*Artigo do Prof. Felipe Aquino
‘O
Papa Emérito Bento XVI usou essa expressão para explicar o regime filosófico
que se deseja impor no mundo. Há duas formas de ditadura : das armas
e da cultura. Essa última é muito pior, porque dura muito mais tempo. A
expressão relativismo mostra a ideia central, isto é, a ausência da verdade
absoluta, renascimento de uma ideologia antiga. É uma ditadura, porque deseja
proibir você de sustentar o contrário. Tudo passa a ser, então, relativo,
exceto o próprio relativismo, que é um absurdo.
Ora,
se tudo é relativo e não existe a verdade objetiva, então, a própria afirmação ‘tudo
é relativo’ ou ‘não existe verdade absoluta’ também não podem ser
tidas como verdadeiras. Além do relativismo ser um grave erro, que destrói as
bases da civilização, o pior de tudo é não admitir que alguém dele discorde.
Essa triste mentalidade, na verdade, é uma lógica muito esperta e maldosa
daqueles que desejam eliminar a religião. Se a liberdade é absoluta para pensar
no que eu quero, então, todas as afirmações são igualmente aceitas, e você joga
tudo no mesmo saco, mentiras e verdades.
A
incoerência se nota quando se percebe que os defensores da verdade absoluta são
perseguidos e caluniados; ora, então ‘a liberdade não é tão absoluta nem a
verdade tão relativa’, como disse o amigo advogado Rafael Vitola. E ele
afirma, com razão, que ‘o que está por trás disso não é o amor à liberdade,
mas o ódio à verdade. Sob a capa de uma liberdade absoluta – que, aliás, seria
imoral –, esconde-se a mais terrível das tiranias. Na realidade, nem os que
propugnam a verdade relativa nela acreditam. Pensam, no fundo, que ela é
absoluta – pois negam a liberdade a seus opositores. Sua agravante é a
hipocrisia. E a hipocrisia – atroz e autoritária – é sua arma principal’.
O relativismo está na moda?
É a
luta do bem contra o mal; a luta da verdade contra a mentira, da luz contra as
trevas. Na homilia que o então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa emérito
Bento XVI, pronunciou na Missa ‘Pro Eligendo Pontífice’, celebrada no
dia 18 de abril de 2005, às vésperas de sua eleição como Papa, ele disse :
‘Quantos ventos de doutrina
conhecemos nestas últimas décadas, quantas correntes ideológicas, quantas modas
do pensamento. A pequena barca do pensamento de muitos cristãos, com
frequência, fica agitada pelas ondas, levadas de um extremo a outro: do
marxismo ao liberalismo, até o libertinismo; do coletivismo ao individualismo
radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao
sincretismo etc. A cada dia, nascem novas seitas e se realiza o que diz São
Paulo sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir no erro
(cf. Efésios 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é etiquetado
com frequência como fundamentalismo.
Enquanto que o
relativismo, ou seja, o deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina»,
parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma ‘ditadura
do relativismo’, que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como
última medida o próprio eu e suas vontades’.
Nós temos outra medida :
o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo.
«Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e da última novidade; adulta e
madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com Cristo. Essa amizade nos
abre a tudo o que é bom e nos dá a medida para discernir entre o verdadeiro e o
falso, entre o engano e a verdade’.
Bento XVI e João Paulo
II
Em
outra ocasião, na visita à Polônia, na Praça da Vitória (Pilsudski) de
Varsóvia, a mesma onde, em 1979, João Paulo II exaltou os seus compatriotas,
encorajando-os a vencer o governo comunista, o Papa emérito Bento XVI convidou
os 300 mil fiéis que participaram da Eucaristia, a ‘não cair na tentação do
relativismo ou da interpretação subjetiva e seletiva da Sagrada Escritura’,
denunciando a tentativa da parte de ‘pessoas ou ambientes falsificarem a
Palavra de Deus e retirar do Evangelho as verdades’ segundo eles, ‘demasiado
incômodas para o homem moderno’.
O
Papa anterior, João Paulo II, foi à Polônia para combater o comunismo. Bento
XVI voltou lá para combater o ‘relativismo religioso’ e a ‘ditadura
do relativismo’, as novas bases do secularismo. Para esse relativismo, que
nega que possa haver uma verdade absoluta e permanente, ficando por conta de
cada um definir a ‘sua’ verdade e aquilo que lhe parece ser o seu bem, ‘a
pessoa se torna a medida de todas as coisas’, como dizia o filósofo grego
Protágoras.
