*Artigo
de Missão Fen Xiang
‘Quando Wu Wen De,
católico chinês, portador de deficiência, sacrificou a sua vida para defender
uma menina de um ladrão, os católicos seus conterrâneos reconheceram nele um
autêntico testemunho de fé : seguiu o exemplo de Jesus Cristo que deu a sua
vida por amor ao próximo. E o seu gesto trouxe para a praça pública a situação
das pessoas com deficiência na China. O episódio remonta a Maio de 2011. Na
pequena cidade de Gaio Cheng, o grito desesperado por socorro de uma menina
parecia não quebrar a rotina dos transeuntes, que passavam a pé ou de carro.
Ninguém parou para ajudar a rapariga que resistia a um ladrão.
Wu Wen De, que limpava
a chaminé de uma fábrica de ferro nas proximidades, ouviu os gritos e correu
imediatamente para o lugar onde o roubo estava a acontecer. Apesar de ser
portador de deficiência desde o nascimento, devido a poliomielite, não hesitou
em enfrentar o ladrão. Este, porém, enfurecido, esfaqueou-o onze vezes e Wu Wen
De morreu já no hospital.
No seu funeral,
estava presente não só toda a comunidade católica, mas também outras pessoas da
cidade, além de autoridades municipais e provinciais. Wu foi oficialmente
louvado e nomeado «herói da justiça e da
coragem».
A religião e as
pessoas com deficiência
O Confucionismo vê
o corpo como parte de uma cadeia que liga o indivíduo aos seus antepassados e
que transmite aos seus descendentes. Nesta visão, algumas pessoas podem culpar
faltas nas práticas médicas e superstições para um corpo deformado.
Nas tradições
budistas, a deficiência é um castigo pelos pecados praticados numa vida
anterior. A perfeição física do corpo de um Buda reflete a excelência do seu
espírito.
A Igreja Católica
na China tem uma longa história ao serviço do povo chinês. As estatísticas do
Instituto Fé de Estudos Culturais até 2009 afirmam que a Igreja havia
estabelecido 220 clínicas, 11 hospitais, 81 lares para idosos, 44 creches, 22
casas ou centros de reabilitação para os bebês deficientes e serviam as vítimas
da doença de Hansen, bebês deficientes e abandonados.
As pessoas com
deficiência
Antes de 1980, as
pessoas portadoras de deficiência eram referidas em termos discriminatórios
como «coitadinhos», «deficientes», «inúteis». Atualmente, a expressão can ji ren («pessoas
portadoras de deficiência») é comumente utilizada pela população e em
documentos oficiais.
Os dados
disponíveis remontam a 1987, ao Primeiro Censo Nacional sobre Deficiência, e
referiam existirem mais de sessenta milhões de chineses portadores de algum
tipo de deficiência.
Seguiram-se
algumas iniciativas legislativas e, como resultado do trabalho de organizações
de apoio a deficientes, as condições de vida destas pessoas e as atitudes
sociais em relação a elas têm melhorado. No entanto, continuam a ser um grupo
vulnerável, encontrando dificuldades específicas numa sociedade orientada para
a economia e o mercado.
Do ponto de vista
jurídico, a China tem muitas leis destinadas a proteger as pessoas com
deficiência. O artigo 45.º da Constituição estabelece que «todos os cidadãos têm o direito […] à assistência material do Estado e
da sociedade, quando são velhos, doentes ou deficientes». E na Lei para a
Proteção das Pessoas com Deficiência, de 1991, as questões como a educação, a
reabilitação, a vida cultural, o bem-estar e o emprego são tratadas de forma
minuciosa.
Mudanças
Os Jogos
Paraolímpicos de Pequim de 2008 trouxeram uma mudança de atitude na forma como
a sociedade vê as pessoas com deficiência na China. Um manual bem-intencionado
lembrava aos voluntários para não olhar fixamente para os atletas, e que as
pessoas portadoras de deficiência física eram «muitas vezes mentalmente saudáveis». Não obstante, enquanto isso,
os mendigos – incluindo as pessoas com deficiência – foram retiradas das ruas
durante os jogos para não manchar o rosto da capital. E, quando a febre
olímpica acabou, a vida das pessoas com deficiência continuou o seu penoso
caminho de marginalização.
O presidente, Xi
Jinping, no Governo desde 2013, tem demonstrado a sua preocupação com a
situação. Em Março de 2015, numa cerimônia realizada no Grande Salão do Povo,
saudou de uma maneira particular as pessoas com deficiência do país e pediu
maiores esforços para melhorar as suas vidas. Da mesma forma, a primeira-dama
tem apelado para uma sociedade mais justa e tolerante para com as pessoas com
deficiência.
No entanto, na
vida real, ainda há um longo caminho a percorrer antes que essas leis e boas
intenções sejam plenamente aplicadas, especialmente nas zonas rurais, onde as
pessoas com deficiência sofrem mais. De acordo com funcionários de várias ONG, as pessoas com deficiência são mantidas longe da vista e
encurraladas no medo, especialmente as crianças. Às vezes os adultos com
deficiência são escravizados, como demonstrado quando dezenas de pessoas foram
resgatadas de trabalho forçado em fábricas de tijolos na China Ocidental.
Igualdade de
direitos e igualdade de oportunidades para a população com deficiência é um
imperativo humano. As dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam
quando procuram trabalho resultam, em parte, da sua falta de habilitações, por
não terem podido frequentar o ensino. Para que as pessoas com deficiência sejam
verdadeiramente integradas na sociedade chinesa, será necessário exigir um
esforço concentrado tanto de pessoas com deficiência como sem deficiência.’
Números :
60 milhões : o
número de chineses portadores de deficiência, segundo dados oficiais (5 % da
população total)
20 milhões :
deficiências de audição
11 milhões : deficiências
intelectuais
8 milhões :
deficiências físicas
8 milhões :
deficiências psiquiátricas
11 milhões :
deficiências várias
Fonte :
* Artigo na íntegra
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