Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Robert McTeigue, SJ
‘E se
você considerasse o arrependimento como um imposto?
As
pessoas veem os impostos assim : ‘eu realmente prefiro não pagar impostos;
eu gostaria de manter toda a riqueza que adquiri. Mas eu sei que haverá uma
auditoria e não quero ser pego trapaceando – o que implicará num processo mais
doloroso do que pagar impostos -, então vou pagar; mas consultarei
especialistas, discutirei e pechincharei, para poder reter o valor máximo da
minha riqueza adquirida.’
Uma
visão bastante razoável dos impostos; mas uma má visão do arrependimento.
Usando
a analogia : ‘eu realmente prefiro não me arrepender; eu gostaria de manter
todo o pecado que adquiri. Mas sei que haverá uma auditoria e não quero ser
pego trapaceando – o que implicará num processo mais doloroso do que o
arrependimento -, por isso me arrependo; mas consultarei especialistas,
discutirei e pechincharei, para poder reter a quantia máxima do meu pecado
adquirido.’
Não
cresceremos em santidade dessa maneira, e Deus não será enganado. Eu discuti a
necessidade do arrependimento como uma conversão de toda a vida (ver aqui). Agora considerarei o ‘antes’
e o ‘depois’ de uma confissão sacramental : ‘compunção’ e ‘reparação’.
Lembro-me
da ‘Imitação de Cristo’ : ‘preferiria sentir compaixão a conhecer sua
definição’.
Teologicamente,
compunção é mais do que apenas uma tristeza pelo pecado (e certamente mais do
que lamentar ser pego e punido!). É uma tristeza pelo pecado que leva a uma
aversão de todo pecado, uma tristeza tão profunda que leva alguém a resolver
não pecar mais. Alguém que acorda de ressaca pode dizer : ‘Basta de bebida
alcoólica para mim!’. Alguém com compunção dirá : ‘desejo nunca mais
ofender a Deus!’
É
bom que lamentemos por ter feito uma bagunça em nossas vidas, desculpar-se por
ter ofendido a Deus – tão arrependidos que resolvemos colocar nossas vidas em
ordem de uma vez por todas. Também temos que limpar a bagunça que fizemos, na
medida em que estiver ao nosso alcance. Em outras palavras, temos que cuidar
da reparação ou fazer as pazes.
O
Papa Pio XI, em sua encíclica Miserentissimus Redemptor (Reparação
ao Sagrado Coração), escreve :
Se o primeiro e principal da consagração é
que ao amor do Criador responda o amor da criatura, segue-se espontaneamente
outro dever : o de compensar as injúrias de algum modo inferidas ao Amor
incriado, se foi desdenhado com o esquecimento ou ultrajado com a ofensa. A
este dever chamamos pelo nome de reparação.
Em
um nível prático, podemos ver a reparação como uma maneira de fazer uma
restituição. Quando eu era garoto, um descuido meu resultou na quebra de uma
janela. Fui ao proprietário e assumi a responsabilidade pelo ato e pedi
desculpas por isso.
A
restituição exigia que eu pagasse para substituir a janela que tinha quebrado.
De fato, o preço da janela estava além da minha capacidade de pagar. O dono da
janela então me ensinou uma lição valiosa sobre justiça e misericórdia. Ele me
mostrou a conta, para ver quanto custara meu descuido, e depois me pediu para
pagar pelo reparo.
Como
fazemos reparação quando ofendemos a Deus? O que podemos fazer quando vemos que
nosso pecado é uma ofensa ao Amor Infinito? Devemos, em termos de justiça e
amor, fazer o que pudermos. O Papa Pio XI nos deixa com esta bela oração ou
reparação :
E agora, como reparação à violação da honra
divina, oferecemos a Ti, acompanhando-a com as expiações de Tua Virgem Mãe, de
todos os santos e dos fieis piedosos, aquela satisfação que Tu mesmo ofereceste
um dia na cruz ao Pai, e que Tu renovas todos os dias nos altares. Prometemos
de nosso coração que tudo faremos, com a ajuda de Tua graça, para reparar os
pecados cometidos por nós e pelos outros : a indiferença a tão grande amor com
a firmeza da fé, a inocência da vida, a observância perfeita da lei evangélica,
especialmente da caridade, e impedir também, com todas as nossas forças, as
injúrias contra Ti, e atrair para o Teu seguimento a quantos possamos.’
Fonte
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