terça-feira, 17 de maio de 2016

Virgem de Madhu, conselheira da paz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Fernando Félix, 
Jornalista


Todos os anos, centenas de milhares de cingaleses vão em peregrinação ao santuário mariano de Madhu, o templo católico mais importante do Sri Lanka. Ali vão católicos, hindus e muçulmanos, porque é símbolo da paz nacional e pessoal reconquistadas.


‘Quando, em 2015, o Papa Francisco peregrinou ao santuário mariano de Madhu, no Sri Lanka, sublinhou que Nossa Senhora do Bom Conselho ali venerada guia o país para a reconciliação total. Durante a celebração rezou-se uma oração em várias línguas pedindo a consolidação da paz, por intercessão da Mãe que ali e desde ali tem sido companheira das famílias perseguidas por questões religiosas e afligidas pela guerra civil.


Nossa Senhora companheira na perseguição

O Santuário de Nossa Senhora de Madhu está situado na cidade de Madhu, que fica a 250 quilômetros ao norte da capital, Colombo. A região é habitada sobretudo pelo povo tâmil. O santuário faz parte da diocese de Mannar, formada por 34 paróquias servidas por 55 sacerdotes.

As origens do Santuário de Nossa Senhora de Madhu remontam a 1544. Nesse ano, o rei Jaffna mandou massacrar 600 cristãos de Mannar. Eram o fruto da ação evangelizadora dos portugueses chegados, em 1505, à ilha de Ceilão (assim se chamava, na época, o Sri Lanka). O monarca temia a expansão da influência portuguesa. Os fiéis que conseguiram escapar à chacina erigiram no mato nas proximidades de Madhu um pequeno lugar de oração. Ali erigiram a estátua de Nossa Senhora do Bom Conselho.

Em 1583, os cristãos sofreram nova perseguição. Os que se puderam proteger da fúria construíram uma igreja em Mantai, na península de Jaffna, que foi casa da estátua de Nossa Senhora de Madhu até meados do século XVII.

Em 1656, os holandeses calvinistas que desembarcaram em Ceilão aliados ao monarca, empreenderam uma violenta perseguição aos católicos. Durante catorze anos, trinta famílias católicas foram de aldeia em aldeia à procura de refúgio, levando consigo a estátua de Nossa Senhora e, em 1670, estabeleceram-na, definitivamente, em Maruthamadhu, no lugar onde se ergue atualmente o santuário. Outros católicos juntaram-se às vinte famílias. Entre eles havia uma mulher portuguesa, chamada Helena, que providenciou a construção da primeira igreja dedicada a Nossa Senhora de Madhu no interior da selva. A partir de então, difundiu-se por toda a ilha a fama de Nossa Senhora de Madhu, como curadora e protetora, em particular das mordeduras de serpentes.

A chegada ao Ceilão, em 1687, de S. José Vaz, sacerdote nascido em Goa, então território português, fez com que o catolicismo reflorescesse. E Madhu tornou-se, em 1706, um centro missionário.

Em 1872 – mais de trezentos anos depois da chacina dos primeiros cristãos de Madhu – foi colocada a primeira pedra da atual igreja do santuário. O local tornou-se lugar de oração respeitado e frequentado por fiéis católicos e também de outras religiões do Sri Lanka, prestando respeitosos tributos à Mãe Maria. O Vaticano reconheceu o seu valor e, em 1924, a estátua da Virgem de Madhu foi coroada pelo legado pontifício em nome do Papa Pio XI e, em 1944, a igreja foi consagrada.


Nossa Senhora refúgio na guerra

Durante a guerra civil do Sri Lanka – de 1983 a 2009 –, a zona do santuário não foi poupada aos combates entre os rebeldes tâmiles e as forças governamentais. Mas os bispos do país conseguiram fazer de Madhu uma zona desmilitarizada, garantindo a segurança dos peregrinos e dos numerosos refugiados que acorreram a essa área, fugindo da guerra. Com efeito, a partir de 1990, os 160 hectares dos terrenos do santuário acolheram milhares de deslocados, convertendo-se em campo de refugiados, reconhecido como tal pelas partes em conflito. No entanto, isso não impediu os massacres ocorridos ali, como o de Novembro de 1999.

Ao longo de 2001, a imagem de Nossa Senhora de Madhu foi levada em peregrinação a todos os cantos do país. Foi uma peregrinação penitencial. Três anos depois, começaram as negociações de paz que se concluíram em 2009, com a paz definitiva. Por isso, os Cingaleses vêem em Nossa Senhora de Madhu um símbolo de paz.


As peregrinações

A festa oficial de Nossa Senhora de Madhu é a 2 de Julho. Todavia, a celebração que atrai mais multidões é a Festa da Assunção a 15 de Agosto. Nesta data, a imagem é levada em procissão. E nesta prática evoca-se uma crença nascida durante a guerra civil. Dizia o povo que se a coroa de Nossa Senhora de Madhu caísse durante a procissão, isso significaria que a luta iria continuar.

Há uma série de outras lendas associadas ao santuário de Madhu, sobretudo relacionadas com as serpentes. Diz-se que, quando S. José Vaz chegou a Madhu, as cobras fugiram da área, retornando somente quando Nossa Senhora foi levada para longe, por razões de segurança, durante a guerra civil. E que, quando Nossa Senhora de Madhu regressou, as cobras foram expulsas mais uma vez.

Na entrada da igreja, num grande letreiro está escrito «ave-maria» em português, cingalês e tâmil. No espaço circundante da igreja existe uma via-sacra.

No interior da igreja, os peregrinos, de pé ou de joelhos, aproximam-se de Nossa Senhora, apresentam-lhe as suas intenções e oferecem-lhe flores – uma prática também característica do culto em templos budistas e hindus.

No piso abre-se um poço no local onde S. José Vaz celebrou missa. São-lhe atribuídas propriedades curativas, e as suas águas são usadas, principalmente, como antídoto para as mordeduras de serpentes. Outras tradições relacionadas com o terreno do santuário de Madhu são misturar porções do solo com o cimento das fundações das casas católicas, ou dissolver terra na água que os peregrinos tomam.

Ao longo do ano, os peregrinos vão, habitualmente, por vários dias, e ficam hospedados em albergues especialmente reservados para eles. Nas peregrinações, o álcool é proibido, assim como as danças e qualquer tipo de convívio popular. Os peregrinos costumam adquirir medalhas, escapulários e imagens de Nossa Senhora de Madhu, que um padre abençoa.’


Fonte :
* Artigo na íntegra

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