quarta-feira, 18 de abril de 2018

Duas formas de se fazer Teologia


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Qual das duas formas devemos escolher?
*Artigo de Fabrício Veliq,
protestante, é mestre e doutorando em
teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG


 ‘Em linhas gerais, podemos dizer que há duas formas de se fazer teologia : a primeira é aquela que trata somente das questões espirituais e sua preocupação se concentra em como tornar a alma, que é separada do corpo, a mais virtuosa e a mais santa possível. Esse tipo de visão lida com um dualismo ferrenho, que afirma que aquilo que deve ser valorizado é o aspecto interno da relação humano/divino, uma vez que, no fim de todas as coisas, somente a alma será salva ou condenada.

A segunda, por sua vez, é feita a partir da realidade do mundo, dos seus conflitos e de sua miséria, visando também uma resposta que venha de encontro aos cenários de guerra, desgraça e desigualdade que se veem no cotidiano da vida. Para esse modo de fazer teologia, o dualismo ferrenho da primeira forma se torna sem sentido, uma vez que o humano não é visto como uma alma habitando um corpo e esperando sua libertação, antes, como pessoa, um todo integrado que vive na realidade criada por Deus.

Diante disso, é importante perceber que a partir da forma que escolhemos fazer teologia, essa mesma forma determina a nossa vivência na sociedade, uma vez que o ser humano é um ser, querendo ou não, político. De maneira recíproca, é possível perceber também que nosso fazer teológico é influenciado pela maneira como vemos o mundo.

Assim, naqueles e naquelas que optam por fazê-la pela primeira forma que expusemos, há a tendência muito grande de minimizar todas as questões sociais, de guerra, desgraça e miséria ao fator comum do ‘pecado’ ou ainda da ‘vontade divina’, desconsiderando assim, os sofrimentos dos massacrados.

Aqueles e aquelas que, por outro lado, optam pela segunda via, tem outro ponto de partida : esse ponto deixa de ser a simples alma que busca salvação e se torna a preocupação pela promoção da vida na realidade do mundo. Esse tipo de visão, por sua vez, tende a motivar a luta contra a injustiça e a revolta contra as guerras que matam populações inocentes em nome dos desejos dos poderosos, como tanto já vistas e, nesse exato momento, levando a bombardeios na Síria e aumentando o número daqueles/as que são mortos/as devido à ganância de poder.

Qual das duas formas devemos escolher? Compreendendo o ensinamento de Jesus e estando disposto/a a seguir seus passos, conforme consta nas narrativas evangélicas, não fica dúvida de que a teologia cristã deve se direcionar para a segunda forma de se fazer teologia, ou seja, engajando-se nas questões da atualidade e propondo novas formas de resolver os conflitos e viver em sociedade, principalmente, levando em conta aqueles e aquelas que morrem diariamente devido às brigas entre os poderosos dessa Terra para que seus lucros sejam cada vez maiores.

Como consequência disso também é possível dizer que todo silêncio por parte da Igreja em relação à exploração, à guerra e à miséria, seja onde for e contra quem for, deve ser considerado como não cristão e desaprovado por Deus, que sempre, ao longo da história, colocou-se ao lado dos desamparados e perseguidos desse mundo.

Assim, todo discurso triunfalista e de ‘salvação do terror’ que leva milhares de pessoas a morrerem hoje na guerra da Síria não pode ser, de maneira nenhuma, considerado cristão e suportado por aqueles e aquelas que se dizem seguidores de Jesus nos dias atuais. O clamor pela paz e alívio do sofrimento que vem da Síria hoje pode ser ouvido por todo o mundo e é dever cristão se posicionar contra essa guerra.

 Que haja paz na Síria.’


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