Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo via Pazes
‘Eis a história de um camponês que, para
viver, vendia água para o mercado. Ele tinha cerca de dez jarros. Todos os
dias, e muito cedo de manhã, ele colocava uma vara nas costas. Em cada
extremidade estava suspenso um jarro; ele os levava para o poço e depois para o
centro da aldeia. No entanto, no meio de todos esses potes havia um que estava
rachado.
Curiosamente, esse
trabalhador sempre pegou o pote rachado para fazer sua primeira viagem do dia.
Seguia para o poço
a dois quilômetros de distância, levando sempre um pote em perfeito estado e
mais esse rachado, um em cada extremidade de uma vara que carregava atravessada
em seus ombros.
Ele coletava
pacientemente o líquido e o transportava por mais por esse percurso até a
aldeia.
É claro que,
quando ele chegava ao mercado, o pote rachado havia perdido uma grande
quantidade de água que estivera carregando. Como resultado, o agricultor só
poderia alcançar metade do que foi acordado. No entanto, o pote em bom estado
funcionava perfeitamente e permitia-lhe ganhar todo o dinheiro que estava
previsto.
Rapidamente, os
outros potes começaram a falar sobre a situação entre eles. Eles não entendiam
por que o homem ainda estava utilizando o pobre recipiente danificado, porque
insistia em perder dinheiro todos os dias. Não havia sentido nisso, sendo que o
carregador de água tinha vários outros potes em boas condições a sua
disposição.
Além disso, o pote
rachado passou a se envergonhar da sua condição. Ele fora utilizado por mais de
dez anos, sempre desempenhou perfeitamente a função a qual era destinado, até o
dia em que lhe apareceu aquela fissura por onde a água vazava. Era agora um
inútil, um imprestável, e lhe amargurava saber que o parceiro só se valia dele
por pura piedade. Isso não estava certo, não era justo o homem ter seus ganhos
diminuídos por sua causa.
Na horas de
repouso, gastava seu tempo contando aos potes mais jovens as suas aventuras de
pote experiente, de quando era saudável e conseguia fazer o trajeto sem
desperdiçar uma gota de água sequer. Os outros o ouviam atentos, mas com pesar,
não entendiam por que o homem das águas insistia em botar o velho pote rachado
na atividade diária. Com tantos recipientes jovens e saudáveis, por que não
descartava de vez o pobre inútil?
O homem persistia
nesse costume e ignorava os questionamentos da turma. As vezes até ria, sem
nada dizer. ‘Por certo, enlouquecera’,
comentavam com preocupação, ainda mais quando a reação do camponês era só a de
apenas sacar farelos dos bolsos e espalhar pelo caminho. O que era aquilo?
restos de pão? areia? que dó! o pobre humano deveria estar mesmo perdendo o
juízo.
Porém, as demais
coisas pareciam normais. As idas ao poço, o trajeto feito como sempre fora e o
abastecimento das casas. Apenas a insistência em dar serviço ao velho pote
rachado continuava ser a coisa sem sentido no dia a dia deles, pois até a nova
mania de espalhar farelos pelo caminho o homem abandonara.
Certa noite,
enquanto o fazendeiro se preparava para descansar, o pote quebrado chamou-o e
disse que precisava conversar com ele. O homem ouviu-o então, muito atento ao
que o pote queria lhe dizer. Este último, sem preâmbulo, disse-lhe o que tinha
em mente. Ele disse que gostava do que fazia, mas não se sentia confortável
sabendo ser ele um pote inútil. Não queria que o camponês o preservasse por
compaixão. Melhor seria que o jogasse no lixo e acabasse com essa angustia de uma
vez por todas.
O camponês sorri
enquanto escuta. Confessa que nunca passou pela sua cabeça a ideia de se
desfazer do velho companheiro. Ele lhe disse que nunca pensara em jogá-lo fora
porque, na verdade, era muito útil para ele. ‘Útil?’, Perguntou o pote. Como ele poderia ser útil se estavam
perdendo dinheiro todos os dias? O homem pediu-lhe para manter a calma. No dia
seguinte, ele mostraria por que ele era tão valioso. O pote quebrado não
conseguiu dormir.
No dia seguinte,
como prometido, o camponês lhe disse : ‘Peço,
por favor, que observe tudo de cada lado da estrada até o poço’. O pote foi
extremamente atencioso. Ele olhou para os dois lados, mas viu uma estrada
agradável, cheia de flores. Quando chegaram ao poço, ele disse ao fazendeiro
que não havia encontrado uma resposta nesta estrada.
O homem olhou para
ele carinhosamente e disse : ‘Desde que
você se rachou, eu estive pensando sobre a melhor maneira de continuar obtendo
o máximo de você. Então decidi, de tempos em tempos, espalhar sementes pelo
caminho. Graças a você, eu era capaz de regá-las todos os dias. E, graças a
você, uma vez que tudo floresceu, posso escolher algumas plantas e vendê-las no
mercado, a um preço superior ao da água’. O pote rachado, muito comovido,
entendeu qual a sua preciosa missão.’
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