*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘A tarefa de
construir o bem comum necessita, acima de tudo, de diálogo. Dialogar qualifica a capacidade humana de se
dirigir ao outro, nas diferenças e nos parâmetros racionais das oposições. Permite
também estabelecer uma relação com a lucidez de discernimentos e escolhas.
Trata-se de prática que não oferece espaço para o ódio, vinganças e o
aproveitamento espúrio de oportunidades para obter ganhos na contramão do bem
comum. A ausência do diálogo permanente, em todas as esferas das relações
humanas, explica o nascimento de descompassos, as mazelas de escolhas, os
absurdos dos procedimentos que comprometem legalidades e produzem os leitos da
corrupção.
Somente pela via
do diálogo os muitos segmentos da sociedade construirão o tecido de uma cultura
que sustente princípios e legalidades. As guerras, os acirramentos partidários,
o recrudescimento da violência, os fundamentalismos - religiosos e políticos -,
as inimizades, as crises familiares, tudo advém de incompetências humanas na
essencial capacidade para dialogar. Uma qualidade fundamental para se escolher
bem, decidir e garantir rumos adequados. Quando falta a indispensável
competência da reciprocidade conquistada pelo diálogo, as consequências são
sempre desastrosas.
Só o diálogo constrói entendimentos que levam à compreensão das
mudanças e transformações tão velozes neste tempo. A vivência desse exercício
mostra a importância da participação cidadã. Garante lucidez na condução de
processos e engradece a alma, fazendo-a apreciar o que se baseia no altruísmo.
Sem a abertura para a reciprocidade nos exercícios relacionais em diferentes
ambientes - do aconchego da vida familiar aos grupos religiosos, culturais e
políticos -, o que se faz torna-se desserviço. Líderes incapacitados para o
diálogo, particularmente no âmbito da política, são obstáculos nos
funcionamentos da sociedade, prejudicando o bem comum.
O diálogo, longe
de ser ‘conversa fiada’, fofoca,
palavras trocadas pelo simples gosto de falar - especialmente aquele gosto
muito comum de se falar dos outros -, é a construção de entendimentos que dão
suporte para a criação e manutenção do ethos do altruísmo, da seriedade no que
se faz e da busca pela verdade. Promove, assim, a coragem da transparência, em
todos os sentidos e níveis, balizando na honestidade relações e funcionamentos.
A qualidade do diálogo depende muito da visão construída no horizonte dos
cidadãos, para além de paixões partidárias. O exercício do diálogo alarga a
visão de mundo do cidadão, os horizontes dos funcionamentos institucionais.
Permite alcançar a compreensão que anima a indispensável autoestima, a
consciência histórica e a configuração política merecedora de credibilidade. Nesse sentido, o diálogo é força para fazer
com que a sociedade seja verdadeiramente democrática, capaz de respeitar e
promover, com fecundidade, o bem comum.
Dialogar é o
caminho da permanente construção da vida social, familiar e individual. O
diálogo é remédio para curar irracionalidades, tônico que fortalece
entendimentos cidadãos, intervenção que alarga as estreitezas de
interpretações. O princípio do bem comum é o que deve nortear a sociabilidade,
superando, assim, radicalismos e violências.
Para além de qualquer simples interesse, sobretudo daquele que nasce da
idolatria do dinheiro, cada cidadão tem a tarefa de preservar e de promover
esse princípio.
O respeito e a
promoção do bem comum são deveres de todos.
Por isso, ecoe em todo canto, e permeie os tecidos da cultura na
sociedade atual, na particularidade do momento vivido na sociedade brasileira,
a autoridade do convite e da recomendação do Papa Francisco, dirigindo-se aos
brasileiros : é preciso investir todas as forças no diálogo para reconstruções,
respeito a legalidades e encontro das indispensáveis saídas, evitando
descompassos que comprometam a civilidade, a ordem e a justiça. Acima de tudo,
os segmentos diversos da sociedade, para superar mediocridades, partidarismos,
radicalismos de todo tipo, fecundando nova cultura, precisam estar em diálogo
pelo bem comum.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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