Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor
‘No
século passado houve um distanciamento significativo entre a medicina e a
espiritualidade, especialmente pela influência de Freud, que atribuía às
religiões uma das causas de adoecimento. Também contribuiu para isso o avanço
das tecnologias que deram ao humano uma sensação ilusória de poder. Contudo,
neste século, o melhor entendimento da espiritualidade e a observação de um
estreito relacionamento entre ela e o adoecimento, tem despertado enorme
interesse de pesquisadores para essa interação. Especialmente no que diz
respeito ao câncer, que atinge mais aos homens do que às mulheres.
Entre
as muitas variáveis que proporcionam essa diferença, está a espiritualidade.
Estudos recentes sugerem que sua falta, mais comum entre os homens, pode ser
uma das causas da maior incidência do câncer em pessoas do sexo masculino.
Mesmo com as mulheres conquistando um nível semelhante de competitividade com
os homens nas áreas de trabalho, trazendo-lhes aumento do estresse, associado
aos vícios como o álcool e o tabagismo, contribuindo significativamente para a
convergência desses números. Mas não se pode negar que a ‘espiritualidade’
influi nesse diferencial.
E
qual é a sua contribuição para a ocorrência ou para a prevenção do câncer?
Shekelle e col., em trabalho publicado na revista Psychosomatic
Medicine de abril de 1981, afirmam que a depressão e o sentimento de
desesperança estão relacionados com o aparecimento do câncer, por interferirem
no sistema imunitário. James Paget, que descreveu uma importante forma de
câncer da mama, já afirmava a mesma coisa em 1870. Shekelle demonstrou também
que em animais-cobaias submetidos a sucessivos e inevitáveis choques elétricos,
teve o aparecimento de tumores, em decorrência do estresse provocado pelos
estímulos dolorosos.
Erich
Fromm dizia : ‘A mente é a benção e a maldição do humano’, por
isso a possibilidade do aparecimento de tumores em consequência do estresse se
torna muito mais provável no humano, do que em animais. Afinal, só ele se
questiona ‘Por que sofro?’, o que amplia significativamente os efeitos
deletérios do estresse.
Everson,
em 1996, reforça as pesquisas de Shekelle afirmando que a desesperança é mais
forte do que a depressão, na ocorrência de suicídio. Ora, o câncer pode ser
considerado, em diversos casos, como uma forma de suicídio. Uma forma a que
damos o nome de ‘suicídio endógeno’, uma vez que a pessoa, incapaz por
qualquer razão, física, moral, psicológica ou religiosa, de se matar
diretamente, cria, através do seu consciente profundo (inconsciente), forte bloqueio
de seus mecanismos de defesa, ou se expõe a situações onde doenças ou acidentes
fatais possam lhe acontecer, tirando a sua vida. São formas indiretas de
autoextermínio.
Carl
e Stephanie Simonton, em seu livro Com a vida de novo dizem : ‘Cada
um de nós tem a sua participação na saúde e na doença, a todo momento, através
de nossas convicções, nossos sentimentos e nossas atitudes em relação à nossa
vida.’
Pela
Teoria da Vigilância Imunológica, o câncer é um conjunto de células fracas e
confusas que se multiplicam quando os sistemas naturais de defesa do organismo
ficam inativos. Por tudo isso, há que se repensar a relação médico-paciente –
hoje bastante distante e fria em função da sofisticada tecnologia – e a própria
concepção do que é um humano. O casal Simonton o considera, mais que corpo,
emoções e mente, corpo (soma), mente (psiquê) e espírito (pneuma). Partido
dessa conceituação, salta-se da medicina psico-somática para a medicina
pneumo-psico-somática, para encontrar o caminho pleno da cura e da prevenção
das doenças, especialmente o câncer.
A
essa visão integral do ser humano, dá-se também o nome de visão holística. E à
medicina que a utiliza, o nome de medicina Holística. Como tem havido muita
deturpação do sentido de ‘holismo’, associando-o a visões fechadas e
sectárias, propusemos a adoção do nome Medicina Pneumo-Psico-Somática.
Simplificando, Medicina Integral. Como exponho mais detalhadamente no meu
livro Sobre o Viver e o Morrer. Que não é mais uma ‘especialidade’,
porém uma filosofia permeando todas as práticas de atenção à saúde. Nessa visão
integral do humano, acrescentou-se a espiritualidade, na abordagem do enfermo.
Gamino
e Easterling, num trabalho publicado em The Forum, jornal
oficial da Association for Death Education and Counceling (Adec), de
março-abril de 2000, mostraram, num estudo metodologicamente rigoroso de 85
pessoas vivenciando a condição de luto, que a espiritualidade intrínseca
atenuava sensivelmente o sofrimento da perda. Já a exclusiva frequência a uma
Igreja, a mera religiosidade, seja ela qual fosse, era inócua. Falaremos sobre
isso em outro artigo.
Em
1967, com os trabalhos da doutora Cicely Saunders, na Inglaterra, muitas
mudanças ocorreram na cultura médica, especialmente no que diz respeito ao
tratamento dos pacientes terminais : alivio da dor, relacionamento com a
família do enfermo, autonomia do enfermo, maior preocupação com problemas
éticos. Inclusive a autanásia (ou orthotanásia).
No
que diz respeito a dor, salientamos a ‘dor espiritual’, que geralmente é
a grande geradora de ‘desesperança’. Quem não crê, não
espera, e quem não espera, sofre, morre!’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1396359/2019/10/medicina-e-espiritualidade-uma-nova-visao/
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