o
ritmo dos progressos tecnológicos. E a falta de solidariedade, o crescimento de
racismos, discriminações e desigualdades sociais comprovam a incompetência
emocional de sociedades na administração de seus recursos, que seriam capazes
de sustentar uma realidade mais justa e igualitária.
A
dor lancinante sofrida pela humanidade, por suas muitas feridas, por não se
saber bem o que fazer para superar as muitas crises, pela adoção de ‘bandeiras’
sustentadas por discursos sem credibilidade, necessita do remédio-bálsamo da
espiritualidade. A humanidade está em confronto com o mistério de um amor
maior. Sejam, pois, superados discursos viciados e muito propagados,
ilusoriamente exitosos, com uma experiência espiritual que gere reunificação,
articulando diferenças. Com espiritualidade e humanismo integral, a civilização
contemporânea poderá se libertar de fundamentalismos e lideranças caricatas,
vencendo o preocupante e pesado analfabetismo emocional.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/artigo/9234/2021/01/analfabetismo-emocional/
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