Evidentemente,
a Igreja rejeita isso, porque há verdades que são permanentes. As verdades da
fé e da moral cristã são perenes, porque foram dadas por Deus. Cristo afirmou
solenemente : ‘Eu sou a Verdade’ (Jo 14,6); ‘a verdade vos libertará’
(Jo 8,32); e Ele disse a Pilatos que veio ao mundo exatamente ‘para dar
testemunho da verdade’ (Jo 18,37). São Paulo disse que ‘Deus quer que
todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade’ (1Tm 2,4), e que ‘a
Igreja é a coluna e o fundamento da verdade’ (1Tm 3,15).
O dicionário da
Verdade
Ora,
se negarmos que existe a verdade objetiva e perene, o Cristianismo fica
destruído desde a sua raiz. O Evangelho é o dicionário da Verdade. Segundo o
relativismo, no campo moral não existe ‘o bem a fazer e o mal a evitar’,
pois o bem e o mal são relativos. Isso destrói completamente a moral católica
que moldou o Ocidente e a nossa civilização. Ele ignora a lei natural, que é a
lei de Deus colocada na consciência de todo ser humano, desde que ele dispõe do
uso da razão.
Por
causa do relativismo moral, os governantes propõem leis contra a Lei Natural
que Deus colocou no coração de todos os homens. Dessa forma, a palavra do
legislador humano vai superando a do Legislador Divino, que é a mesma para
todos os homens. Quem não estiver dentro do ‘politicamente correto’ é
anulado, desprezado, zombado com cinismo e perseguido.
O
relativismo derruba as normas morais válidas para todos os homens. Ele é ateu,
ele vê, na religião e na moral católicas, um obstáculo e um adversário, pois
Deus é visto como um escravizador do homem e a moral católica destinada a
tornar o homem infeliz. O relativismo atual coloca a ciência como uma deusa que
vai resolver todos os problemas do homem; e que está acima da moral e da
religião, mas se esquece de dizer que o homem nunca foi tão infeliz como hoje;
nunca houve tantos suicídios, nunca se usou tanto antidepressivo e remédio para
os nervos; nunca se viu tanta decadência moral, destruição da família e da
sociedade.
Uma nova ‘teologia
liberal’
O
relativismo é embalado também pelo ceticismo e utilitarismo, que só aceita o
que pode ajudar a viver num bem-estar hedonista aqui e agora. Há uma aversão ao
sacrifício e à renúncia. Infelizmente, esse perigoso relativismo religioso, que
tudo destrói, penetrou sorrateiramente também na Igreja, especialmente nos
seminários e na teologia. Isso levou o Papa João Paulo II a alertar os bispos
na Encíclica Veritatis Spendor, de 1992, sobre o perigo desse
relativismo que anula a moral católica. No centro da ‘crise’, o Papa viu
uma grave ‘contestação ao patrimônio moral da Igreja’.
Ele
diz : ‘Não se trata de contestações parciais e ocasionais, mas de uma
discussão global e sistemática do patrimônio moral. Rejeita-se, assim, a
doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente
validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns
ensinamentos morais da Igreja’ (n. 4).
E
chama a atenção para o fato grave de que ‘a discordância entre a resposta
tradicional da Igreja e algumas posições teológicas está acontecendo mesmo nos
Seminários e Faculdades eclesiásticas’. (idem) No centro da ‘crise moral’
enfatizada pelo Pontífice, ele revela qual é a sua causa – o homem quer ocupar
o lugar de Deus : ‘A Revelação ensina que não pertence ao homem o poder de
decidir o bem e o mal, mas somente a Deus’ (Gen 2,16-17). Não é lícito que
cada cristão queira fazer a fé e a moral segundo o ‘seu’ próprio juízo
do bem e do mal.
É
por causa desse relativismo moral que encontramos, vez ou outra, religiosos e
sacerdotes que aceitam o divórcio, o aborto, a pílula do dia seguinte, o
casamento de homossexuais, a ordenação de mulheres, a eutanásia, a inseminação
artificial, a manipulação de embriões, o feminismo e outros erros que o
Magistério da Igreja condena explicitamente.
Esse
mesmo relativismo é a razão que move os contestadores do Papa, do Vaticano, dos
Bispos e da hierarquia da Igreja, como se tivessem usurpado o poder sagrado, e
não recebido do próprio Cristo pelo sacramento da Ordem. Esse relativismo fez
surgir na Igreja uma ‘teologia liberal’ de Rudolf Bultman, que por sua
vez alimentou uma teologia ‘da libertação’, uma teologia ‘feminista’,
e agora falam já de uma ‘teologia gay’.’
Fonte
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