‘Realizou-se no
início desta semana, mais precisamente nos dias 23 e 24, respectivamente
segunda e terça-feira, em Istambul, na Turquia, a 1ª Cúpula Humanitária Mundial. 175 os países
presentes, entre os quais a Santa Sé, - 55 chefes de Estado, seis mil os
participantes, também o setor privado – para falar sobre os milhões de pessoas em
fuga de guerras, violências, calamidades naturais, perseguições e mudanças
climáticas. Predominou, contudo nas conversas, o conflito sírio, com suas
centenas de milhares de mortos e seus milhões de refugiados.
Aumentando o olhar
falou-se ainda sobre os 60 milhões de deslocados ou refugiados existentes no
mundo; falou-se sobre os 125 milhões de pessoas que hoje dependem de ajudas de
doadores internacionais para poderem sobreviver.
Todos chamados a
repensar o modo como são administradas as ajudas humanitárias, partindo
precisamente do dramático dado que os doadores contribuíram no último ano com
menos de 50% dos cerca de 20 bilhões de dólares solicitados pelas Nações Unidas
para a sua ação humanitária. A esse importante encontro, o primeiro em absoluto
sobre o tema, o Papa Francisco decidiu enviar uma Delegação de alto nível,
guiada pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin.
Já no último
domingo, durante a oração mariana do Angelus com os fiéis reunidos na Praça São
Pedro, Francisco se referiu a esse importante evento que tinha como objetivo,
refletir sobre as medidas a serem tomadas para responder às dramáticas
situações humanitárias. O Papa pediu
empenho para realizar o objetivo humanitário principal : ‘salvar a vida de cada ser humano, sem exceção, especialmente os
inocentes e os mais indefesos’.
Francisco também
enviou uma mensagem, lida pelo Cardeal Parolin, na qual voltou a expressar o
conceito de que ‘a nenhum refugiado seja
negado acolhimento’. ‘Não deve haver
famílias sem casa, refugiados sem acolhimento, feridos sem curas, nenhuma
criança tenha sua infância subtraída; nenhum homem e nenhuma mulher devem ser
privados do futuro, não pode haver idosos sem uma velhice digna’.
E deu uma luz para
salvar vidas humanas: fazer escolhas corajosas em favor da paz, do respeito, da
cura e do perdão. ‘Ninguém ama um
conceito, ninguém ama uma ideia – escreveu ainda o Papa - nós amamos as pessoas’.
Além da luz um desafio : ouvir o pranto das vítimas e daqueles que sofrem. ‘Deixemos que nos deem uma aula de
humanidade. Mudemos o nosso estilo de vida, a política, as decisões econômicas,
os comportamentos e atitudes de superioridade cultural’, acrescentou o
Papa. ‘Aprendendo das vítimas e daqueles
que sofrem, seremos capazes de construir um mundo mais humano’.
Mas depois de
todas essas palavras e incentivos do Papa, o que sobrou desses dias de
encontros e conversas? A reunião de Cúpula, desejada pela ONU, encerrou-se na
terça em meio a tantos interrogativos e muitas perplexidades. Iniciando pela
real futura aplicação das promessas feitas em auxílio de milhões de pessoas que
sofrem devido a crises humanitárias no mundo, para chegar às cadeiras vazias
durante o evento.
Sim, porque os
grandes ausentes deste encontro foram principalmente os líderes dos países
ricos. Um vazio duramente criticado pela liderança da ONU, apesar da grande
presença mundial; sim faltaram os chamados líderes do G7, dos sete países mais
industrializados do mundo. A exceção foi a chanceler alemã, Angela Merkel.
Apesar da não
presença dos ‘grandes da terra’, o
sentimento dos presentes foi da necessidade de dar passos importantes. A
ausência deles não deve jamais ser uma desculpa para não fazer nada no campo
humanitário. Primeira ação concreta : o corte de cerca de 1 bilhão de dólares
ao ano nas despesas de gestão da ONU e garantir que a maior parte dos fundos
possa ir em ajuda às pessoas mais necessitadas. As despesas gerais das agências
de ajuda da ONU agora absorvem cerca de 15% dos financiamentos.
Essa 1ª Cúpula
Humanitária Mundial procurou responder à emergência em que nos encontramos. Vivemos um período,
talvez o mais complicado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, no que diz
respeito às relações humanas, nas crises, no número de refugiados, nos
desastres causados pelo homem e pela natureza. Por isso é de suma
importância partir dessa realidade e procurar respostas concretas baseadas na
solidariedade.
O primeiro ponto é
reconhecer que somos parte de uma só família humana, por isso há uma
responsabilidade coletiva de enfrentar esses problemas que estão se acumulando
– violências, crises econômicas – já definidos pelo Papa, ‘uma terceira guerra mundial em pedaços’.
Diante destas
crises, uma multidão de vítimas; pessoas excluídas, descartadas que merecem uma
resposta. O evento desta semana deveria exatamente ir nesta direção para
encontrar novas estradas para evitar novas violências, sofrimentos e desastres
ambientais. Devemos buscar, todos juntos, como sociedade, como família humana,
respostas.
‘O importante – como disse o Cardeal Parolin
- é ‘não ficar só na política’’, mas superar também as tensões ou as
diferenças que existem e se encontrar unidos nas questões fundamentais.
O encontro fez
esse esforço de ir além, além das posições, das diferenças, das contraposições
políticas para dar uma resposta humana e solidária às necessidades de tantos
homens e mulheres que sofrem. Esperamos que as declarações de intentos
pronunciadas pelos líderes políticos presentes se traduzam em ações concretas.’
Fonte :
* Artigo na íntegra