Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Na longa tradição da Igreja, muitos
monges moldaram a humanidade em diversas áreas do conhecimento humano. Seja
na agricultura, ciência, cultura, educação, música, artes, no campo teológico e
filosófico, a vida monástica deixou marcas na evolução da civilização.
Também os hábitos
alimentares foram grandemente influenciados pelos monges. Na vivência
da oração e do trabalho diário, muitas cozinhas monásticas criaram receitas e
bebidas. Um bom exemplo é do monge beneditino, Dom Pérignon que
contribuiu para o desenvolvimento de uma bebida que rompeu séculos e agrada a
muitos : a champanhe.
O monge beneditino
do Mosteiro de São Bento de São Paulo, Dom João Baptista Barbosa Neto,
em parceria com Sandra Marina Witkowski, oblata secular, acabam de
lançar um livro com receitas do Mosteiro de São Bento. A publicação
traz receitas tradicionais dos monges.
Simples e
práticas, as receitas podem ser feitas por qualquer pessoa.
O mosteiro São
Bento mantém ainda a Padaria do Mosteiro que já tem mais de 20
anos de história e vende bolos, pães, biscoitos, doces, chocolates e dois
rótulos de cerveja.
O A12 entrevistou
Dom João Baptista que além de contar alguns detalhes da publicação, divulga uma
das receitas do livro de forma exclusiva! Confira!
A12 – A oração na
vida de um monge é constante. Na hora de cozinhar ela também entra?
Dom João Baptista
– Sim!
A vida do monge deve ser entendida como uma constante oração. Embora seu dia a
dia seja dividido entre momentos de oração e trabalho (ora et labora),
ele pode exercer suas atividades também rezando. Aliás, nosso trabalho deve ser
entendido também como um momento de louvor a Deus. Portanto, oração de ação de
Graças.
A12 – Na longa
tradição dos mosteiros, muitos monges criaram receitas e bebidas que mudaram a
humanidade. Algum fato dessa trajetória te inspira?
Dom João Baptista
– Na verdade, os monges tiveram um desempenho magistral nas várias
áreas do conhecimento humano. O trabalho na cozinha é algo mais prático, que
visa alimentar ao outro. Quem cozinha geralmente não cozinha apenas para si,
mas para o outro também. No mosteiro, onde vive um grupo de pessoas, todos os
trabalhos são exercidos em vista do bem da comunidade. Preocupar-se com o irmão
é extremamente importante. Saber o que ele gosta, no caso da comida, também
deve ser entendido como uma acolhida, desejar o seu bem. Também na recepção dos
hóspedes que vêm ao mosteiro há o preceito da caridade cristã. O próprio São
Bento escreve na regra que todo aquele que chega ao mosteiro seja acolhido como
se fosse o próprio Cristo. Tudo isto, com toda a certeza, transformou a
humanidade. Comer bem é acolhida.
A12 – No livro que
recentemente lançou com receitas do Mosteiro de São Bento, elas marcam também
os hábitos dos próprios monges?
Dom João Baptista
– É
verdade. O livro não contém apenas receitas. É também um livro de história da
comida. Tentamos elaborar um fio condutor histórico da comida monástica. Assim,
o leitor poderá entender a causa do sucesso monástico ao longo de mais de 1500
anos, através das refeições dos monges. Começamos dos mosteiros em geral, dando
grande ênfase na Idade Média e nos preceitos beneditinos, desde a Regra de São
Bento, assim como a outros documentos; afunilamos o assunto abordando
especificamente na história da comida no Brasil e, por fim, aprofundamos a
história da comida em São Paulo, uma vez que o objetivo é informar o leitor
sobre os costumes monásticos e alimentares do Mosteiro de São Bento de São
Paulo. O livro traz ainda orações para antes e após as refeições do almoço e
jantar para toda uma semana, podendo as pessoas utilizá-las para agradecer a
Deus pelo alimento diário. Entre estas orações há sugestões de cardápio para
quem desejar fazer em casa.
A12 – Cozinhar é
uma forma de amar os outros? Você pode dar uma dica ou curiosidade que você
traz no livro?
Dom João Baptista
– Sim, cozinhar e desejar que o outro viva. Alimentar não é apenas
para sustentar o corpo. Não é comer por comer. Aqui também entra o prazer.
Alimentar-se bem, buscando uma alimentação saudável e de qualidade é
importante. Mas a comida tem que ter sabor. Abordamos tudo isto no livro.
Queremos lembrar que Deus é doce e que a vida, muitas vezes repleta de
amarguras, pode ser transformada por esta doçura. Há quase que uma idolatria da
sofisticação do alimento, dando grande importância a pratos extremamente
técnicos e chefes de cozinhas renomados. Há até programas de televisão com
competições sobre o tema. Muitas vezes, no entanto, tais pratos são frios, sem
emoção, sem o tempero principal, que é o amor. Devemos lembrar que um prato
simples, mas com o tempero do amor, pode ser mais saboroso que alguns em
restaurantes caros e grã-finos. Devemos deixar que Deus transite entre nossas
panelas. Devemos deixar que ele tempere nossa comida. Tenho certeza que tudo
será mais gostoso.
Também falamos
sobre os exageros alimentares, a gula. Este é um assunto complexo. O comer em
excesso, pode até não ser gula, mas estar ligado a ansiedade e outros desvios
psicológicos como uma forma de compensação. Lembramos também que de vez em
quando, comer uma fatia daquela iguaria maravilhosa, desde que seja apenas mais
um pedaço, não é pecado. Pois se desejamos comer apenas mais um pouco, é porque
aquele primeiro pedaço estava mesmo divino.
O livro traz
muitas curiosidades, como a importância de alimentar-se em silêncio, como
fazemos no mosteiro. Toda a comunidade monástica já acomodada à mesa,
alimentam-se não apenas dos pratos ali servidos. Está presente no ambiente um
monge que faz uma leitura edificante, afim de que os monges possam alimentar
também a sua alma.
Receita de pão de
batata-doce ou mandioquinha
INGREDIENTES
2 tabletes (30g)
de fermento biológico fresco
1 colher (sopa) de
açúcar
1 1/2 xícara de
água morna
2 colheres (sopa)
de óleo
1 colher (sopa) de
sal
2 xícaras de
batata-doce ou mandioquinha cozida e amassada
4 xícaras de
farinha de trigo
Gema para pincelar
PREPARO
Em uma tigela
grande, coloque o fermento e o açúcar e mexa até dissolver. Acrescente a água
morna, o óleo, o sal e o purê de batata-doce ou mandioquinha e misture.
Adicione metade da farinha e misture bem até incorporar tudo.
Transfira para uma
superfície lisa e junte o restante da farinha. Misture bem e amasse por 10
minutos. Modele uma bola, coloque de volta na tigela e cubra com um pano. Deixe
em local abrigado do vento (por exemplo, dentro do forno desligado) até a massa
crescer e dobrar de volume.
Retire a massa da
tigela e sove novamente por mais 5 minutos. Unte uma fôrma de pão (30 x 10 cm)
com manteiga e polvilhe farinha de trigo. Coloque a massa, cubra com um pano e
deixe crescer por 1 hora.
Pré-aqueça o forno
por 180 °C.
Leve ao forno e
asse por cerca de 1 hora.’
Fonte :
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