terça-feira, 3 de maio de 2016

A luta pela educação

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano


‘Tive a oportunidade de ir aos montes Nuba, no Sudão. Trata-se de um território um pouco maior do que metade de Portugal, em grande parte controlado pela ala nortista do Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLA-N). Desde o reatamento da guerra, em Junho de 2011, que as escolas funcionam com professores voluntários. São apoiados apenas pelas famílias das crianças, que com eles partilham um pouco do produto das suas colheitas. As estruturas estão degradadas, muitos professores não têm a preparação adequada e faltam livros e material escolar. Autoridades locais e professores repetiram um sem-número de vezes que a sua grande prioridade é a educação das crianças.

Entramos e saímos da região por Yida, no Sul do Sudão, onde se encontra o maior campo de refugiados núbios, com mais de 75 mil pessoas registadas e mais alguns milhares não registados. Não fossem os oleados fornecidos pelo Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR), qualquer visitante seria levado a pensar tratar-se apenas de uma grande aldeia. A queixa mais ouvida no campo é a de que a ACNUR lhes está a negar o direito básico à educação, uma vez que recusam, tal como o Alto Comissariado desejaria, serem transferidos para o campo de Ajoung Thok. As razões que invocam : situa-se num lamaçal e não é seguro, devido à proximidade de uma guarnição militar sudanesa – o campo fica perto de uma parte da fronteira controlada pelo Governo de Cartum.

A situação da educação é, em síntese, a seguinte : as escolas que existem no campo foram feitas pela comunidade e funcionam em estruturas rudimentares (são cobertas por oleados e para sentar-se, além do chão, os alunos usam troncos de árvore e latas da ajuda alimentar); os professores são voluntários, em muitos casos com poucas habilitações, apoiados apenas pela comunidade; tal como nas montanhas, seguem o currículo queniano, mas faltam livros e outro material escolar (ou destinado à prática desportiva, necessária para manter a saúde física e mental das crianças, sujeitas a um quotidiano difícil).

Segundo os dados fornecidos pelos coordenadores escolares, estão a funcionar as seguintes escolas : oito primárias com 151 professores, de ambos os sexos, que têm a seu cargo 13 954 alunos; estimam que 9178 crianças não frequentem a escola; uma secundária, com 15 professores e 320 estudantes (102 meninas e 218 rapazes); 32 pré-primárias, com 202 orientadoras e 8751 crianças.

Os Nubas são um povo determinado, com uma forte identidade cultural e os esforços que tem vindo a fazer para proporcionar alguma educação são admiráveis. O objectivo é evitar que uma geração inteira de crianças cresça quase iletrada e os jovens se tornem adultos sem qualquer formação profissional. Há professores a regressarem do estrangeiro, onde poderiam ter um futuro melhor, para darem o seu contributo à comunidade a troco de comida.

Recordo esta situação cada vez que ouço falar de decisões para facilitar a vida dos estudantes – reduzir ao mínimo a avaliação «para não os discriminar» ou para os «passar ao colo», baixar as propinas ou dar de borla manuais escolares mesmo a quem tem mais posses (talvez para não comprometer a sua participação nos inúmeros festivais de Verão que estão à porta). Diz-se que esta geração é a mais bem preparada academicamente. Pode perguntar-se se é a mais bem preparada para enfrentar as dificuldades da vida. Porque em geral não há aprendizagem – nem saber de experiência feito – sem esforço e sem luta.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


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