Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘A busca da
alegria é a meta essencial que rege o mais recôndito do coração humano. Essa
essencialidade se configura como o maior e mais exigente desafio da existência.
Requer sabedoria própria para não resvalar o caminho em direções equivocadas,
produzindo um tecido sociocultural descartável e ancorado em experiências
efêmeras, que aprofundam o vazio existencial. Empurram o ser humano rumo a
desejos desarvorados, a práticas de despersonalização, ao gosto pelo exótico e
ao distanciamento da vida vivida com simplicidade.
Ninguém consegue
viver sem experimentar a alegria. Mas a felicidade autêntica só pode ser
alcançada quando a vida se desabrocha como dom de Deus. Isso significa que cada
pessoa precisa encontrar o sentido de viver, fazendo da própria existência
oportunidade para servir, ajudar, contribuir. Nessa perspectiva, há uma tarefa
inadiável, que é de todos : compor - social e culturalmente – tudo que
fortaleça as diferentes formas de solidariedade. São urgentes os programas e
projetos capazes de dar novas feições aos degradantes cenários sociais e
políticos, que desfiguram o rosto da humanidade neste terceiro milênio, mas a
efetivação da solidariedade como fundamento social depende da articulação de
elementos variados.
Basta pensar que a
busca da alegria, vetor que determina condutas individuais, envolve interesses
diversos, múltiplos sentimentos, visões de mundo, práticas e posturas. Por
isso, é muito necessária uma sabedoria experiencial que se fundamente na
espiritualidade e no gosto por uma vida simples. Sem essas referências, mesmo
que a pessoa alcance conquistas profissionais e acadêmicas, ou lugares de
destaque na sociedade, não consegue experimentar felicidade duradoura, pois a
verdadeira alegria é substituída por fugacidades, interesses mesquinhos,
idolatria do dinheiro, satisfações passageiras. As instituições empobrecem e
tornam-se mais fracas. E a mediocridade, que anda de braços dados com a busca
de uma alegria superficial, toma conta de tudo.
Todos precisam
reconhecer, e com clareza : para conquistar a felicidade duradoura não é
suficiente a cada pessoa voltar-se apenas para si, desconsiderando o outro e a
realidade. Viver a vida como dom, buscando sempre servir, é o único modo de
contribuir para que a humanidade não se aprisione, cada vez mais, nas escolhas
suicidas. Nesse sentido, há de ser ouvida a inspiradora palavra do Papa
Francisco, na sua Exortação Apostólica intitulada ‘Alegrai-vos e Exultai’, referência bíblica ao Sermão da Montanha,
no Evangelho de Mateus. O Papa destaca o que deve ser meta de cada pessoa :
viver a santidade no mundo atual - caminho para encontrar a verdadeira alegria.
Sabe-se que a
alegria duradoura não está nas coisas materiais. O Papa Francisco, no capítulo
4 da Exortação Apostólica, aponta características da santidade no mundo atual,
que são verdadeiros itinerários para se conquistar a alegria. Afinal,
felicidade autêntica e santidade – o que se relaciona a uma vida honesta,
fraterna, solidária - têm tudo a ver. A Exortação Apostólica, então, detalha
grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo, fonte de alegria, remédios
para curar enfermidades próprias da cultura contemporânea – negativismos,
tristezas, acomodação, ansiedade agressiva, egoísmo, consumismo,
individualismo, formas falsas de espiritualidade e tantas outras moléstias.
Nesse itinerário
para se conquistar a felicidade, delineado pelo Papa Francisco, está o
desenvolvimento da capacidade de suportar situações, de ter paciência e de
praticar a mansidão, remédios contra as exacerbações e os radicalismos. Além
disso, essas atitudes produzem sabedoria e, consequentemente, a alegria que dá
sentido à vida. A partir do caminho indicado pelo Papa, fomentam-se o
ardor e a ousadia que curam o ser humano das mediocridades. A alma revigora-se
para lutar pelo bem e pela justiça. E cada oferta pessoal que se faz, na busca
por um mundo melhor, passa a ser reconhecida como um grande ganho de cada dia.
Que todos
possam compreender : a busca por felicidade exige fazer da vida
um verdadeiro dom, que pressupõe a dedicação aos outros, irmãos em Cristo.
Trata-se de um exercício existencial e humano de relevância inquestionável,
particularmente na atualidade, quando há urgente necessidade de se construir um
tempo diferente, com relações mais equilibradas, livres da mesquinhez, sem os
abismos entre os ricos e os que sobrevivem na miséria. Viver a santidade
é o único itinerário para quem está em busca da alegria.’
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