Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘É
muito comum tanto no catolicismo como nos movimentos evangélicos atuais certo
medo de perseguição. Que o cristianismo seja a religião mais perseguida no
mundo parece claro para qualquer pessoa que se dedica a leitura sobre perseguições
religiosas ao redor do globo. São diversos os casos de cristãos presos,
torturados e até mesmo mortos devido à sua crença. Essa perseguição, por sua
vez, não é algo novo.
O
cristianismo, desde seu início, teve que lidar com esse fardo, principalmente nos
seus quatro primeiros séculos. As perseguições eram constantes. Os espetáculos
envolvendo os primeiros mártires podem ser vistos em qualquer filme abordando
essa história. Isso nos mostra que ser cristão não era uma tarefa simples e, em
muitos lugares, continua não sendo.
No
Ocidente, após o cristianismo virar a religião do Império Romano, como sabemos,
a situação mudou drasticamente. De perseguido o cristianismo se transformou em
perseguidor, fazendo com os outros o mesmo que sofria anteriormente. A Idade
Média, amplamente conhecida e lembrada como um momento de grande perseguição
religiosa e de enorme obscurantismo em diversas esferas da sociedade,
mostra-se, até hoje, como um retrato e um alerta para o perigo que há quando
acontece uma mistura entre religião e Estado, sendo este subordinado àquela.
Com
o passar do tempo e o advento da modernidade, juntamente ao processo de
secularização que propôs a separação entre Igreja e Estado, ser cristão ou não
passou a ser uma questão de escolha. Ninguém mais é obrigado a aderir ao
cristianismo, embora a presença e a influência cristã no Ocidente ainda sejam
marcantes, definidoras de diversos traços culturais e formas de ver o mundo e
as relações humanas. De certa maneira, isso faz com essa religião ainda seja bem
influente em grande parte do mundo ocidental.
Diante
desse cenário, muitas pessoas veem com grande temor os fluxos migratórios
atuais. Estes são resultado das políticas imperialistas e de guerras comandadas
por diversos países para angariar zonas petrolíferas e rotas comerciais de
grande valor. Por esses conflitos e genocídios acontecerem, na sua maioria, em
países islâmicos, milhares de muçulmanos chegam diariamente ao Ocidente. Eles
buscam segurança e vida digna, longe dos terrores da guerra e do assombro
constante da possibilidade de morrer.
Uma
vez que a religião é parte integrante de determinada sociedade, é de se esperar
que imigrantes, pertencendo a outra fé, busquem seus pares para se reunirem e
realizarem seus cultos no novo país. Essa situação, por sua vez, pode gerar
conflito, visto que muitas das regras dos países do Ocidente não levam em conta
aspectos caros àqueles que vêm de outro contexto cultural e pertencem a
religiões – que, como todas, possuem tanto leituras fundamentalistas quanto progressistas
a respeito de seus textos sagrados.
Caso
a leitura seja de viés fundamentalista, o que tende a ser mais comum, pode-se
facilmente criar guetos que funcionam como Estados paralelos dentro do Estado
territorial. Nos primeiros se seguem as regras de determinada religião; no
segundo, tem-se que viver de acordo com a laicidade. Essa dinâmica, muitas
vezes conturbada, gera conflitos difíceis de resolver e que demandam análises
teológicas e políticas aprofundadas para se tentar conciliar as duas formas de
ver a mesma realidade.
Do
lado cristão fundamentalista, por sua vez, o medo de ter sua voz calada pelo
avanço de outras religiões no contexto ocidental faz com que cresçam movimentos
contrários à garantia de culto dessas, bem como movimentos xenofóbicos e de
perseguição. Claramente, esquecem-se de que o cristão é chamado à acolhida do
diferente e à luta pelo direito dos que são perseguidos.
Ao
mesmo tempo, esquecem-se de que a voz cristã é a voz do amor. Assim, dizer que
uma religião calará a voz cristã é dizer que ela impedirá o cristão de amar o
próximo. O que significa maior preocupação com o cristianismo do que com o ser
cristão verdadeiramente – importante lembrar que nem toda pessoa pertencente ao
cristianismo é cristã e vice-versa.
Contudo,
não quer dizer que o cristianismo não seja uma religião importante, que não
deva ser respeitado e ter seu direito de culto garantido em qualquer lugar do
mundo. Humanamente devemos sempre condenar todo e qualquer tipo de perseguição
feita a qualquer grupo religioso.
Ao
mesmo tempo, o cristianismo não deve se esquecer de que, mais importante do que
dogmas e cultos é o amor para com os semelhantes. De acordo com o Evangelho,
esta é a única maneira de mostrarmos que realmente somos discípulos de Jesus de
Nazaré.
Desse
modo, podemos dizer que se alguma religião conseguir impedir uma pessoa que
teve um encontro com o Ressuscitado deixe de amar, então essa religião
realmente terá calado a voz cristã.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1388287/2019/09/migracao-perseguicao-e-o-possivel-emudecimento-da-voz-crista/
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