sábado, 16 de janeiro de 2021

Analfabetismo emocional

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,

Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG

Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil


‘É uma expressão forte, carregada de interpelação, um alerta no horizonte da campanha anual vivida neste mês – o Janeiro Branco –, indicando a importância do cuidado com a saúde mental. Hoje, torna-se particularmente importante cuidar das emoções, pois a Covid-19 escancara, de modo singular, a condição frágil de toda a humanidade.  A pandemia amplia descompassos em diferentes países, desafiando instituições, famílias e cidadãos. O distanciamento social deste tempo, as mudanças de hábitos, com o espectro atemorizante do adoecimento, agravado pelo luto imposto a muitas famílias, acentuam a fragilidade emocional da humanidade. Mas é preciso ter presente que o agravamento das doenças psíquicas é fenômeno que antecede a pandemia. Em uma civilização que convive com acelerados processos de mudança, referências são perdidas, com comprometimento de narrativas que geram equilíbrio para o ser humano. Consequentemente, ocorre progressiva e cada vez mais generalizada deterioração da saúde emocional, que é indispensável.

A saúde psíquica é importante para se conquistar bem-estar, felicidade, alegria de viver, alicerces primordiais do sentido da vida. Quando a saúde emocional é perdida, reflexos são percebidos em diferentes campos existenciais, com incidências terríveis e demolidoras nas relações, na política, na cultura, na religião e na economia. Por isso mesmo, é preciso recuperar a dimensão psíquica da humanidade. Com a urgência e a indispensabilidade da vacinação contra a Covid-19 está a também emergencial necessidade de se promover a saúde mental e emocional.  Essa urgência e necessidade tornam-se evidentes quando são percebidos os desvarios de muitas pessoas. Desvarios em pronunciamentos inconsequentes que, de modo lamentável, ecoam fortemente. O nível de adoecimento da mente, em toda a sociedade, é tão expressivo que discursos e narrativas equivocados têm mais repercussão e adesão que as perspectivas construtivas, educativas, capazes de desencadear qualificada configuração social, política e emocional.

A fragilização emocional constatável em toda sociedade hospeda discursos obscurantistas, sem contribuições para a solução de problemas da civilização contemporânea, mas que contraditoriamente seduzem, atraindo a atenção de muitos. Por isso, a humanidade, ainda mais dolorida pela Covid-19, é convocada a pensar sobre si, avaliar seus erros e acertos, motivando-se a contribuir com novas luzes para dissipar as sombras que a impedem de encontrar novo rumo. Particularmente, é preciso qualificar e promover o humanismo, superando tudo que gera o adoecimento mental e emocional das pessoas. É a falta de humanismo que faz com que o desenvolvimento civilizacional esteja em descompasso com o ritmo dos progressos tecnológicos. E a falta de solidariedade, o crescimento de racismos, discriminações e desigualdades sociais comprovam a incompetência emocional de sociedades na administração de seus recursos, que seriam capazes de sustentar uma realidade mais justa e igualitária.

A dor lancinante sofrida pela humanidade, por suas muitas feridas, por não se saber bem o que fazer para superar as muitas crises, pela adoção de ‘bandeiras’ sustentadas por discursos sem credibilidade, necessita do remédio-bálsamo da espiritualidade. A humanidade está em confronto com o mistério de um amor maior. Sejam, pois, superados discursos viciados e muito propagados, ilusoriamente exitosos, com uma experiência espiritual que gere reunificação, articulando diferenças. Com espiritualidade e humanismo integral, a civilização contemporânea poderá se libertar de fundamentalismos e lideranças caricatas, vencendo o preocupante e pesado analfabetismo emocional.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/artigo/9234/2021/01/analfabetismo-emocional/

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