Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘Em linhas gerais, podemos dizer que há duas
formas de se fazer teologia : a primeira é aquela que trata somente das questões
espirituais e sua preocupação se concentra em como tornar a alma, que é
separada do corpo, a mais virtuosa e a mais santa possível. Esse tipo de visão
lida com um dualismo ferrenho, que afirma que aquilo que deve ser valorizado é
o aspecto interno da relação humano/divino, uma vez que, no fim de todas as
coisas, somente a alma será salva ou condenada.
A segunda, por sua
vez, é feita a partir da realidade do mundo, dos seus conflitos e de sua
miséria, visando também uma resposta que venha de encontro aos cenários de
guerra, desgraça e desigualdade que se veem no cotidiano da vida. Para esse
modo de fazer teologia, o dualismo ferrenho da primeira forma se torna sem
sentido, uma vez que o humano não é visto como uma alma habitando um corpo e
esperando sua libertação, antes, como pessoa, um todo integrado que vive na
realidade criada por Deus.
Diante disso, é
importante perceber que a partir da forma que escolhemos fazer teologia, essa
mesma forma determina a nossa vivência na sociedade, uma vez que o ser humano é
um ser, querendo ou não, político. De maneira recíproca, é possível perceber
também que nosso fazer teológico é influenciado pela maneira como vemos o
mundo.
Assim, naqueles e
naquelas que optam por fazê-la pela primeira forma que expusemos, há a
tendência muito grande de minimizar todas as questões sociais, de guerra,
desgraça e miséria ao fator comum do ‘pecado’
ou ainda da ‘vontade divina’,
desconsiderando assim, os sofrimentos dos massacrados.
Aqueles e aquelas
que, por outro lado, optam pela segunda via, tem outro ponto de partida : esse
ponto deixa de ser a simples alma que busca salvação e se torna a preocupação
pela promoção da vida na realidade do mundo. Esse tipo de visão, por sua vez,
tende a motivar a luta contra a injustiça e a revolta contra as guerras que
matam populações inocentes em nome dos desejos dos poderosos, como tanto já
vistas e, nesse exato momento, levando a bombardeios na Síria e aumentando o
número daqueles/as que são mortos/as devido à ganância de poder.
Qual das duas
formas devemos escolher? Compreendendo o ensinamento de Jesus e estando
disposto/a a seguir seus passos, conforme consta nas narrativas evangélicas,
não fica dúvida de que a teologia cristã deve se direcionar para a segunda
forma de se fazer teologia, ou seja, engajando-se nas questões da atualidade e
propondo novas formas de resolver os conflitos e viver em sociedade,
principalmente, levando em conta aqueles e aquelas que morrem diariamente
devido às brigas entre os poderosos dessa Terra para que seus lucros sejam cada
vez maiores.
Como consequência
disso também é possível dizer que todo silêncio por parte da Igreja em relação
à exploração, à guerra e à miséria, seja onde for e contra quem for, deve ser
considerado como não cristão e desaprovado por Deus, que sempre, ao longo da
história, colocou-se ao lado dos desamparados e perseguidos desse mundo.
Assim, todo
discurso triunfalista e de ‘salvação do
terror’ que leva milhares de pessoas a morrerem hoje na guerra da Síria não
pode ser, de maneira nenhuma, considerado cristão e suportado por aqueles e
aquelas que se dizem seguidores de Jesus nos dias atuais. O clamor pela paz e
alívio do sofrimento que vem da Síria hoje pode ser ouvido por todo o mundo e é
dever cristão se posicionar contra essa guerra.
Que haja paz
na Síria.’
Fonte :
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