*Artigo
de Marta Arrais,
cronista
‘Passamos a vida (e o tempo) à espera.
À espera que a sorte mude. À espera que o vento não seja tão frio. À espera que
nos devolvam a chamada. À espera que se lembrem que existimos. À espera que nos
atendam num balcão, numa fila, numa loja. À espera do amor-para-sempre. À espera
da oportunidade que nos mude a vida. À espera do momento certo para começar a
fazer tudo como deve ser. À espera que nos peçam desculpas. À espera que nos
perdoem. À espera do Verão. Dos dias de sol e do calor a tostar a pele. À espera
que a maré desça para não perdermos o pé. À espera que o país fique melhor. À
espera que se acabem os dias tristes. À espera que se acabem as dívidas
(as financeiras e as outras). À espera que nos apreciem, apenas, por aquilo que
somos e não por aquilo que podemos oferecer. À espera no trânsito que não
anda. À espera do verde que não cai. À espera da felicidade que os romances
mais bonitos nos prometeram. À espera do jantar, no restaurante. À espera que o
arroz fique no ponto. À espera que se acabe a fome nos lugares mais sujos e
mais recônditos do mundo. À espera. De tudo. De todos. De tanto.
No entanto, enquanto esperamos,
podemos aprender lições valiosas : a lição (duríssima) da paciência. A lição da
humildade de quem sabe estar no seu lugar e esperar pela sua vez. A lição de
deixar acontecer cada coisa na janela do seu tempo. A lição de valorizar o
futuro que espreita de mansinho e que não se impõe.
Precisamos muito de aprender a esperar
melhor. Com mais alegria. Com mais paciência. Com mais coragem. Ninguém gosta
de esperar. É sempre tarde para quem está à espera. E é sempre difícil deixar
que o tempo passe sem nos aborrecermos com ele. E com a sua
velocidade-tartaruga.
Aprende a esperar, mas aprende,
também, o momento certo para deixar de o fazer. Quem decide esperar para sempre
deixa de estar à espera e passa a ser refém de uma promessa que pode não se
cumprir.
Aprende a esperar. Aprende a
esquecer. Aprende a colocar ponto final e a fazer parágrafo.
Estás à espera de quê?’
Fonte
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